A escassez de semicondutores que começou com a pandemia de covid-19 seguirá como um problema para a indústria e para os consumidores pelo menos até a metade de 2022, encarecendo produtos eletroeletrônicos. A avaliação é da associação de representantes do setor e de especialistas no segmento automotivo, um dos que sofreram impacto pela falta de componentes para circuitos elétricos.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi), Rogério Nunes, disse que a demanda de produtos de tecnologia da informação e comunicação (TIC) aumentou com a pandemia, surpreendendo o setor de semicondutores que havia sido impactado pela interrupção de várias cadeias produtivas.
— Esse setor de semicondutores é lento no retorno à produção. Ele demora alguns meses em função da sua característica de manufatura — explicou.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, afirmou, em entrevista coletiva no último dia 8 sobre os resultados do setor, que a retração das vendas em outubro é reflexo das dificuldades enfrentadas pela indústria, como a falta de componentes, em escassez mundial.
— O ano de 2022 continuará sendo de grandes desafios na entrega de semicondutores ao setor automotivo — disse na ocasião.
— Fala-se entre 5 milhões e 7,5 milhões de carros não produzidos este ano no mundo. São 250 mil a 280 mil no Brasil em função disso, mas outros setores também já começaram a ser afetados, a partir desses últimos meses, a área de TICs, celulares — observou Nunes.
Para ele, a redução da oferta de celulares pode chegar a 10%, “principalmente em função do desabastecimento porque a demanda continua relativamente alta”.
—Não só a indústria automobilística, mas a indústria em geral teve muita dificuldade para implementar as normas de segurança, até todo mundo entender o que estava acontecendo — lembrou Renan Pieri, economista da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp), da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Ele reforça que o setor de semicondutores tem certa inflexibilidade para se adequar à demanda:
— A perspectiva é de regularização apenas no segundo semestre do ano que vem.
Sobre as possibilidade de mitigação do problema, Pieri diz que a maior cooperação entre o próprio setor poderia ter amenizado o problema:
— O que deveria ou poderia ter sido feito era uma coordenação entre as empresas da cadeia, todos os produtores, tanto de semicondutores como os demandantes, com o objetivo de criar medidas de cooperação, para que todo mundo conseguisse passar da melhor maneira possível pela crise.
— Esse tipo de coordenação, no entanto, já que estamos falando de empresas ao redor do mundo inteiro, é muito difícil — admite.
Nunes, por sua vez, destaca dois fatores que devem ser levados em conta para analisar o atual quadro de escassez: a mudança tecnológica, que é inerente ao mercado, e questões contextuais e imprevisíveis, como a pandemia de covid-19. Essas questões, no entanto, lidam com fatores relacionados ao próprio setor.
—Temos uma excessiva concentração de manufatura desses produtos semicondutores na Ásia. Por exemplo, um país como Taiwan produz 43% de tudo que é o wafer (disco de silício) no mundo. A Coreia tem outros 21%, praticamente dominando 70% do que há de memórias no mundo — acrescenta.
Ele disse que outros países, como os Estados Unidos, começam a lançar incentivos para atrair manufatura. O mesmo, segundo Nunes, ocorre na Europa.
Disco de silício
Nunes explica por que os semicondutores são tão importantes nas cadeias produtivas de eletroeletrônicos.
— Eles são aplicados em todos os produtos que usam tecnologia eletrônica, então todos os produtos hoje da nossa vida utilizam. Praticamente tudo. Desde a área médica, agrobusiness, tecnologia da informação, computadores, celulares — enumera.
Esses componentes eletrônicos são o que conhecemos mais comumente como chips.
— Chips são, na verdade, uma pastilha de silício, um pequeno pedaço de silício que, na verdade, é um produto enriquecido a partir da areia. Com esse item semicondutor, nós fazemos a construção de um circuito elétrico, circuito integrado, encapsulamos esse circuito integrado para que ele possa ser usado nas placas eletroeletrônicas — acrescenta.




