Perdemos. Em uma derrota histórica, o Brasil levou 1 a 0 de Camarões e viu sua campanha ser carimbada no Lusail. Vamos para as oitavas como primeiros do grupo, pegaremos uma Coreia do Sul frágil. Eu sei, era jogo com reservas, para cumprir tabela. Mas é duro perder. No outro jogo do Grupo G, a Suíça venceu por 3 a 2 e garantiu vaga para encarar Portugal.
Os camaroneses sabiam que a missão deles estava mais tranquila. Afinal, Tite havia decidido descansar os titulares. O que os africanos não imaginavam é que nosso segundo quadro tem qualidade também. Até demais. O exagero nas firulas e o preciosismo nos atrapalharam bastante. Mesmo assim, não podemos desconsiderar a qualidade de um Ederson no gol, um Militão, na zaga, e um Fabinho, no meio.
São um luxo com o qual qualquer técnico sonha. Na frente, havia uma gurizada atentada, como se dizia lá em casa, na infância. Rodrygo parece jogador de videogame. Pega a bola, cola no pé e acelera em ziguezague. Gabriel Martinelli tem um foguete nos calcanhares.
Recebe a bola no flanco esquerdo e vai driblando para dentro à espera do enquadramento para o chute. Que jogador o Arsenal veio buscar em Itu, mostrando que, para esses clubes europeus, o mundo não poderia ter nascido em Itu, de tão pequeno que ficou.
No geral, foi um bom primeiro tempo da Seleção. Antony havia começado arisco, passando a dribles por dentro do lateral Nouhou. Só que Rigobert Song colocou a cabeça com boné e rastafári para funcionar e dobrou a marcação ali.
Se duplicou a marcação ali, logicamente, faltou em algum outro lugar. E o Brasil encontrou esse espaço pelo meio e pela esquerda. Sempre em investidas de Rodrygo e Martinelli. Gabriel Jesus, apagado, pouco apareceu. Daniel Alves, atento e agressivo com a bola, e Fred, elétrico e buscando o jogo, compensavam.
As melhores chances vieram, mesmo com Rodrygo e Martinelli. Aos 13, Martinelli, livre, torneou cruzamento de Fred. Epassy, o goleiro que herdou a vaga do insatisfeito Onana, salvou. Aos 32, Rodrygo arrancou e pararia no gol nao fosse derrubado. Aliás, o guri provocou dois amarelos em três minutos. A falta, Daniel cobrou por cima. As 37, Martinelli armou, Fred acionou Antony, mas o chute saiu fraco. Teve ainda um lance de Martinelli arrancando para o meio e chutando por cima.
A essa altura, o torcedor já havia saído daquela calmaria. O fato de ser um time reserva e de a Seleção estar classificada parece ter tirado o ímpeto dos brasileiros nas cadeiras do Lusail. Eles assistiam sem torcer. Foi preciso que a câmera da Fifa focasse Neymar sentado atrás do banco para a massa se agitar.
Só depois disso e da ola no estádio é que Lusail ganhou energia de Copa. Até Camarões gostou. Tanto que, aos 47, Mbeuma cabeceou e obrigou Ederson a fazer defesa estilo Gordon Banks. Foi a primeira de um goleiro brasileiro na Copa. E a última do primeiro tempo.
O intervalo teve ares de casa noturna. O estádio ficou à meia-luz. A música entrou rasgando, com efeitos na iluminação. Quando tocou Blinding Lights, da banda canadense The Weeknd, a galera se soltou. Alguns até demais. O segundo tempo veio na hora certa. Só que com os camaroneses no ataque, bloqueando a saída da Seleção.
Aos cinco, Aboubakar girou na área e chutou com perigo. Em seguida, veio o susto com Alex Telles. Ele caiu depois de choque. Tite aproveitou para trocar. Bruno Guimarães, Marquinhos e Everton Ribeiro entraram.
A Seleção ficou mais agressiva. Aos 10, Martinelli chutou, e Epassy salvou. Aos 11, foi Antony. Aos 14, Bremer, em escanteio, dominou e chutou. Epassy se safou de um frango daqueles. Depois disso, o Brasil passou a ter controle sem ser agudo. Exagerou nos toques laterais, foi preciosista. Parecia buscar o gol do Fantástico de domingo, aquele que vira vinheta.
Camarões, pelo contrário, queria qualquer gol. Ederson salvou chute de Ntcham e viu outro de Aboubakar passar zunindo. Tite tentou mais força no ataque. Primeiro com Pedro, depois com Raphinha. Foi de Raphinha o lance de maior perigo na reta final.
Ele cruzou, Bruno se adiantou, mas bateu desviado. Depois, Pedro ainda tentou. Mas mandou lá no deserto. Parecia que a noite seria de 0 a 0. Só que esqueceram de combinar com Aboubakar. Em contraataque, aos 47, ele fez o 1 a 0. Acabou com nossa série invicta, com nosso gol intocado. Logo ele, que havia dito não temer o Brasil.
Assim, sextamos com derrota aqui em Doha. Fazer o quê?
COPA DO MUNDO (GRUPO G) — 3ª RODADA — 2/12/2022
CAMARÕES (1)
Epassy; Collins Fai, Wooh, Ebosse e Tolo; Anguissa, Kunde (Ntcham, 22'/2ºT) e Ngamaleu (Mbekeli, 40'/2ºT); Mbeumo (Toko Ekambi, 18'/2ºT), Aboubakar e Choupo-Moting. Técnico: Rigobert Song
BRASIL (0)
Ederson; Daniel Alves, Militão, Bremer e Alex Telles (Marquinhos, 9'/2ºT); Fabinho, Fred (Bruno Guimarães, 9'/2ºT) e Rodrygo (Everton Ribeiro, 9'/2ºT); Antony (Raphinha, 33'/2ºT), Gabriel Jesus (Pedro, 18'/2ºT) e Gabriel Martinelli. Técnico: Tite
GOL: Aboubakar (C), aos 46 minutos do 2º tempo
CARTÕES AMARELOS: Tolo, Kunde, Collins Fai (C); Militão e Bruno Guimarães (B)
CARTÃO VERMELHO: Aboubakar (C)
PÚBLICO: 85.986 pessoas
ARBITRAGEM: Ismail Elfath, auxiliado por Kyle Atkins e Corey Parker (trio norte-americano). VAR: Alejandro Hernandez (ESP)
LOCAL: Estádio Lusail, em Lusail