O protesto de caminhoneiros que interrompe estradas, paralisa indústrias e provoca desabastecimento pelo país guarda semelhanças com o movimento que sacudiu o Brasil em junho de 2013.
A onda de bloqueios nas rodovias se agigantou sem o protagonismo de sindicatos expressivos, a exemplo das marchas que tomaram as ruas há quase dois anos. De seis entidades nacionais da categoria ouvidas por Zero Hora, nenhuma afirmou liderar a organização.
O vice-presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (Fecam), André Costa, diz que tomou conhecimento das mobilizações quando ganharam força no Mato Grosso, depois viu se espalharem por outros Estados até pipocarem no RS com líderes locais e quase sempre anônimos.
- Não há uma organização clara. Por isso, a situação é preocupante, mas era uma tragédia anunciada - desabafa Costa.
Entidades de cunho local, como o Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Ijuí, têm relação mais próxima com os protestos.
- Quando eclodiu, fui para a pista junto do movimento, mas não fomos nós que organizamos. Em cada cidade, alguns motoristas decidem quando e onde vão parar - afirma o presidente do sindicato de Ijuí, Carlos Dahmer, que troca informações com colegas de São Sepé, Santa Rosa e Uruguaiana.
Por telefone e redes sociais, atividades são organizadas quase que em tempo real em todo o país.
Assim como ocorreu em junho de 2013, grupos tentam fazer uso político das ações. Na página de caminhoneiros do Espírito Santo no Facebook, uma das principais bandeiras é a saída de Dilma Rousseff do governo - o que não integra a pauta da categoria. Membros do Movimento Brasil Livre divulgam fotos em bloqueios nas estradas pedindo que Dilma deixe o cargo.
Um dos principais líderes de protestos da categoria no passado e atual presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro, Nélio Botelho defendeu voto em Aécio Neves na eleição passada. Porém, preferiu não encampar a interrupção das estradas neste momento:
- O bloqueio das rodovias coloca o usuário contra nós. Só deve ser utilizado quando não há mais qualquer solução.
Confira a posição de algumas das principais entidades de caminhoneiros do país em relação aos protestos
CNTA - Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos. Congrega três federações (dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens, dos Caminhoneiros Autônomos de São Paulo e dos Caminhoneiros Autônomos do Nordeste) e mais de 60 sindicatos e associações no país. Nega participação nos protestos, mas apoia as reivindicações.
Fecam - A Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Estado do Rio Grande Sul e de Santa Catarina representa 180 mil trabalhadores gaúchos do setor e outros 80 mil catarinenses. Reúne nove sindicatos da categoria nos dois Estados. A presidência afirma ter sido pega de "surpresa" pelas mobilizações.
CNTTL - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística. Vinculada à CUT, representa mais de 150 sindicatos filiados e oito federações de transporte rodoviário, ferroviário, metroviário, moto-táxi, portuário, marítimo, fluvial viário e aéreo. Recomendou, em nota, o fim dos bloqueios nas rodovias.
Abcam - Associação Brasileira dos Caminhoneiros. Fundada em 1983, congrega 54 entidades filiadas, incluindo sindicatos, associações e cooperativas e representa cerca de 500 mil caminhoneiros autônomos em todo o país - 200 mil deles de São Paulo. Em nota, afirmou: A Abcam não está conclamando os caminhoneiros autônomos para participarem de nenhuma paralisação.
Mubc - Movimento União Brasil Caminhoneiro. Em expansão, não reúne somente autônomos, mas também empregados, comissionados e profissionais do setor de transporte e embarcadores de cargas. O presidente, Nélio Botelho, afirma que liberou os sindicatos associados para participar dos protestos, mas não se envolveu na organização.
Unicam - União Nacional dos Caminhoneiros. A entidade de classe de âmbito nacional foi fundada em 1998 com o objetivo de representar os interesses de caminhoneiros autônomos e microempresários, com sede em São Paulo. Em carta aberta, sustenta que os protestos atuais surgiram sem participação das entidades tradicionais.