A percepção sobre a situação econômica brasileira piorou em outubro deste ano e atingiu o pior patamar desde 1993. O índice, que chegou aos 30 pontos, é idêntico ao de janeiro de 1999. Os dados fazem parte da Sondagem da América Latina, divulgada nesta quinta-feira, pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com o instituto alemão Ifo.
No início de 1999, o Brasil estava em plena transição do regime de câmbio fixo para o flutuante, o que provocou uma maxidesvalorização do real ante o dólar. Já em abril de 1993, o País vivia a época da hiperinflação, além de ter recém-assistido ao impeachment do presidente Fernando Collor.
A economista da FGV Lia Valls, pesquisadora responsável pela sondagem, avalia que a chegada aos 30 pontos mostra que a percepção sobre o momento econômico está bastante ruim.
- A avaliação da situação atual no Brasil tem tido quedas constantes - disse.
Um quesito levantado nesta edição da pesquisa dá pistas dos motivos por trás dessa deterioração. A falta de confiança na política econômica do governo foi o principal problema citado pelos especialistas ouvidos na sondagem.
- O problema de confiança na política do governo começa a aparecer como um problema grave a partir de 2013. É impressionante como houve uma mudança na avaliação, claramente. Acho que isso está ligado ao momento em que os problemas começaram a aparecer. Você tem a inflação aparecendo cada vez mais como problema. O déficit público também voltou e cresceu - disse Lia.
Na sequência, despertam a preocupação de especialistas a falta de competitividade internacional (algo comum nas economias da América Latina), a inflação, o déficit público e a falta de mão de obra qualificada, nesta ordem. Os analistas ainda revisaram a projeção de crescimento médio para o Brasil nos próximos três a cinco anos, de 2,6% para 2,2%. O novo número posiciona o País como o segundo pior desempenho da região, atrás apenas da Venezuela, que deve ter média negativa em 0,1% no período.
Apesar da deterioração sobre a situação atual, o Índice de Clima Econômico (ICE) brasileiro subiu 3,6% no trimestre até outubro em relação aos três meses até julho, passando de 55 pontos para 57 pontos. O impulso veio das expectativas, que avançaram 23,5% (para 84 pontos).
- Deve ter captado (o período das eleições), porque não houve nenhuma mudança, nada que inspirasse melhora das expectativas - afirmou a economista.
Ao longo dos meses de setembro e outubro, as sondagens empresariais da FGV mostraram piora da situação atual e melhora das expectativas. À época, os pesquisadores atribuíram o avanço das percepções em relação ao futuro à redução das incertezas diante da definição do novo presidente da República.
Lia destacou ainda que o cenário não deve ser muito promissor nos próximos meses, diante do enfraquecimento da visão de clima econômico no mundo. O ICE mundial recuou 14% em outubro, para 112 pontos, com piora nas principais economias: Estados Unidos, China e União Europeia. "Há uma possível tendência de piora ou cenário não tão bom nos próximos períodos, pela piora no clima econômica do mundo", disse.