Foi de muita cautela o tom da teleconferência realizada ontem por um grupo de economistas e especialistas em Direito sobre o impacto econômico da Operação Lava-Jato. O dado mais impactante - redução de R$ 87 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2015 - foi resultado de um cenário conservador, conforme explicou Gesner Oliveira, ex-presidente do Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade) e sócio da consultoria GO Associados.
O cálculo é baseado em redução de 20% dos investimentos da Petrobras e de 10% nos projetos de empresas de obras públicas do setor de construção civil, as mais afetadas pela investigação da força-tarefa de Curitiba. Uma perda deste tamanho equivaleria a quase 2% do PIB, mas os organizadores destacaram que há compensações que mitigam o efeito do freio na construção pesada na economia. No entanto, a queda na atividade deste ano projetada no estudo é de 0,5%.
- É possível atenuar os efeitos se houver cuidado, como parece ser o caso, de promover parcerias público-privadas, concessões e o ajuste do câmbio, que estimula exportações e aumenta a competitividade do produto nacional, com resgate da credibilidade da política econômica - ponderou Gesner.
A conversa tangenciou hipóteses mais complexas, tratando esses desdobramentos como possíveis, não como prováveis. Frisando que não se trata de defesa do abandono da investigação -"muito pelo contrário" -, Gesner recomendou que a investigação e o julgamento sejam feitos da forma "mais técnica e cuidadosa possível", para demonstrar irregularidades e eliminar os problemas "sem dano ao mercado, à concorrência e ao capital social".
- É muito importante que haja cuidado para evitar restrição de crédito muito maior do que a que normalmente ocorreria com a queda na atividade econômica - destacou o economista.
O estudo feito pelo Centro de Estudos de Direito Econômico e Social (Cedes) e pelo Grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) será discutido em seminário em São Paulo na segunda-feira