No compasso da Bossa Nova, o fim da década de 1950 traduziu, no Brasil, o sonho de um país moderno – e, com ele, o ideal de emprego do século 20: industrial, urbano, estável e com carteira assinada. Sessenta anos depois, as certezas de outrora dão lugar a um futuro aberto. Atividades tradicionais perdem relevância, relações se flexibilizam e inovações tecnológicas operam nova – e irreversível – transformação na natureza do trabalho.
Robótica, inteligência artificial, big data, internet das coisas e nanotecnologia avançam. Não será neutro o resultado dessa revolução. Do Vale do Silício à Grande Porto Alegre, robôs já exercem funções humanas. O processo tende a se acentuar nos próximos anos, impondo desafios e oportunidades.
– O emprego não vai acabar. Vai mudar. O segredo para se adaptar é desenvolver novas habilidades. Aquela história de aprender um único ofício e fazer a mesma coisa pelo resto da vida acabou. Ficou no passado – resume o coordenador de Trabalho e Renda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Henrique Corseuil.
Nos anos 1950, esse era o desejo de muitos brasileiros, testemunhas do processo de industrialização que polvilhava de fábricas as grandes cidades. Turbinado pelo audacioso plano de metas do presidente Juscelino Kubitschek, o país se beneficiava do otimismo dos anos pós-guerra – não por acaso denominados “dourados”. A promessa dos “50 anos em cinco” da propaganda oficial materializava-se no vigor do setor automobilístico e na construção de Brasília. Os ramos metalmecânico, elétrico e de transportes deslanchavam.
Se havia demanda por braços, existia, também, a promessa de salvaguardas ao trabalhador. Desde 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) cimentava os direitos dos assalariados urbanos e fomentava o êxodo rural. Entre outros benefícios, a legislação assegurava estabilidade ao empregado do setor privado que completasse 10 anos em uma mesma companhia.
– As pessoas começavam a melhorar de vida, umas mais, outras menos, mas todas sentiam alguma melhora. A classe média passava a ter acesso a determinados bens de consumo, como geladeira, ventilador, carro, até então inacessíveis. Havia um sentimento de confiança. O mundo vivia uma era áurea, e o governo brasileiro soube aproveitar o momento – sintetiza Pedro Dutra Fonseca, professor de Economia Brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No início da década de 1960, o movimento operário daria mais um passo na conquista de vantagens históricas. Sob pressão, o então presidente João Goulart instituiu o 13º salário. À época, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) criticou a medida, sob a justificativa de que alimentaria a “fogueira da inflação”. O país atravessava grave crise política, que culminaria no golpe civil-militar de 1964.
Com Castello Branco no comando do Palácio do Planalto e a adoção de uma política de ajuste, a estabilidade no setor privado chegaria ao fim. Para compensar a perda, o governo lançou, em 1966, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A novidade deu origem à figura do “optante”.
Funcionava assim: o assalariado podia decidir entre ficar blindado com uma década de firma ou se credenciar para receber FGTS. Na prática, não havia escolha.
– Era um eufemismo. Apenas os optantes do FGTS acabavam contratados. Na época, essa mudança foi considerada uma flexibilização – relata Fonseca.
Além de abrir mão da imunidade, quem optasse pelo novo sistema perdia a indenização prevista em caso de demissão sem justa causa, de um salário por ano trabalhado.
– Foi um ato violento, sem dúvida, mas estamos falando de um mercado no qual a participação do setor formal era de, no máximo, um terço da força de trabalho. Entre meados dos anos 1960 e o final dos anos 1970, a formalização superou 50%. Ou seja: perdeu-se a estabilidade, mas a cobertura da CLT cresceu significativamente – pondera Claudio Dedecca, professor titular de Economia Social e do Trabalho da Unicamp.
Dali em diante, em meio à escalada autoritária dos anos de chumbo, o país ingressaria em mais um ciclo de prosperidade, conhecido como “milagre econômico brasileiro”. O fenômeno combinou extraordinário crescimento com inflação controlada e perdurou até 1973.
No rádio e na TV, a marchinha Pra Frente Brasil embalava a vitória brasileira na Copa de 1970 e vendia a ideia de uma nação predestinada a crescer. Ao mesmo tempo, ocultava os horrores da ditadura e a desigualdade social crescente.
A concentração de renda era atenuada pela grande oferta de vagas. Nas palavras do historiador Boris Fausto, os assalariados ganhavam individualmente menos, mas a redução era compensada à medida que mais membros de uma mesma família tinham acesso ao emprego.
No campo, a regulamentação do trabalho rural operou grande transformação. Com a medida, agricultores passaram a ter os mesmos direitos dos trabalhadores urbanos, cujo contingente crescia na proporção dos novos empreendimentos, de Norte a Sul.
Muitos desses projetos tiveram o Rio Grande do Sul como alvo. Foi o caso da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, e da Aços Finos Piratini, em Charqueadas, sem contar a instalação de fábricas de tratores e máquinas agrícolas e o avanço das lavouras de soja e de tabaco.
Em 1973, no auge da repressão, o então presidente Emílio Garrastazu Médici foi recebido no Estado para a inauguração de usinas hidrelétricas e da freeway. Segundo reportagem de ZH à época, 3 mil operários trabalharam na construção da rodovia, que facilitou o acesso à orla e, de quebra, possibilitou o surgimento de novos empregos no Litoral.
– Capão da Canoa, Tramandaí e outras praias passaram a atrair cada vez mais gente. Lembro que os estudantes da Engenharia Elétrica da UFRGS se formavam e eram contratados imediatamente para trabalhar na eletrificação do Litoral Norte. Era uma necessidade – conta Fonseca.
O período também seria marcado pelo lançamento do segundo Plano Nacional de Desenvolvimento, uma aposta do governo para fazer frente à instabilidade provocada pelo choque do petróleo, em 1973.
O plano incluía grandes obras, como a usina de Itaipu, na fronteira com o Paraguai, e o Polo Petroquímico de Triunfo.
A solução não surtiu o efeito esperado. Com o segundo colapso do petróleo, em 1979, a crise estourou de vez. Era o fim de uma era gloriosa para o Brasil e também para as grandes potências do mundo ocidental – simbolizado pela ascensão de Margaret Thatcher ao poder, no Reino Unido, com uma nova visão da máquina pública. A partir dali, Estado mínimo, livre mercado e globalização seriam temas recorrentes.
Por aqui, a inflação passava dos 100% em 1980, a dívida externa saía do controle e a recessão parava o país. Começava assim a “década perdida”, marcada pelo fantasma da hiperinflação e por uma circunstância até então inédita para os assalariados: a amarga experiência do desemprego em massa.
– Naquele momento, o país viveu a primeira crise do mercado formal de trabalho – destaca Dedecca.
Essa situação, aliada à corrosão salarial, deu lastro ao novo sindicalismo. Em 1979, estima-se que 3,2 milhões de trabalhadores entraram em greve no país, com os metalúrgicos do ABC paulista à frente, liderados por Luiz Inácio Lula da Silva. No Rio Grande do Sul, o movimento ecoou principalmente entre os bancários.
– Naquele momento, toda a discussão se concentrava nas perdas inflacionárias. Esse era o grande debate da época – diz o professor Marcelo Portugal, da Faculdade de Economia da UFRGS.
A inflação beirava os 200% quando José Sarney (PMDB) vestiu a faixa presidencial, em 1985. Aos poucos, a indústria começava a perder espaço para os serviços, e o Brasil assistia ao avanço da terceirização e da informalidade. Nos anos que se seguiram, uma sucessão de pacotes econômicos tentaria tirar o país do buraco. Todos, até 1994, como veremos a seguir, foram desastrosos.
Em 1987, a crise era tamanha que Sarney determinou a suspensão do pagamento dos juros da dívida externa por tempo indeterminado. A moratória era a confirmação cabal de que o Brasil havia, afinal, quebrado.
– Existia um sentimento de pessimismo diante de tudo aquilo, mas era diferente do que vivemos hoje. Naquela época, a desilusão em relação à economia era compensada por um grande otimismo em relação à política. Vivíamos o clima da redemocratização, da Assembleia Constituinte. No Rio Grande do Sul, já se falava na crise do Estado, mas muita gente acreditava que o voto mudaria tudo – afirma Fonseca.
A promulgação da Constituição de 1988 – batizada “cidadã” por Ulysses Guimarães – representou um marco na consolidação do processo democrático e na garantia de direitos, inclusive dos trabalhadores. A Carta Magna selou e universalizou prerrogativas como o aviso prévio, o seguro-desemprego, as licenças-maternidade e paternidade e o direito de greve.
– Também foi a primeira vez que se disse claramente que o salário mínimo era a base para todos – ressalta Dedecca.
Ao final daquele período, com a eleição de Fernando Collor de Mello, a inflação anual já passava dos 1.000%. Um dia depois de tomar posse na Presidência da República, em março de 1990, Collor e a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, apresentaram o Plano Brasil Novo. Para perplexidade geral da nação, a proposta incluía o confisco da poupança, até então intocável.
O resultado foi catastrófico. Em menos de um ano, o Brasil afundou em nova recessão, e a inflação superou a marca dos 1.600%. A barafunda econômica foi agravada pela tragédia política. Em 1992, Collor foi acusado de corrupção, renunciou ao cargo e teve o impeachment confirmado no Congresso.
Acostumada às vicissitudes da economia, aos pacotes-surpresa, aos congelamentos e às remarcações de preços, a população só viveria tempos de estabilidade a partir de 1994, no governo-tampão de Itamar Franco. À frente do Ministério da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso reuniu um grupo de economistas para conceber o Plano Real. Dessa vez, deu certo.
Isso não significa que os primeiros anos do plano tenham sido fáceis. Com a importação de produtos estrangeiros liberada e o real valorizado frente ao dólar, a indústria nacional, que já vinha perdendo participação no PIB, passou a enfrentar grande concorrência, em especial da Ásia. A partir dali, a desindustrialização ganharia velocidade.
– De 1996 a 1998, o salto no desemprego foi enorme, quase comparável ao que vivemos hoje. A indústria teve de lidar com uma competição muito acirrada, e o mercado de trabalho só foi se reorganizar por volta de 2000 – afirma Corseuil.
No Rio Grande do Sul, a situação provocou um baque no modelo exportador. Entre 1995 e 1999, a produção industrial local despencou 16,3%. Um dos setores mais atingidos foi o calçadista, que chegou a empregar 200 mil pessoas nos anos 1980. Os pedidos de falência se multiplicaram no Vale do Sinos, tanto quanto as demissões.
Mesmo assim, com a estabilidade econômica elevada a patrimônio nacional, Fernando Henrique foi eleito presidente em 1994, domou a inflação e foi reeleito em 1998. Foram anos de ajuste, que prepararam o Brasil para o novo ciclo de desenvolvimento prestes a se iniciar, conduzido por um torneiro-mecânico na Presidência.
Até o fim do primeiro mandato, Lula cumpriu à risca a promessa de conservar a política fiscal de FH, explicitada na célebre Carta aos Brasileiros – escrita sob medida para acalmar o mercado. De 2006 em diante, o petista manteve os pilares macroeconômicos do real, mas adotou uma política de viés desenvolvimentista. Um dos carros-chefes foi o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em 2007 com forte investimento público, voltado sobretudo para as áreas de energia e transportes. A manobra se refletiu na retomada do emprego.
– Houve uma melhora, sem dúvida, tanto que Lula sempre se gabou de ter criado milhares de postos de trabalho. Isso é inquestionável – atesta o economista Fernando Ferrari Filho, da UFRGS.
Os bons ventos da economia – que alçaram o Brasil à capa da revista britânica The Economist, com a sugestiva imagem do Cristo Redentor decolando – ajudaram Lula a eleger a sucessora, Dilma Rousseff. Mas os tempos de bonança duraram pouco.
Em 2013, a própria The Economist retomaria a alegoria do Cristo na capa, desta vez de ponta-cabeça, com a pergunta: Has Brazil blown it? (“O Brasil estragou tudo?”). A reportagem questionava a política econômica de Dilma, considerada excessivamente intervencionista e displicente do ponto de vista fiscal. Se a crise internacional de 2008 fora associada a “uma marolinha” por Lula, a versão 2015 assumiu a forma de um tsunami.
O Brasil mergulhou outra vez em recessão, com inflação a dois dígitos, taxa de desemprego nas alturas e rombo crescente nas contas públicas. O cenário tornou-se ainda pior porque, dessa vez, o maremoto veio acompanhado de uma hecatombe política, com a Operação Lava-Jato nas ruas, parte da população exigindo a saída da presidente reeleita e o Congresso disposto a afastá-la.
Dilma caiu e foi sucedida por Michel Temer, mas a crise política e econômica não cessou. Em meio às incertezas, Temer sancionou a reforma trabalhista, que alterou mais de cem itens da CLT, como a inclusão do home office na legislação, a autorização para trabalhos intermitentes e a decisão de dar força de lei aos acordos coletivos. Os resultados práticos da flexibilização ainda são incertos.
– A reforma tem potencial para reduzir o desemprego e a informalidade, que hoje atingem 51% da força de trabalho, mas ainda está muito incipiente. Ninguém sabe ao certo como a Justiça do Trabalho vai interpretar a lei – observa o economista Bruno Ottoni, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE-FGV).
As interrogações sobre o futuro do trabalho vão além das questões legais. No mundo todo, estudiosos tentam antecipar o que vem e como as pessoas podem se preparar para as mudanças, cujo principal vetor é a revolução tecnológica.
Para o Rio Grande do Sul, em especial, a discussão é premente. O Estado é a quarta economia do país e exibe indicadores sociais que o mantêm à frente de outras regiões brasileiras. Nas últimas décadas, contudo, os gaúchos vêm perdendo protagonismo. Uma das áreas mais afetadas é a educação, que assume papel fundamental nesse momento de ruptura. De acordo com o último índice de desenvolvimento estadual (iRS), divulgado neste agosto de 2017, o Estado é pelo terceiro ano consecutivo apenas o oitavo lugar, depois de ter figurado na quarta colocação no início da série histórica, em 2007.
– Deixamos de ser vanguarda. A questão educacional é um problema e talvez seja o maior desafio do Estado para se adaptar às novas circunstâncias – adverte o economista Ely José de Mattos, coordenador da equipe do iRS e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A inteligência artificial já está substituindo formas tradicionais de ocupação e exigindo novas habilidades de quem ingressa no mercado de trabalho – especialmente em áreas como programação, TI, banco de dados. Pesquisadores como o italiano Federico Pistono consideram o movimento irreversível. Autor do livro Os Robôs Vão Roubar seu Trabalho, mas Tudo Bem, Pistono sustenta que o primeiro passo para sobreviver à metamorfose é “aceitar”:
– Estamos caminhando para um mundo no qual os empregos serão mais flexíveis e as pessoas vão mudar de atividade a cada 20 meses ou 20 semanas. Aquela ideia de ir à escola, aprender um ofício e ter um emprego até se aposentar já não é realidade para muita gente. A relação entre patrão e empregado será substituída pela relação entre cidadão e sociedade civil, por meio de pequenos negócios, startups, ONGs. Você pode negar, sentir raiva, ficar resignado ou aceitar as mudanças e tentar fazer o melhor.
A velocidade com que a economia é afetada pelas inovações levou a Confederação Nacional da Indústria (CNI) a reunir um time de cientistas para mapear as novidades e prever qual será o impacto delas nos próximos 10 anos. A intenção, segundo o economista Paulo Mól, coordenador do Projeto Indústria 2027, é instrumentalizar o setor.
– Teremos um processo de produção cada vez mais rápido e vamos precisar de pessoas cada vez mais qualificadas. Estudos apontam que quem está nascendo agora possivelmente passará por cinco carreiras diferentes ao longo da vida, e pelo menos três delas ainda nem foram criadas. O mercado de trabalho vai mudar e vai mudar rápido. Lutar contra a tecnologia é uma batalha perdida – assevera Mól.
Em 2013, a Universidade de Oxford, no Reino Unido, examinou 702 profissões nos Estados Unidos para estimar a probabilidade de automação dessas atividades. Conclusão: 47% delas foram consideradas ameaçadas. O diagnóstico é semelhante para o Brasil, conforme pesquisa da consultoria McKinsey. Um dos consensos é de que o risco aumenta para funções repetitivas e rotineiras, como as de costureiro, caixa de banco e empacotador.
– Quanto mais preparadas e criativas estiverem as pessoas, mais chance elas terão de permanecer nesse novo mercado e de enxergar as oportunidades. Será mais fácil migrar, encontrar novos caminhos. Para os empregos que exigem menos qualificação, habilidades como resiliência, sociabilidade e sensibilidade serão fundamentais. Quantas vezes você entrou numa loja para comprar uma camisa e saiu com duas, três porque tinha um bom vendedor? Isso não vai mudar – opina Ottoni.
Fatores como realização pessoal, empreendedorismo e autonomia também tendem a ser valorizados, mas, para isso, será preciso ter “bala na agulha”, diz o filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação:
– É provável que tenhamos uma proporção maior de pessoas empreendedoras do que no passado. O emprego pressupõe subordinação ao patrão, e muita gente não quer mais isso. Entra em choque com valores do mundo atual, de independência, de trabalhar na hora em que se quer, de ser dono do próprio nariz, de fazer as coisas com mais liberdade. A demanda por realização pessoal também parece maior hoje do que foi no passado. As pessoas não querem mais um trabalho besta, repetitivo. Querem qualidade de vida. Não querem mais apenas um trabalho para pagar as contas.
O desafio é a transição para esse novo modelo. Cofundadora do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC de São Paulo, Rosa Alegria lembra que a substituição de mão de obra por máquinas não é novidade, mas a velocidade do processo, sim. Se governos e indivíduos não se prepararem, a futurista antevê o surgimento de uma legião de excluídos.
– Ou sucumbimos, e aí o mundo vai caminhar para o desemprego estrutural, ou pensamos estratégias para fazer frente a esse fenômeno. Chegou a hora de apertar a tecla pause e pensar em como tirar proveito da disrupção digital – sustenta a especialista.
As pessoas terão de deixar de ser “escravas de uma profissão e de um diploma”.
– Não temos como competir com robôs, mas a verdade é a seguinte: não há limites para inovar e para se reinventar. A saída passa por adotar novo estilo de vida. Consumir menos, acumular menos e compartilhar mais. Esse é o caminho – sinaliza Rosa.
No compasso da Bossa Nova, o fim da década de 1950 traduziu, no Brasil, o sonho de um país moderno – e, com ele, o ideal de emprego do século 20: industrial, urbano, estável e com carteira assinada. Sessenta anos depois, as certezas de outrora dão lugar a um futuro aberto. Atividades tradicionais perdem relevância, relações se flexibilizam e inovações tecnológicas operam nova – e irreversível – transformação na natureza do trabalho.
Robótica, inteligência artificial, big data, internet das coisas e nanotecnologia avançam. Não será neutro o resultado dessa revolução. Do Vale do Silício à Grande Porto Alegre, robôs já exercem funções humanas. O processo tende a se acentuar nos próximos anos, impondo desafios e oportunidades.
– O emprego não vai acabar. Vai mudar. O segredo para se adaptar é desenvolver novas habilidades. Aquela história de aprender um único ofício e fazer a mesma coisa pelo resto da vida acabou. Ficou no passado – resume o coordenador de Trabalho e Renda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Henrique Corseuil.
Nos anos 1950, esse era o desejo de muitos brasileiros, testemunhas do processo de industrialização que polvilhava de fábricas as grandes cidades. Turbinado pelo audacioso plano de metas do presidente Juscelino Kubitschek, o país se beneficiava do otimismo dos anos pós-guerra – não por acaso denominados “dourados”. A promessa dos “50 anos em cinco” da propaganda oficial materializava-se no vigor do setor automobilístico e na construção de Brasília. Os ramos metalmecânico, elétrico e de transportes deslanchavam.
Se havia demanda por braços, existia, também, a promessa de salvaguardas ao trabalhador. Desde 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) cimentava os direitos dos assalariados urbanos e fomentava o êxodo rural. Entre outros benefícios, a legislação assegurava estabilidade ao empregado do setor privado que completasse 10 anos em uma mesma companhia.
– As pessoas começavam a melhorar de vida, umas mais, outras menos, mas todas sentiam alguma melhora. A classe média passava a ter acesso a determinados bens de consumo, como geladeira, ventilador, carro, até então inacessíveis. Havia um sentimento de confiança. O mundo vivia uma era áurea, e o governo brasileiro soube aproveitar o momento – sintetiza Pedro Dutra Fonseca, professor de Economia Brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No início da década de 1960, o movimento operário daria mais um passo na conquista de vantagens históricas. Sob pressão, o então presidente João Goulart instituiu o 13º salário. À época, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) criticou a medida, sob a justificativa de que alimentaria a “fogueira da inflação”. O país atravessava grave crise política, que culminaria no golpe civil-militar de 1964.
Com Castello Branco no comando do Palácio do Planalto e a adoção de uma política de ajuste, a estabilidade no setor privado chegaria ao fim. Para compensar a perda, o governo lançou, em 1966, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A novidade deu origem à figura do “optante”. Funcionava assim: o assalariado podia decidir entre ficar blindado com uma década de firma ou se credenciar para receber FGTS. Na prática, não havia escolha.
Além de abrir mão da imunidade, quem optasse pelo novo sistema perdia a indenização prevista em caso de demissão sem justa causa, de um salário por ano trabalhado.
– Foi um ato violento, sem dúvida, mas estamos falando de um mercado no qual a participação do setor formal era de, no máximo, um terço da força de trabalho. Entre meados dos anos 1960 e o final dos anos 1970, a formalização superou 50%. Ou seja: perdeu-se a estabilidade, mas a cobertura da CLT cresceu significativamente – pondera Claudio Dedecca, professor titular de Economia Social e do Trabalho da Unicamp.
Dali em diante, em meio à escalada autoritária dos anos de chumbo, o país ingressaria em mais um ciclo de prosperidade, conhecido como “milagre econômico brasileiro”. O fenômeno combinou extraordinário crescimento com inflação controlada e perdurou até 1973.
No rádio e na TV, a marchinha Pra Frente Brasil embalava a vitória brasileira na Copa de 1970 e vendia a ideia de uma nação predestinada a crescer. Ao mesmo tempo, ocultava os horrores da ditadura e a desigualdade social crescente.
A concentração de renda era atenuada pela grande oferta de vagas. Nas palavras do historiador Boris Fausto, os assalariados ganhavam individualmente menos, mas a redução era compensada à medida que mais membros de uma mesma família tinham acesso ao emprego.
No campo, a regulamentação do trabalho rural operou grande transformação. Com a medida, agricultores passaram a ter os mesmos direitos dos trabalhadores urbanos, cujo contingente crescia na proporção dos novos empreendimentos, de Norte a Sul.
Muitos desses projetos tiveram o Rio Grande do Sul como alvo. Foi o caso da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, e da Aços Finos Piratini, em Charqueadas, sem contar a instalação de fábricas de tratores e máquinas agrícolas e o avanço das lavouras de soja e de tabaco.
Em 1973, no auge da repressão, o então presidente Emílio Garrastazu Médici foi recebido no Estado para a inauguração de usinas hidrelétricas e da freeway. Segundo reportagem de ZH à época, 3 mil operários trabalharam na construção da rodovia, que facilitou o acesso à orla e, de quebra, possibilitou o surgimento de novos empregos no Litoral.
– Capão da Canoa, Tramandaí e outras praias passaram a atrair cada vez mais gente. Lembro que os estudantes da Engenharia Elétrica da UFRGS se formavam e eram contratados imediatamente para trabalhar na eletrificação do Litoral Norte. Era uma necessidade – conta Fonseca.
O período também seria marcado pelo lançamento do segundo Plano Nacional de Desenvolvimento, uma aposta do governo para fazer frente à instabilidade provocada pelo choque do petróleo, em 1973.
O plano incluía grandes obras, como a usina de Itaipu, na fronteira com o Paraguai, e o Polo Petroquímico de Triunfo.
A solução não surtiu o efeito esperado. Com o segundo colapso do petróleo, em 1979, a crise estourou de vez. Era o fim de uma era gloriosa para o Brasil e também para as grandes potências do mundo ocidental – simbolizado pela ascensão de Margaret Thatcher ao poder, no Reino Unido, com uma nova visão da máquina pública. A partir dali, Estado mínimo, livre mercado e globalização seriam temas recorrentes.
Por aqui, a inflação passava dos 100% em 1980, a dívida externa saía do controle e a recessão parava o país. Começava assim a “década perdida”, marcada pelo fantasma da hiperinflação e por uma circunstância até então inédita para os assalariados: a amarga experiência do desemprego em massa.
Essa situação, aliada à corrosão salarial, deu lastro ao novo sindicalismo. Em 1979, estima-se que 3,2 milhões de trabalhadores entraram em greve no país, com os metalúrgicos do ABC paulista à frente, liderados por Luiz Inácio Lula da Silva. No Rio Grande do Sul, o movimento ecoou principalmente entre os bancários.
– Naquele momento, toda a discussão se concentrava nas perdas inflacionárias. Esse era o grande debate da época – diz o professor Marcelo Portugal, da Faculdade de Economia da UFRGS.
A inflação beirava os 200% quando José Sarney (PMDB) vestiu a faixa presidencial, em 1985. Aos poucos, a indústria começava a perder espaço para os serviços, e o Brasil assistia ao avanço da terceirização e da informalidade. Nos anos que se seguiram, uma sucessão de pacotes econômicos tentaria tirar o país do buraco. Todos, até 1994, como veremos a seguir, foram desastrosos.
Em 1987, a crise era tamanha que Sarney determinou a suspensão do pagamento dos juros da dívida externa por tempo indeterminado. A moratória era a confirmação cabal de que o Brasil havia, afinal, quebrado.
– Existia um sentimento de pessimismo diante de tudo aquilo, mas era diferente do que vivemos hoje. Naquela época, a desilusão em relação à economia era compensada por um grande otimismo em relação à política. Vivíamos o clima da redemocratização, da Assembleia Constituinte. No Rio Grande do Sul, já se falava na crise do Estado, mas muita gente acreditava que o voto mudaria tudo – afirma Fonseca.
A promulgação da Constituição de 1988 – batizada “cidadã” por Ulysses Guimarães – representou um marco na consolidação do processo democrático e na garantia de direitos, inclusive dos trabalhadores. A Carta Magna selou e universalizou prerrogativas como o aviso prévio, o seguro-desemprego, as licenças-maternidade e paternidade e o direito de greve.
Ao final daquele período, com a eleição de Fernando Collor de Mello, a inflação anual já passava dos 1.000%. Um dia depois de tomar posse na Presidência da República, em março de 1990, Collor e a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, apresentaram o Plano Brasil Novo. Para perplexidade geral da nação, a proposta incluía o confisco da poupança, até então intocável.
O resultado foi catastrófico. Em menos de um ano, o Brasil afundou em nova recessão, e a inflação superou a marca dos 1.600%. A barafunda econômica foi agravada pela tragédia política. Em 1992, Collor foi acusado de corrupção, renunciou ao cargo e teve o impeachment confirmado no Congresso.
Acostumada às vicissitudes da economia, aos pacotes-surpresa, aos congelamentos e às remarcações de preços, a população só viveria tempos de estabilidade a partir de 1994, no governo-tampão de Itamar Franco. À frente do Ministério da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso reuniu um grupo de economistas para conceber o Plano Real. Dessa vez, deu certo. Isso não significa que os primeiros anos do plano tenham sido fáceis. Com a importação de produtos estrangeiros liberada e o real valorizado frente ao dólar, a indústria nacional, que já vinha perdendo participação no PIB, passou a enfrentar grande concorrência, em especial da Ásia. A partir dali, a desindustrialização ganharia velocidade.
– De 1996 a 1998, o salto no desemprego foi enorme, quase comparável ao que vivemos hoje. A indústria teve de lidar com uma competição muito acirrada, e o mercado de trabalho só foi se reorganizar por volta de 2000 – afirma Corseuil.
No Rio Grande do Sul, a situação provocou um baque no modelo exportador. Entre 1995 e 1999, a produção industrial local despencou 16,3%. Um dos setores mais atingidos foi o calçadista, que chegou a empregar 200 mil pessoas nos anos 1980. Os pedidos de falência se multiplicaram no Vale do Sinos, tanto quanto as demissões.
Mesmo assim, com a estabilidade econômica elevada a patrimônio nacional, Fernando Henrique foi eleito presidente em 1994, domou a inflação e foi reeleito em 1998. Foram anos de ajuste, que prepararam o Brasil para o novo ciclo de desenvolvimento prestes a se iniciar, conduzido por um torneiro-mecânico na Presidência.
Até o fim do primeiro mandato, Lula cumpriu à risca a promessa de conservar a política fiscal de FH, explicitada na célebre Carta aos Brasileiros – escrita sob medida para acalmar o mercado. De 2006 em diante, o petista manteve os pilares macroeconômicos do real, mas adotou uma política de viés desenvolvimentista. Um dos carros-chefes foi o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em 2007 com forte investimento público, voltado sobretudo para as áreas de energia e transportes. A manobra se refletiu na retomada do emprego.
Os bons ventos da economia – que alçaram o Brasil à capa da revista britânica The Economist, com a sugestiva imagem do Cristo Redentor decolando – ajudaram Lula a eleger a sucessora, Dilma Rousseff. Mas os tempos de bonança duraram pouco.
Em 2013, a própria The Economist retomaria a alegoria do Cristo na capa, desta vez de ponta-cabeça, com a pergunta: Has Brazil blown it? (“O Brasil estragou tudo?”). A reportagem questionava a política econômica de Dilma, considerada excessivamente intervencionista e displicente do ponto de vista fiscal. Se a crise internacional de 2008 fora associada a “uma marolinha” por Lula, a versão 2015 assumiu a forma de um tsunami.
O Brasil mergulhou outra vez em recessão, com inflação a dois dígitos, taxa de desemprego nas alturas e rombo crescente nas contas públicas. O cenário tornou-se ainda pior porque, dessa vez, o maremoto veio acompanhado de uma hecatombe política, com a Operação Lava-Jato nas ruas, parte da população exigindo a saída da presidente reeleita e o Congresso disposto a afastá-la.
Dilma caiu e foi sucedida por Michel Temer, mas a crise política e econômica não cessou. Em meio às incertezas, Temer sancionou a reforma trabalhista, que alterou mais de cem itens da CLT, como a inclusão do home office na legislação, a autorização para trabalhos intermitentes e a decisão de dar força de lei aos acordos coletivos. Os resultados práticos da flexibilização ainda são incertos.
– A reforma tem potencial para reduzir o desemprego e a informalidade, que hoje atingem 51% da força de trabalho, mas ainda está muito incipiente. Ninguém sabe ao certo como a Justiça do Trabalho vai interpretar a lei – observa o economista Bruno Ottoni, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE-FGV).
As interrogações sobre o futuro do trabalho vão além das questões legais. No mundo todo, estudiosos tentam antecipar o que vem e como as pessoas podem se preparar para as mudanças, cujo principal vetor é a revolução tecnológica.
Para o Rio Grande do Sul, em especial, a discussão é premente. O Estado é a quarta economia do país e exibe indicadores sociais que o mantêm à frente de outras regiões brasileiras. Nas últimas décadas, contudo, os gaúchos vêm perdendo protagonismo. Uma das áreas mais afetadas é a educação, que assume papel fundamental nesse momento de ruptura. De acordo com o último índice de desenvolvimento estadual (iRS), divulgado neste agosto de 2017, o Estado é pelo terceiro ano consecutivo apenas o oitavo lugar, depois de ter figurado na quarta colocação no início da série histórica, em 2007.
– Deixamos de ser vanguarda. A questão educacional é um problema e talvez seja o maior desafio do Estado para se adaptar às novas circunstâncias – adverte o economista Ely José de Mattos, coordenador da equipe do iRS e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A inteligência artificial já está substituindo formas tradicionais de ocupação e exigindo novas habilidades de quem ingressa no mercado de trabalho – especialmente em áreas como programação, TI, banco de dados. Pesquisadores como o italiano Federico Pistono consideram o movimento irreversível. Autor do livro Os Robôs Vão Roubar seu Trabalho, mas Tudo Bem, Pistono sustenta que o primeiro passo para sobreviver à metamorfose é “aceitar”:
– Estamos caminhando para um mundo no qual os empregos serão mais flexíveis e as pessoas vão mudar de atividade a cada 20 meses ou 20 semanas. Aquela ideia de ir à escola, aprender um ofício e ter um emprego até se aposentar já não é realidade para muita gente. A relação entre patrão e empregado será substituída pela relação entre cidadão e sociedade civil, por meio de pequenos negócios, startups, ONGs. Você pode negar, sentir raiva, ficar resignado ou aceitar as mudanças e tentar fazer o melhor.
A velocidade com que a economia é afetada pelas inovações levou a Confederação Nacional da Indústria (CNI) a reunir um time de cientistas para mapear as novidades e prever qual será o impacto delas nos próximos 10 anos. A intenção, segundo o economista Paulo Mól, coordenador do Projeto Indústria 2027, é instrumentalizar o setor.
– Teremos um processo de produção cada vez mais rápido e vamos precisar de pessoas cada vez mais qualificadas. Estudos apontam que quem está nascendo agora possivelmente passará por cinco carreiras diferentes ao longo da vida, e pelo menos três delas ainda nem foram criadas. O mercado de trabalho vai mudar e vai mudar rápido. Lutar contra a tecnologia é uma batalha perdida – assevera Mól.
Em 2013, a Universidade de Oxford, no Reino Unido, examinou 702 profissões nos Estados Unidos para estimar a probabilidade de automação dessas atividades. Conclusão: 47% delas foram consideradas ameaçadas. O diagnóstico é semelhante para o Brasil, conforme pesquisa da consultoria McKinsey. Um dos consensos é de que o risco aumenta para funções repetitivas e rotineiras, como as de costureiro, caixa de banco e empacotador.
– Quanto mais preparadas e criativas estiverem as pessoas, mais chance elas terão de permanecer nesse novo mercado e de enxergar as oportunidades. Será mais fácil migrar, encontrar novos caminhos. Para os empregos que exigem menos qualificação, habilidades como resiliência, sociabilidade e sensibilidade serão fundamentais. Quantas vezes você entrou numa loja para comprar uma camisa e saiu com duas, três porque tinha um bom vendedor? Isso não vai mudar – opina Ottoni.
Fatores como realização pessoal, empreendedorismo e autonomia também tendem a ser valorizados, mas, para isso, será preciso ter “bala na agulha”, diz o filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação:
– É provável que tenhamos uma proporção maior de pessoas empreendedoras do que no passado. O emprego pressupõe subordinação ao patrão, e muita gente não quer mais isso. Entra em choque com valores do mundo atual, de independência, de trabalhar na hora em que se quer, de ser dono do próprio nariz, de fazer as coisas com mais liberdade. A demanda por realização pessoal também parece maior hoje do que foi no passado. As pessoas não querem mais um trabalho besta, repetitivo. Querem qualidade de vida. Não querem mais apenas um trabalho para pagar as contas.
O desafio é a transição para esse novo modelo. Cofundadora do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC de São Paulo, Rosa Alegria lembra que a substituição de mão de obra por máquinas não é novidade, mas a velocidade do processo, sim. Se governos e indivíduos não se prepararem, a futurista antevê o surgimento de uma legião de excluídos.
– Ou sucumbimos, e aí o mundo vai caminhar para o desemprego estrutural, ou pensamos estratégias para fazer frente a esse fenômeno. Chegou a hora de apertar a tecla pause e pensar em como tirar proveito da disrupção digital – sustenta a especialista.
As pessoas terão de deixar de ser “escravas de uma profissão e de um diploma”.
– Não temos como competir com robôs, mas a verdade é a seguinte: não há limites para inovar e para se reinventar. A saída passa por adotar novo estilo de vida. Consumir menos, acumular menos e compartilhar mais. Esse é o caminho – sinaliza Rosa.