Com as famílias endividadas e o fantasma do desemprego rondando a economia, o consumo, que já foi o motor de crescimento do país, deve chegar ao fim deste ano no mesmo nível de 2010. Um retrocesso de seis anos, se descontada a inflação. Nesse período, o mercado consumidor brasileiro encolheu R$ 1,6 bilhão, valor que se aproxima, em dólares, ao PIB da Argentina.
A expectativa para este ano é de que o total de gastos dos brasileiros com produtos e serviços chegue a R$ 3,9 trilhões, segundo projeções da IPC Marketing.
– A queda que houve em 2015 e a que é esperada para este ano anulam o crescimento que ocorreu entre 2011 e 2014 – diz Marcos Pazzini, responsável pelo estudo e diretor da consultoria.
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O consumidor, na prática, já percebeu isso. O carrinho de supermercado não é mais o mesmo, o plano de trocar de carro ou de comprar um imóvel foi adiado, as férias no Exterior voltaram a ser uma meta de longo prazo.
– Uma das diferenças dessa crise é que, agora, o brasileiro tem uma sensação de perda muito maior – diz Renato Meirelles, do instituto Data Popular.
Por quatro anos consecutivos, de 2011 a 2014, a taxa de crescimento do consumo das famílias superou o desempenho do PIB. No ano passado, pela primeira vez, o consumo caiu 4% e superou a retração do PIB, de 3,8%.
Para 16 de 22 categorias de produtos analisadas, o consumo é ainda mais baixo do que o nível de 2010. Entre elas, estão despesas com vestuário, recreação e cultura, mensalidades escolares, alimentação no domicílio e gastos com viagens.
O que aconteceu no setor automotivo é emblemático para entender esse processo de ascensão e queda do consumo, diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados.
– O governo não entendeu que a demanda começou a cair e continuou estimulando a capacidade de produção – diz.
Hoje, as montadoras estão preparadas para produzir 5 milhões de unidades por ano, mas fazem apenas 2 milhões. No setor, a estimativa é de que se leve uma década para retomar os níveis recordes de venda.
Em quanto tempo o mercado consumidor como um todo vai se recuperar é uma previsão que os economistas ainda não conseguem fazer.
– As famílias estão muito endividadas. Primeiro, terão de pagar suas contas para depois voltar a consumir – avalia Zeina Latif, economista chefe da XP Investimentos.
– Será uma recuperação lenta – define.
No entanto, o caminho, relatam os economistas, pode ser mais curto do que se imagina se a equipe do presidente em exercício Michel Temer conseguir, como vem dizendo, retomar a confiança do mercado.
– Esse é um fator que não é possível medir, mas pode ser um acelerador – analisa Adriano Pitoli, da consultoria Tendências.
– É preciso estabilizar a economia, fazer o ajuste fiscal, reduzir a taxa de juros, controlar a inflação. Não tem outra saída – acrescenta.