A Agência Mundial Antidoping (AMA) anunciou nesta terça-feira a retirada do credenciamento do Ladetec, o laboratório especializado do Rio de Janeiro, por considerar que não satisfaz aos seus padrões de qualidade, a menos de um ano da Copa do Mundo e a três dos Jogos Olímpicos.
O comitê executivo da AMA decidiu revogar o credenciamento do laboratório brasileiro, que já estava suspenso desde o dia 8 de agosto.
- Esta revogação, que entrará em vigor em 25 de setembro, significa que o laboratório do Rio - cujas atividades estão suspensas - não será mais autorizado a realizar testes antidoping para a AMA ou para qualquer outra autoridade fiscalizadora - indicou a AMA em um comunicado.
Esta decisão representa um duro golpe para o Brasil, que organiza a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
O ministério dos Esportes enviou nota à AFP afirmando que "o governo federal tem demonstrado, em reiteradas ocasiões, seu compromisso com o combate à dopagem" e que em 2011 "criou a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), que está realizando um amplo programa de educação e prevenção ao doping", cuja meta é "chegar aos Jogos Olímpicos de 2016 sem casos positivos entre atletas brasileiros".
Os ministérios do Esporte e da Educação, num esforço conjunto, estão financiando a construção de um novo prédio para o Ladetec, medida que atende a uma das principais solicitações da Agência Mundial Antidopagem (AMA) - a de que o laboratório modernize suas instalações. Até o momento, o Ministério do Esporte repassou R$ 15,7 milhões à UFRJ, à qual o laboratório é vinculado, para obras e projetos de engenharia.
A nota esclarece que diante da decisão da AMA de revogar o credenciamento do Ladetec, o Ministério do Esporte e a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) "decidiram criar um grupo de trabalho para apoiar o laboratório no processo de correção dos problemas apontados e viabilizar a 'reacreditação'".
No dia 6 de setembro, o diretor executivo da ABCD, Marco Aurelio Klein, e o diretor do laboratório, Francisco Radler, participarão de reunião com a direção da AMA, no Canadá, para detalhar o processo de "fast track" (via rápida) mencionado pela entidade internacional para a reacreditação do Ladetec.
Segundo o doutor Alexandre Nunes, da Universidade do Rio Grande do Sul e coordenador do departamento antidoping do Mundial de Judô, disputado nesta semana no Rio de Janeiro, a "questão de credibilidade é muito séria".
- O Brasil precisa fazer os investimentos necessários em várias áreas. Se as coisas não andaram bem, não foi por falta de competência dos dirigentes, foi porque as coisas não andaram como eles queriam. Conheço muito bem o projeto, que teve início em 2007 e posso dizer que é um projeto de qualidade. Se isso aconteceu, não foi por falta de competência técnica, mas sim por falta de condições, porque as verbas previstas para os projetos dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo ainda não chegaram - acrescentou.
- O problema é que o laboratório vem sofrendo com entraves financeiros e entraves burocráticos para a entrada e saída de substâncias do país. O Brasil tem muitos empecilhos através de vários órgãos e isso atrasa e encarece o processo de controles antidoping - alertou o médico, que salientou que o descredenciamento do Ladetech não afetará a realização do Mundial de Judô.
A Agência, único organismo que pode conceder esse credenciamento, realiza com regularidade controles de qualidade em seus trinta laboratórios espalhados pelo mundo para garantir que não haja falsos resultados positivos e que seja informado corretamente em caso de resultados anormais.
O Ladetec já havia tido problemas em 2012. A AMA manteve o seu credenciamento suspenso por nove meses, o que o impedia de realizar alguns tipos de testes antidoping.
O laboratório do Rio ainda conta com a possibilidade de apelar dessa decisão ao Tribunal Arbitral do Esporte (TAS). Caso tenha seu descredenciamento confirmado, terá que apresentar uma nova candidatura para obter um novo credenciamento, tendo em vista os dois grandes eventos esportivos que serão realizados no país.