Aos 33 anos, Nilmar tenta provar a si próprio que segue condições de atuar em alto nível. Depois de passar pelo Al Nasr e viver um longo período sem jogar, o jogador vem trabalhando para tentar um espaço entre os titulares do Santos. Este, é apenas o primeiro momento da readaptação do atacante ao futebol brasileiro.
Depois, Nilmar não descarta novos passos. Por ainda se ver motivado e "muito bem na parte física", o atleta afirma que pode, até mesmo, ter uma quarta passagem pelo Inter. Confira na entrevista abaixo:
Que balanço você faz dessa volta ao futebol brasileiro e essas primeiras oportunidades pelo Santos?
Sem dúvida a felicidade é muito grande de poder voltar a jogar. Esse era o maior pensamento que eu tinha depois desse longo tempo parado. Foi um mês muito intenso de preparação aqui no Santos. Tive já a oportunidade de jogar alguns minutos, me senti bem e agora é só dar sequência e me condicionar melhor ainda para chegar no nível que eu posso atingir.
Em quanto tempo você acha que estará 100% e como projeta a briga por posição com o Ricardo Oliveira e o Kayke?
A concorrência é boa para o clube. Acho que, em todo clube que eu passei, sempre tive grandes jogadores no ataque. No Santos, não é diferente. O Ricardo Oliveira dispensa comentários pela história que tem. É um jogador que, pela idade, está rendendo muito bem até hoje. O próprio Kayke está muito bem. Vai ser uma briga sadia e só o Santos tem a ganhar. Espero entrar bem nesta concorrência e, é aquela coisa, o melhor vai ser escalado pelo treinador. Vai depender dos treinamentos. Estou já me sentindo bem melhor depois desse mês de preparação. A hora que tiver oportunidade é procurar aproveitar e buscar o meu espaço para merecer dentro de campo. Não tem como jogar só com o nome hoje em dia. A gente tem que trabalhar para buscar o espaço e merecer estar ali para jogar e ajudar o Santos.
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Você já fez grandes duplas de ataque na carreira, com atletas como Tevez e Taison. Como seria uma dupla de ataque Nilmar e Ricardo Oliveira?
Já tive grandes parceiros de ataque e sempre acabou dando certo. Claro que, pelas minha características, também não sou jogador de ficar lá na frente parado, sou mais de movimentação. Se treinar e o Levir optar por esta escalação, será importante para mim, porque eu gosto de jogar sempre com grandes jogadores na frente. Tanto o Ricardo quanto o Kayke têm qualidade para jogar ali.
Você prefere hoje jogar como atacante de lado ou centralizado?
Na verdade, eu sempre joguei muito em um esquema com dois atacantes. E hoje em dia a maioria dos times estão jogando com dois pontas e um número 9 lá na frente. Mudou bastante ultimamente. Mas eu particularmente sempre gostei de jogar com dois atacantes. Hoje em dia está difícil de jogar assim. Eu gosto muito de jogar pelos lados porque você participa mais do jogo. Como um 9 lá na frente você tem que ser um homem de referência e tem jogos em que você acaba participando pouco. Apesar de estar próximo do gol, tem jogos que você toca menos na bola. Mas vai depender da opção do treinador. Eu venho treinando aqui nestas duas funções. Vamos ver o que o Levir vai optar.
Verdade, hoje em dia os técnicos usam muito os esquemas 4-2-3-1 e 4-1-4-1, com só um atacante de área e os dois pontas bem mais abertos...
Bem abertos e que tem que ajudar muito na marcação também, né? Tem que estar bem preparado. Hoje o ponta tem que acompanhar o lateral até o fundo e tem que ter força para atacar também. Isso é importante. Quando você joga com três volantes, tem um pouco mais de liberdade, mas, quando tem dois volantes, como é o caso aqui do Santos, os pontas têm que trabalhar muito acompanhando o lateral adversário.
Você está com 33 anos. É possível ainda esperar de você o mesmo alto nível das grandes atuações pelo Inter e o futebol que te levou a jogar uma Copa do Mundo, em 2010, pela Seleção?
Aceitei este desafio de vir para o Santos com esse objetivo, com o pensamento de provar, não para ninguém, mas para mim mesmo, que eu ainda posso render. Claro que não sou o mesmo de 10 anos atrás, porque é diferente. Com 33 anos, você ganha algumas coisas e perde em outras. Tem que ser maduro o suficiente para saber o que é meu ponto forte, o que eu sei que posso render e tal. Mas meu pensamento é de aproveitar o máximo possível agora no Santos, de me condicionar bem para poder estar com um físico bom e aguentar esta pegada que é o futebol brasileiro, de jogar quarta e domingo, esse nível alto que tem, para chegar o mais próximo possível do que eu já rendi no meu melhor momento. Esse é o pensamento. Ainda é possível, mas requer muita dedicação. O legal é que eu estou bastante motivado para poder voltar. Nesse tempo que eu fiquei sem jogar, pensei e repensei muitas coisas da minha carreira. O que eu sei fazer é jogar futebol. Então, acho que o objetivo hoje é voltar a jogar e, como eu sempre joguei em alto nível, poder recuperar essas condições.
Depois de tanto tempo no mundo árabe, a ideia agora é se firmar de vez no futebol brasileiro? E por que a opção pelo Santos?
O Santos foi uma possibilidade que apareceu depois de todo problema que eu tive nessa última temporada com os árabes na parte contratual. Os árabes acabaram não querendo cumprir o que tinha no contrato e eu acabei ficando inscrito na competição e fiquei um ano somente treinando. Eu não estava parado por lesão nem nada, mas só fazia treinamentos e o nível de treinamento lá não é o mesmo do Brasil. Então eu perdi muito esta parte profissional, mas aqui no Santos acredito que estou conseguindo recuperar esse tempo perdido e espero poder estar o mais rápido possível em condições.
O Santos tem a dura missão, assim como o Grêmio, de perseguir o Corinthians no Brasileirão e, ao mesmo tempo, tem um confronto difícil pela frente com o Barcelona, de Guayaquil, pela Libertadores. Como a equipe vai administrar as duas competições?
Acho que o Santos tem um elenco muito grande. Não tem como você... Claro que prevalece uma competição, pelo fato de o time estar na quartas de final da Libertadores agora, que é uma competição que o clube sonha em conquistar o tetracampeonato e vem em condições, apesar de ter um jogo difícil agora... Mas também tem o Campeonato Brasileiro. Por mais que o Corinthians tenha esta diferença toda, ainda a gente pode ver que tem muito jogo e tudo pode acontecer. O Corinthians pode pegar uma sequência ruim e as equipes que estão ali atrás podem ter uma sequência boa para poder encostar e fazer o campeonato ter mais expectativa. Até agora, todos falam que o Corinthians vai ganhar, mas como a gente está no futebol há muitos anos, sabemos que tudo pode acontecer. O Santos está preparado para encarar essas duas competições e tem elenco para isso.
Na sua última passagem pelo Inter, em 2015, você foi campeão gaúcho. Na temporada seguinte, o time foi rebaixado. Como você reagiu à queda para a Série B?
Foi muito triste. Eu fui criado no Inter, tive três passagens no clube, o relacionamento que tenho com o pessoal do Inter eu não tive em nenhum clube onde eu joguei. Foi muito triste saber pelas pessoas que estão em volta, não somente os jogadores, mas também as pessoas que fazem o trabalho por fora e que dependem do Inter. Muita gente sofreu e sofre até hoje. Claro que já passou um tempo, mas é triste para o futebol um clube do tamanho do Inter, com a estrutura que tem e com o que proporciona para o atleta... A gente vê que não é o lugar dele. Clubes como o Inter tem que permanecer na Primeira. Mas uma má gestão ou um mau momento... Acabou acontecendo que o clube caiu para a Segunda Divisão. Espero que o clube possa ter aprendido com os erros. Como a gente diz no futebol, às vezes quando você perde aprende mais do que quando você ganha. A gente está vendo agora essa reação e estou na torcida para que volte ano que vem.
Acredita que o momento ruim já passou e agora o Inter vai com tranquilidade rumo à Série A?
Sem dúvida. É muito difícil, porque a gente está de fora e acha que clube grande vai prevalecer na Segunda Divisão, mas o início é sempre complicado, porque é diferente. Todo time que for jogar contra o favorito da Série B dificulta o jogo. Então, para o Inter, todo jogo é uma pedreira. Acompanhei o início, vi a dificuldade que estava sendo para conseguir o resultado, jogar contra times que jogam muito atrás e dificultam o jogo, além de campos que não são do mesmo nível da Primeira Divisão. Então às vezes também os atletas demoram um tempo para entender como é saber jogar a Segunda Divisão, que quem já jogou sempre diz que é diferente. Mas acredito que agora está no caminho certo, tem tudo pra subir e a gente está na torcida aqui.
Em algum momento o Inter te procurou para jogar a Série B ou em algum momento isso foi cogitado por ti?
Não, não teve em nenhum momento, até porque eu estava naquela situação de ter o contrato ainda vinculado com o pessoal da Arábia e estava havia um ano sem jogar. Então, não tinha esse pensamento de me contratarem ou até eu mesmo... Claro que eu já pensei em poder retornar e tal, mas em nenhum momento teve uma conversa. Mais aquela coisa de poder querer ajudar, mas no momento que eu estava, sem jogar há um ano, eu precisava de um trabalho mais específico, e o Inter também precisava de um jogador imediato, para poder chegar jogando. Então, acabou não tendo nenhuma conversa nesse aspecto não.
Qual das suas três passagens pelo Inter foi a melhor?
Acho que o ano de 2008, pelo elenco e o time que a gente tinha. Claro que eu tenho um carinho muito grande por ter iniciado em 2003 pelo Inter, mas foi bem diferente o Inter de 2003 para o 2008. Até depois do Mundial o crescimento que o Inter teve em qualidade de elenco. Então, 2008 e 2009, para mim, foram os anos onde acredito que rendi mais. E nessa última passagem (em 2015) sofri um pouco pela questão de estar voltando do mundo árabe, demorei um tempo para entrar em forma e logo tive algumas pequenas lesões que acabaram não me dando sequência. Mesmo assim, conseguimos ganhar o Campeonato Gaúcho, consegui fazer gol na final. É até interessante que, nas cinco finais que eu joguei em Campeonato Gaúcho, eu fiz gols nas cinco finais. E fiz na final da Sul-Americana também. Fico feliz de ter feito parte desta história do Inter. É um clube que eu levo para sempre e tenho um carinho enorme. A minha família toda também.
Você foi negociado pelo Inter três vezes. Você não poderia ter ficado mais tempo no clube?
Eu acredito que foram momentos diferentes. Na verdade, a minha primeira saída do Inter foi em um momento em que o clube precisava vender e que eu era muito jovem, então pintou uma oferta muito boa para o clube (do Lyon) e para mim também. Com 19 anos, ir para França era a minha independência financeira. Foi tudo em comum acordo. Na segunda passagem, foi a mesma coisa. Eu estava rendendo muito bem. No Brasil, quando um jovem atacante se destaca, chega um momento em que tem que vender, porque tem que abrir espaço para o garoto que está surgindo. Também é difícil a gente ver hoje no futebol um atacante ficar 10 anos em um clube, como o Rogério Ceni. Isso é mais para posições onde o pessoal de fora não leva tanto.
Fazendo uma avaliação da forma como você construiu a sua carreira, você entende que as idas para o mundo árabe valeram a pena?
Eu não me arrependo de ter ido para o mundo árabe, porque foi uma decisão consciente já, madura, em uma idade já bastante avançada. Foi uma decisão que teve o lado bom e também teve o lado ruim, que eu já sabia também. Mas eu costumo dizer que, na minha carreira, o cavalo passou e eu montei, nunca deixe para depois. Claro que eu escuto muita gente falar que eu poderia ter jogado mais tempo na Seleção ou também poderia ter jogado em clubes maiores da Europa, talvez se eu esperasse alguma situação melhor. Mas as oportunidades apareceram e eu acabei agarrando e não me arrependo.
Como você acompanha a especulação frequente em toda janela de que você pode retornar ao Inter?
Sou bastante vinculado ao Inter, até pela minha família ter se criado aí e pelo vínculo que eu tenho com o clube. Fico feliz em fazer parte da história colorada. Claro que estou já no final da minha carreira, e as possibilidades são menores do que antes. Mas sem dúvida esta notícia sempre pintou pelo fato de que, se eu fosse jogar no futebol brasileiro novamente, sem dúvida nenhuma seria o Inter o clube onde eu gostaria de jogar e sempre foi assim.
E você pretende ainda voltar ao Inter?
Eu, para ser sincero, agora estou focado aqui (no Santos) em poder voltar a jogar futebol. Acho que o meu maior pensamento é esse. Depois, se eu estiver em boas condições e tiver alguma possibilidade, sem dúvida nenhuma é um clube que eu tenho um carinho enorme e, se eu tiver esta possibilidade, eu iria com maior prazer.
Você planeja jogar futebol até quando?
Estou com 33 anos. Tenho mais um ano e meio de contrato com o Santos, até o fim da temporada que vem, e é difícil prever o tempo. Claro que quero jogar até quando eu tiver rendendo e tendo condições de render em alto nível. Tenho que ter consciência de saber o momento de parar. Mas eu me vejo muito bem na parte física, estou me dedicando bastante. Acredito que tenho mais uns anos aí pela frente.
*RÁDIO GAÚCHA