
Após mais de seis meses, as escolas das redes municipais e privada de Porto Alegre estão autorizadas a dar início à retomada das atividades a partir desta segunda-feira (5). Mantida a classificação em bandeira laranja no sistema de distanciamento controlado, a Capital cumpre todos os requisitos necessários para permitir o retorno dos alunos às salas de aula.
Pelo cronograma divulgado pela prefeitura, o retorno começa por Educação Infantil, terceiro ano do Ensino Médio, educação profissional e educação de jovens e adultos (EJA).
Nesta manhã, o Colégio Farroupilha teve movimentação intensa antes das 7h30min, horário marcado para o reinício das atividades — de forma escalonada, a partir do Nível 5. A previsão era receber 36 crianças no turno da manhã e outras 52 à tarde.
Com um planejamento minucioso, a escola montou um esquema para receber os alunos sem que fosse preciso os pais descerem dos carros: os veículos ingressavam por um portão ao lado do prédio e, ali mesmo, as crianças tinham a temperatura aferida por funcionários e, na sequência, eram liberadas para ingressar. Todo o trajeto era conduzido pelos monitores da instituição.
Para além de todos os equipamentos de proteção individual (EPI) usados pelos funcionários, totens com álcool em gel, tapetes sanitizantes e higienização constante de superfícies de toque, o colégio preparou todo o esquema de recepção para evitar aglomerações. A equipe passou por diversas simulações para treinar o posicionamento dos funcionários e como seriam o acesso e a saída dos responsáveis que preferiram levar as crianças até a entrada.
Outras escolas particulares, como o Colégio Anchieta, estão programando o retorno para os próximos dias.
Já entre as escolas municipais, sete colégios visitados pela reportagem de GZH não retornarão as atividades presenciais nesta segunda. As instituições ficam nos bairros Azenha, Santana, Independência, Lomba do Pinheiro e Mario Quintana.

Na escola Cirandinha, ao lado do Parque Tenístico José Montaury, reformas eram feitas nesta manhã, com o telhado sendo trocado. Dois trabalhadores carregavam tapumes, e um andaime foi instalado em frente à entrada da escolinha.
Obras no prédio também foram o motivo para a Escola Girafinha, no bairro Santana, não reabrir. Entre os jardins A e B, são 61 alunos matriculados.
— Estava em reforma, precisamos de uma faxina para deixar em condições. Não sei se abre amanhã — afirmou a diretora, Andrea Paviani.
Há coordenadores de colégios que afirmam precisar de mais tempo para recuperar os locais. A Escola de Ensino Fundamental Timbaúva, no bairro Mario Quintana, tem duas turmas nos primeiros anos do infantil e, por isso, poderia abrir. Mas precisa de adequações.
— Faltam EPIS e ajustes na estrutura para o distanciamento — justificou o diretor, Roque Bernardes.
De acordo com a prefeitura, não há uma lista de locais com atendimento presencial nesta manhã. A Secretaria Municipal da Educação informou que recebeu sinal positivo de diretores da Escola Comunitária de Educação Infantil Tia Beth, no bairro Bom Jesus, e da Paulo Freire, na Restinga, além da Campos do Cristal.
De Educação para Jovens e Adultos, o Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores (Cmet) Paulo Freire, no bairro Santana, seguirá o cronograma de volta às atividades no dia 19 de outubro. É previsto, no dia 13, oferta de alimentação no refeitório, o que preocupa a diretora Andrea Lauermann.
— Manterei a escola aberta, seguindo protocolos, mas me preocupa. Só temos uma entrada e saída, e temos aluno com mais de 90 anos — diz a diretora, que comanda quase mil alunos de alfabetização.
Retorno maior em 19 de outubro, apontam entidades
O Sindicato do Ensino Privado do RS (Sinepe-RS) informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que teve a confirmação do retorno no Colégio Farroupilha e na Escola Crescer, na Zona Norte. Entretanto, a entidade destacou que o levantamento não está concluído ainda. "O movimento mais intenso deve ocorrer a partir do dia 19/10", informou, por e-mail.
Conforme o Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) poucos docentes referiram o recomeço das atividades nesta segunda. A maior parte das escolas de Educação Básica, diz a Cecília Farias, diretora do Sinpro/RS, está programada para retorno no dia 19 de outubro.
— Esperamos que volte, mas com segurança. Temos dúvida se todas as escolas poderão ter mecanismos de segurança sanitária. As que não tiverem condições, que não tiverem equipamentos, melhor não começar. Para as que oferecem segurança aos alunos, professores e comunidade escolar, tudo bem que reinicie — avalia Cecília.
A diretora lembra que ACM e Santa Cecília já informaram que não retomam as atividades presenciais em 2020.
Não é voltar por voltar, diz secretário
O secretário da Educação da Capital, Adriano Naves de Brito, falou em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, sobre a volta das aulas presenciais na cidade. Segundo ele, o "princípio da segurança sanitária" norteia a retomada.
— Nós estamos seguindo as orientações da Secretaria Municipal de Saúde, que acumulou uma experiência nos últimos meses em vários tipos de ambientes. Não há receita pronta e mágica, isso depende muito dos lugares, das condições (…) Não é voltar por voltar. Essa foi a baliza da discussão.
Questionado sobre as críticas sobre falta de estrutura de algumas escolas, o secretário afirmou que todas têm condições de receber os protocolos de segurança estabelecidos. Naves de Brito falou ainda que as instituições não podem "simplesmente dizer 'não quero voltar', porque há questões administrativas".
— É importante que diretores compreendem a importância pedagogia (do retorno). Eles receberem recursos adicionais para equipamentos de segurança, enviamos álcool gel. Acho que temos que ter cautela, conversar e lidar com as coisas do ponto de vista administrativo. A partir de hoje, vou interpelar as escolas e saber porque não foi utilizado o recurso adicional. Receberam na ordem de R$ 2,5 milhões para justamente fazer frente às necessidades.
Ouça a entrevista completa:
Confira, a seguir, um resumo dos principais destaques em relação à volta das atividades presenciais em escolas de Porto Alegre.
Não é obrigatório que os alunos acompanhem as aulas presenciais
Mesmo com a reabertura das escolas, a decisão de levar ou não os alunos será das famílias. Não será obrigatório o retorno de todos os estudantes, assim, os pais e responsáveis poderão avaliar a retomada e enviar seus filhos quando ou se identificarem que há segurança para essa decisão.
Escolas da rede municipal que não retomarem aulas terão de justificar decisão
As escolas da rede pública municipal de Porto Alegre que mantiverem os portões fechados na segunda-feira terão de justificar a decisão à prefeitura. Não está definida, ainda, qual a sanção para diretor ou professor que se negar a trabalhar nos locais, a partir da retomada.
Poucas escolas da rede privada vão retornar antes de 19 de outubro
Entre as maiores instituições privadas de ensino em Porto Alegre, muitas já sinalizaram a intenção de voltar em breve a ter atividades presenciais, mas a maioria ainda não definiu um calendário — e o número de escolas que pretendem retornar na segunda-feira é bem reduzido.
Um dos poucos colégios, até o momento, a confirmar o reinício das aulas presenciais já na segunda é o Farroupilha. A volta tem o apoio dos pais: em 24 de agosto, a escola realizou uma pesquisa com as famílias e os resultados mostraram que, de 73% dos respondentes com filhos na Educação Infantil, 71,26% disseram que as crianças frequentariam as aulas presenciais. Entre famílias do Ensino Médio, 64,73%, dos 52% que responderam, indicaram que os filhos iriam para aulas presenciais.
Para funcionar, escolas precisarão preencher questionário sobre regularidade sanitária
O mais recente decreto da prefeitura, publicado em edição extra do Diário Oficial de quinta-feira (1º), listou exigências para a retomada: promover a redução de circulação de pessoas, recomendar aos pais ou responsáveis evitar o contato do aluno com familiares idosos ou com problemas crônicos, propor atividades escolares não presenciais, proibir os eventos e reuniões presenciais de caráter pedagógico, além de propiciar atividades escolares somente durante o turno regular, sendo vedado o contraturno.
As instituições têm ainda de preencher um formulário, de quatro páginas, em um link disponibilizado junto à publicação do decreto. No documento, os principais questionamentos são o número de alunos e trabalhadores presenciais, os casos confirmados de coronavírus nas pessoas ligadas à instituição — entre alunos, professores e funcionários — e o estoque de equipamentos de proteção individual (EPIs).
Fiscalização nas escolas ficará a cargo das próprias diretorias
Caberá às diretorias das instituições de ensino a responsabilidade pelo funcionamento, pelo monitoramento e pela execução do plano de contingência e dos protocolos sanitários, sem uma contrapartida de fiscalização por parte do município.
Turmas com surto de covid-19 terão aulas suspensas por 10 dias
Haverá a suspensão das aulas por 10 dias em turmas que tiverem dois casos positivos de coronavírus, o que é considerado surto. Todos os estudantes da classe terão de ser testados, além dos professores que tiverem contatos com esses alunos. Se houver um caso positivo, o aluno ou profissional será afastado. Quem mora com alguém que teve diagnóstico confirmado de covid-19 ficará afastado por 14 dias, em isolamento.
Há uma série de protocolos sanitários necessários para as escolas reabrirem
Nas regras referentes à Educação Infantil, foi ressaltado que as turmas não podem exceder 15 alunos. A máscara será proibida para crianças de até dois anos e não recomendada para alunos de três a seis anos. Entre seis e 11 anos, será recomendada, mas não obrigatória. A partir dos 12, todos são obrigados a usar a proteção.
Já os professores terão de usar o equipamento e, nos casos em que haja, por exemplo, uso da leitura labial, o item deve ser substituído por escudo facial.
O transporte escolar pode ser utilizado, desde que limitado a 50% da capacidade do veículo.