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×Boa parte desta obra teve a assinatura
Pelé-Coutinho. Centroavante técnico e forte ao mesmo tempo, Coutinho marcou 370 gols na carreira. Começou aos 15 anos no
Santos. Contam que, para jogar à noite, o clube tinha de pedir autorização aos pais do garoto.
Pelé pintou outra obra emoldurável ao driblar meio time do Fluminense, o Gol de Placa, em março de 1961.
A placa no Maracanã está lá, para sempre.
Pelé ganharia em 1962 a primeira Libertadores ao se encarregar de dois gols sobre o Peñarol em campo neutro no
Monumental de Nuñez, lotado de argentinos incrédulos. Apesar de tudo, ainda havia a necessidade de algo extraordinário
aos olhos europeus, algo que o elevasse acima de Di Stéfano e Puskas, as sumidades do Real Madrid, cinco vezes seguidas
campeão da Europa. E não era nem porque o brasileiro, lesionado, mal havia jogado no bi da Copa do Mundo, no Chile, em
junho de 1962.
Se os europeus queriam mais, então Pelé exagerou. Marcou três dos 5 a 2 do Santos no Benfica e conquistou o título do
Mundial de Clubes dentro do lotado Estádio da Luz, em Lisboa. Em um dos gols, o árbitro o cumprimentou. A multidão
invadiu o campo, queria tomar a força o uniforme de Pelé.
Esse atrevimento dos três gols derrubou qualquer dúvida sobre quem era o verdadeiro Rei do futebol.
Haveria mais. Na Libertadores do ano seguinte, Pelé destruiu o Boca Juniors na Bombonera, mesmo caçado, mesmo provocado
e chamado de macaquito pela torcida e pelos adversários em campo. Levantou o bi da América e depois o bi do Mundial de
Clubes sobre o poderoso Milan.
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×Pelé se hospedava em suíte para receber autoridades
A camisa branca, com o 10 às costas, virou ícone. Qualquer criança a identificava. Convertido no brasileiro mais
conhecido do mundo, a partir dos anos 1960, Pelé se hospedava nas viagens em suíte presidencial. Não que fosse exigência
sua. Era a única forma dele receber presidentes e autoridades interessados em conhecê-lo. E não havia ressentimento dos
outros jogadores, felizes por receber os "bichos" pelas vitórias que saíam dos pés do Rei. A História estava em
movimento e, para fazer parte dela, qualquer desconforto era válido.
— A gente ficava entre três ou quatro no mesmo apartamento, e ele lá, na suíte. Mas não tinha bronca — garantia
Pepe.
Não era fácil jogar ao lado de um gênio.
— Jogar com ele? Só com inteligência. A gente tinha de se ligar o tempo todo. Ele olhava para um lado e tocava para
outro. Corria com a bola e passava de calcanhar. Se você não estivesse atento, ainda levava bronca dele — conta o
ex-ponteiro do Santos.
O historiador Guilherme Guarche contava que, nas excursões, frequentemente Pelé precisava jogar meio tempo com a camisa
do time local. Por isso, ele marcou pelo menos três gols contra o próprio Santos, que não entraram na estatística
oficial por se tratarem de amistosos. A história registra um único gol frente ao time do coração. Foi em 1977, na
segunda despedida do futebol, já como jogador do Cosmos. Pelé jogou um tempo pelos americanos e outro pelo Santos. No
primeiro, pelo Cosmos, fez um gol de falta.
— Ele é o artilheiro máximo do campeonato paulista. Entre 1957 e 1974, foi goleador 11 vezes. Ninguém nunca irá quebrar
este recorde — aposta Guilherme Guarche.
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×Ídolo jogava e emprestava dinheiro para o Santos
O historiador tinha seis anos de idade quando sentou-se pela primeira vez nas arquibancadas da Vila Belmiro. Viu Pelé em
ação. Até 1974, quando o Rei se despediu, não perderia um jogo sequer.
Dezenas de jogos memoráveis se seguiram, como o dia em que Pelé marcou três gols nos 6 a 4 do Santos contra a seleção da
Tchecoslováquia em um torneio em Santiago do Chile. Foi chamado de "Jogo do Século". Ou o evento do milésimo gol no 2 a
1 sobre o Vasco, diante de 65 mil pessoas no Maracanã ávidas pelo acontecimento, esse sim, o Gol do Século.
Por ironia, seria em um pênalti. Depois de esculpir os gols mais sensacionais, às 23h19min do dia 19 de novembro de
1969, Pelé deparou à frente do Vasco. Deu uma paradinha e escolheu o canto direito de Andrada, que quase defendeu. Aí o
Rei beijou a bola e foi cercado dentro do gramado por jornalistas do mundo inteiro. Foi quando ele dedicou o feito às
crianças do Brasil.
A lenda já existia. Mas assumiu vulto planetário depois do Tri no México com a Seleção, em 1970. A TV, pela primeira
vez, espalhava sua fama ao mundo. Pelé se tornou uma instituição nacional. Dono do time e avalista do Santos. Fonte de
renda do clube, ao mesmo tempo jogava e emprestava dinheiro ao clube. Também cobrava duro os companheiros. Brigou com
Carlos Alberto Torres e Rildo. E bancou contratações do Santos, como a do centroavante Alcindo, do Grêmio.
Ainda assim, ele não queria se despedir do Santos e do futebol, como pensava. Na ida para o estádio no dia do jogo
final, contou sua indecisão ao jornalista José Maria de Aquino. Em 2 de outubro de 1974, aos 21 minutos do primeiro
tempo de Santos e Ponte Preta, na Vila Belmiro, Pelé parou o mundo. Ele se ajoelhou no centro do gramado, abriu os
braços, agradeceu à torcida e se despediu de 18 anos, seis meses e 26 dias do Santos.