Cenas antes improváveis agora se tornam rotina em condomínios residenciais de Porto Alegre. Moradores compartilham a lavagem de roupa em máquinas de uso comum, geralmente no térreo dos prédios. Vizinhos suam na mesma academia de ginástica ou fogem do calorão de 40ºC na piscina coletiva, enquanto os filhos se esbaldam nas brinquedotecas.
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A tendência do momento é viver em condomínios com estrutura de clube privado. Os primeiros surgiram há 20 anos, de forma experimental, mas vêm se aprimorando e expandindo como cogumelos. Dos 2.689 apartamentos lançados ano passado na Capital, 30% foram na nova modalidade.
- É o que as pessoas querem, pela segurança e pelo conforto - diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado (Sinduscon/RS), Ricardo Antunes Sessegolo.
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As empresas detectaram a mudança de comportamento e trataram de adaptar os negócios ao gosto do freguês. Na década de 1960, os apartamentos eram imensos para os padrões atuais - o de dois dormitórios tinha 120 metros quadrados de área. Mas ofereciam apenas uma garagem e, no máximo, um estreito pátio frontal para se sentar ao ar livre. Quando queriam se divertir, as famílias se associavam a clubes recreativos e mandavam as crianças brincarem nas praças do bairro.
A situação mudou. O salão de festas, a pracinha, a piscina, o espaço kids e outras comodidades foram trazidos para dentro dos condomínios, guarnecidos por muros, câmeras de vigilância e portaria 24 horas. Não é preciso mais sair à rua para manter a forma, reunir os amigos e confraternizar.
Mas a alteração tem um preço, que influi no cotidiano das pessoas. Para montar o clubinho particular, as construtoras encolheram os apartamentos. Hoje, dois quartos são distribuídos em 70 metros quadrados. Chegou-se ao extremo de a garagem do automóvel ser maior que a suíte do casal.
- Costumamos dizer que vendemos por metro cúbico, e não mais por metro quadrado - observa Cássia Kroeff, sócia da Raul Pêgas Arquitetos.
Papos fluem na lavanderia
A advogada Carolina Marin, 27 anos, gostou do novo apartamento, embora abranja menos de 40 metros quadrados - metade do que habitava antes. É que utiliza a área de convivência como se fosse uma extensão da moradia. A taxa de condomínio subiu de R$ 100 para R$ 350 por mês, mas tem compensações como academia de ginástica, salão de festas e piscina.
Carolina percebeu que um lugar inusitado, nada menos que a lavanderia utilizada pelas 36 famílias do condomínio, favorece as amizades. Enquanto as quatro máquinas giram, e se espera a roupa ficar limpa e seca, a conversa corre solta. É a hora de descontrair.
- Há um respeito entre os moradores, as coisas funcionam muito bem - elogia a advogada.
O técnico industrial Jorge Antônio Fabras, 41 anos, também escolheu uma residência enxuta - três dormitórios confinados em 80 metros quadrados -, em troca de um clube interno. Uma das surpresas foi a sala de estudos, silenciosa e equipada, onde os dois filhos, de 13 e seis anos, podem fazer as lições escolares.
O presidente do Sinduscon, Ricardo Sessegolo, diz que os condomínios clubes trazem segurança à construção civil. As empresas vendem no ritmo que desejam, sem a pressa de negociar já na planta. Só não lançam mais projetos por escassez de grandes terrenos na Capital.
Para o vice-presidente de comercialização do Sindicato da Habitação (Secovi), Gilberto Cabeda, foi descoberta uma estratégia de marketing hipnótica para vender os novos condomínios. Ao mesmo tempo, ressalta que engenheiros e arquitetos se especializaram na racionalização dos espaços.
- O que menos importa é o apartamento. As pessoas não vão viver nele, mas na infraestrutura do condomínio. Ficam seduzidas - destaca Cabeda.
Em quatro décadas, os apartamentos de dois quartos perderam, em média, 50 metros quadrados para dar espaço ao clube particular da família. Confira as mudanças dentro e fora de casa: