Em 1971, uma unidade da Febem em Porto Alegre sofreu um motim. Um grupo de detentos tomou conta do prédio e instaurou pavor entre os funcionários. O chefe da equipe de psicólogos da casa, Saul Nicolaiwesky, mandou chamar um estagiário de 19 anos. O garoto entrou na unidade e, dentro de poucos minutos, a situação estava resolvida. O rapaz era Marco Antônio Gomes Costa, o atual presidente da Argos Guindastes.
- Dois brigadianos bateram na porta lá de casa e falaram "estamos atrás do Marco". Minha mãe desmaiou na hora. O meu mentor, doutor Saul, queria que eu resolvesse o motim. Eu entrei lá sozinho e conversei com eles de maneira simples. Estava chegando o Carnaval, e eles queriam tocar música. Negociei o fim do motim por um violão - lembra-se Costa, 61 anos.
Hoje, o ex-estagiário da Febem utiliza atributos adquiridos à época de negociador para dirigir a marca líder no mercado de guindastes no Brasil. Comanda 260 funcionários, tem unidades em todos os Estados do país e fatura R$ 160 milhões por ano. O responsável por essa trajetória tão diversa - e vitoriosa - é apenas um, segundo Costa: o instinto de empreendedor. O empresário conta que nunca se apegou a empregos ou negócios que não davam dinheiro. Já trabalhou com exportação de arroz, fabricação de tecidos, venda de sapatos, e, há 12 anos, produz e vende guindastes.
A história da Argos começa com um convite de um amigo. Costa, que iniciou duas faculdades (história e ciências sociais), mas não concluiu nenhuma, rodava entre negócios no Rio Grande do Sul. Esse amigo lhe ofereceu a sociedade no grupo Imap. Ele aceitou e ficou responsável pelos projetos, a rede de representantes e a carteira de pedidos do setor de guindastes. Viu que o ramo era bom e decidiu seguir em frente. Começou com 70 funcionários, produzindo 400 máquinas. Sem muito conhecimento do setor, escolheu não contratar especialistas para auxiliá-lo. Apostou apenas na intuição:
- O empreendedor não tem medo de perder tudo e começar de novo. É um ser que tenta andar à frente. É um lema gasto, mas que eu uso: unir trabalho e honestidade é o caminho para o sucesso.
Instalada em Santo Antônio da Patrulha, a fábrica é uma das maiores da região. Produz cerca de 1,8 mil guindastes por ano e tem 25 representantes, em todos os estados do Brasil. O local, não tão comum para empresas deste porte, é estratégico, segundo o empresário. A poucos quilômetros da BR-101, tem acesso fácil a cidades importantes do Rio Grande do Sul e, principalmente, a mercados de fora do Estado - para onde vai a maior parte da produção.
A expectativa de Costa para a Argos, depois de 12 anos, é de crescimento. O presidente pretende investir na automação da indústria, para aumentar a produção sem diminuir a equipe. Além disso, procura empregados qualificados para reduzir custos de produção, criar produtos inovadores e ter ideias inéditas. Outro objetivo é investir no mercado externo.
- Se na Europa a concorrência é desleal, na América Latina somos competitivos. Investir nos "hermanos" é essencial para o crescimento. - garante Costa.
O homem que odeia domingos
- O dia mais frustrante é o domingo - diz Marco Costa.
Sem constrangimento, explica:
- É quando eu não estou com minha equipe.
O gosto (quase vício) por empreender vem de família e começa cedo. O pai de Costa era operário naval no Estaleiro Só, antiga fábrica de navios instalada em Porto Alegre, falida em 1995. O empresário lembra do pai chegando em casa de bicicleta, de macacão impecável, mas "cheirando a trabalho".
De pai para filho, a característica foi passada à terceira geração da família. Com 14 anos, Leonardo, um dos filhos de Costa, já era seu sócio. Aos 16, ganhou um posto de gasolina de presente do pai, com quem criou um programa de administração de unidades . Hoje, o rebento é dono de uma das grandes concorrentes da Argos:
- Ele podia ser meu dependente, seria bastante conveniente. Não é apenas por dinheiro, mas por satisfação pessoal.
Foi o filho, inclusive, que batizou a empresa como Argos.
Leitor de mitologia grega, inspirou-se no nome do barco que levava os argonautas em direção ao desconhecido. A mais nova geração da família já demonstra as habilidades de seus antecessores:
- Um dia, pescando, meu neto de quatro anos falou que tinha uma grande ideia para abrir uma loja na beira da estrada - conta Costa, orgulhoso do espírito que, ao que parece, já está no DNA.
Ainda que pense em dobrar o faturamento da Argos até 2017 - investindo em qualificação, automação e aumento de participação no mercado estrangeiro -, o empresário não se apega ao negócio. Assim que a empresa deixar de impulsioná-lo, não pensará duas vezes antes de investir em um novo setor. Quem sabe em bois da raça angus, já que Costa é também vice-presidente da associação brasileira de criadores da raça. Tem habilitação para vender embriões desde 2012, mas tudo como "hobby", segundo ele.
- Eu sou um vagabundo contumaz - diz.
Difícil acreditar.
Perfil
Fundação: 2002
Local: Santo Antônio da Patrulha
Número de funcionários: 260
Produção: 1,8 mil guindastes por ano
Faturamento: R$ 160 milhões por ano
Previsão: dobrar o faturamento até 2017