A Liga Nacional de Beisebol (ou MLB) quer jogar bola, jogos de exibição ou mesmo jogos regulares da temporada, na Europa. No entanto, o estádio que a Liga tem em mente para os possíveis jogos não está localizado em grandes centros de esporte, como em Londres com o Estádio de Wembley, ou em Paris, com o Stade de France, mas sim, nesta cidade holandesa de porte médio em uma terra que, há 150 anos, estava submersa.
O beisebol está ganhando popularidade na Holanda, mas a cidade de Hoofddorp, com uma população de cerca de 73 mil habitantes a sudoeste de Amsterdam, descobriu que importar a MLB tem o mesmo charme de um atraso de três horas devido à chuva.
Hoofddorp está trabalhando duro em um projeto de US$ 15 milhões, que inclui um modesto estádio, capaz de se expandir temporariamente para comportar 30 mil pessoas, e cinco diamantes para serem usados pelo time local, o Hoofddorp Pioniers. Quando os estádios estiverem prontos, em algum momento até o próximo semestre, os Pioniers começarão a jogar aqui. Todavia, a cidade descobriu que deixar o campo aceitável para as grandes ligas é uma tremenda dor de cabeça nacional.
- Eu preciso ouvir do clube o que eles querem. Eu preciso ouvir da Liga Nacional de Beisebol o que eles querem, e preciso ouvir meu bolso - disse Maarten Broersen, o energético diretor de projetos e um fã ávido de beisebol.
- Às vezes, preciso fazer um sacrifício - ele disse.
Os vestiários, por exemplo. A MLB insistiu que fossem 400 metros quadrados por time.
- Para o uso diário, qual a necessidade disso? Ou os chuveiros: eu não preciso de uma sala de banho com 10 ou 12 chuveiros, mas a MLB disse: 'Eu quero' - disse Broersen, caminhando pela área da construção, com o capacete balançando na cabeça.
- Então, vou deixar de lado o vaso sanitário com descarga automática para poder ter os chuveiros - disse ele com irritação na voz.
Tal comprometimento deu uma boa guinada no projeto, mas não sem algumas decisões bizarras.
A Liga Nacional de Beisebol mandou alguns dos melhores consultores para garantir que o estádio siga todas as especificações. Para o morro do arremessador e o círculo do rebatedor, por exemplo, a liga insistiu em uma mistura especial de argila, silte e cascalho, comum em estádios dos Estados Unidos (o Fenway Park parece ter servido como modelo), mas a mistura não foi encontrada na Europa.
Por isso, os holandeses, não sem algum resmungo, importaram 200 toneladas dela do estado de Virgínia, e os consultores da MLB a instalaram. Autoridades holandesas da alfândega no Aeroporto Schiphol, em Amsterdam, totalmente perplexos com um carregamento com tudo isso de argila, acompanharam os caminhões até a construção, aparentemente para certificar-se de que nada mais foi escondido dentro das sacolas de plástico limpas.
Sobre a questão menos controversa da grama no campo, ambos os lados aceitaram uma solução local. A Liga queria um tipo de grama chamado poa pratensis, comum em estádios americanos. Embora os holandeses não sejam jardineiros amadores nem de longe - as empresas holandesas são responsáveis pela grama nos principais estádios de futebol da Europa - apenas depois de muita procura, Murray Cook, consultor de campo oficial da MLB, aceitou uma mistura de sementes locais.
- Estamos usando sementes do tipo poa pratensis. É um tipo de grama local que utiliza sementes holandesas. Afinal de contas, eles precisam conservá-la - disse Cook, presidente da Sports Turf Services, em uma entrevista por telefone.
Cook estabeleceu os padrões holandeses para o design do sistema de drenagem, crucial em qualquer estádio mas, especialmente, para um cujo campo está a quase 7,6 metros abaixo do nível do mar.
- Com certeza eles sabem como mexer com a água - disse ele.
A ideia de atrair a MLB para a Holanda foi idealizada cinco anos atrás, quando foi informado ao Pioniers que ele teria que abandonar seus antigos campos, em uma parte de Hoofddorp reservada para desenvolvimento residencial. Juntos, a cidade e o time decidiram que novos campos de beisebol deveriam ser construídos para atender às especificações da Liga Nacional, com o objetivo de sediar jogos de exibição ou mesmo jogos da temporada regular.
As autoridades da MLB ficaram felizes em assinar.
- Eles tiveram muito sucesso nos últimos anos - disse Paul Archey, vice-presidente sênior de operações de negócio, que visitou Hoofddorp no final de agosto, promovendo o beisebol.
Ele citou vitórias recentes em competições internacionais, derrotando times de países com forte tradição no beisebol, como a República Dominicana e Cuba.
- Isso mostra a força do jogo. Há muito apoio para o beisebol - disse ele.
Os holandeses, naturalmente, estão esperando por uma presença marcante da Liga, com algumas pessoas sugerindo um jogo de exibição em 2014, e jogos da temporada regular no ano seguinte. Entretanto, Archey disse que demoraria um tempo antes que os times da Liga Nacional começassem as excursões pela Europa.
- Isso é bem prematuro. Certamente, nós queremos jogar na Europa; Estou otimista. E essa instalação tem capacidade de acomodar um jogo da Liga Nacional - disse ele.
Ainda assim, a Holanda, ele continuou, pode ser apenas o primeiro de muitos espaços europeus.
De modo geral, os holandeses se curvaram diante das exigências da Liga.
- O padrão é muito alto. Ou é o dugout, ou a grama; ou o campo interno, ou a argila - disse Robert Eenhoorn, de 45 anos, uma autoridade no beisebol e ex-defensor interno de vários times na liga principal, incluindo o New York Yankees e o Los Angeles Angels of Anaheim.
- Não é segredo que a MLB gosta de jogar em outras partes do mundo - disse ele.
- Há ótimos lugares na Europa, mas agora, nenhum tem a oportunidade e a qualidade que nós temos - continuou ele.
Para os políticos de Hoofddorp, a esperança é que os eventos esportivos como os jogos da Liga Nacional ajudem a recuperar, ao menos, uma parte do que é um enorme investimento para uma comunidade do tamanho dessa. Quando a Liga Nacional de Futebol Americano joga uma partida da temporada regular todos os anos no Estádio de Wembley, fãs de futebol americano de toda a Europa viajam para comparecer ao evento.
Nem todo mundo na cidade enxerga o pote de ouro no fim do túnel.
- É muito dinheiro. E nós estamos pagando por isso. Esse é o problema - disse Dennis Bontam, de 26 anos, vendedor em uma loja de roupas.
Algumas quadras dali, na grande loja de quatro andares, a Intersport Duo, Mark van den Berg, de 33 anos, vende artigos esportivos há 15 anos, embora apenas nas últimas duas temporadas tenha vendido luvas, tacos e bolas de beisebol.
As vendas "não estão muito boas", ele confessou, em uma terra onde o futebol domina a indústria do esporte.
Será que um jogo de beisebol da Liga Nacional, no novo estádio, levará a uma busca por equipamentos de beisebol?
- Esse é o principal motivo de termos os apresentado - disse ele com um sorriso.