Se uma palavra definisse o estado de espírito do executivo que dirige o Citibank no Brasil, sem dúvida a escolha recairia em otimismo. O crescimento de pouco mais de 2% não lhe tira o sono, menos ainda os gargalos da infraestrutura ou o ambiente nada fácil a quem precisa empreender. Ele não diz, mas talvez seja em leituras frequentes da história do país - a mais recente é 1889, de Laurentino Gomes - que Helio Magalhães encontra respostas para sua visão positiva do país e sobre o que o futuro nos reserva. O engenheiro carioca, 61 anos, há um presidindo o banco americano, acredita que as oportunidades são muito maiores do que as dificuldades de hoje e, como sabemos quais são, poderemos adotar as soluções para resolvê-las. Casado, pai de dois filhos e ex-presidente da American Express, com passagens por EUA e México, o executivo está convicto de que a classe média, a exemplo dos EUA pós II Guerra, será o grande motor do crescimento dinâmico da economia brasileira. Mas não já. 2014 não nos reserva grandes esperanças. Um ano de debate diante da campanha eleitoral e, 2015, de ajustes com a nova política a ser implementada pelo governo. Mudanças mesmo veremos em 2016, como você lerá na entrevista, concedida durante pouco mais de uma hora a ZH em sua primeira visita ao Estado após assumir o cargo.
Quebra de Eike
Não diria que a situação afasta investimentos do Exterior mas evidentemente não é bom estar nos jornais falando de uma situação como essa. Temos conversado muito aqui no Brasil sobre nossa imagem lá fora. Alguns investidores acham que estamos mais pessimistas do que eles. O México, apontado como sucessor do Brasil na preferência dos investidores externos, passa por situação muito positiva, combinação de dois fatores. O primeiro é a dependência dos EUA e, com a recuperação americana, o México vai junto. E o segundo são reformas do novo governo. Mas do ponto de vista do investimento estrangeiro o México receberá este ano menos da metade do Brasil. Em 2012, foram US$ 18 bilhões e, para nós, US$ 65 bilhões. A diferença é que o México está crescendo muito e o Brasil, pouco. Continuamos um dos três principais mercados para investimentos externos, temos muitas oportunidades.
Cenário complexo
É claro que o Brasil tem um cenário complicado: imposto alto, leis complexas, ambiente do ponto de vista trabalhista nada simples e caro. E temos despesas adicionais que elevam o Custo Brasil. Mas é um mercado grande, com muitas oportunidades de investimento.
Na Alemanha, por exemplo, a economia é grande, mas são poucas as oportunidades. No Peru, é o contrário. Quando você vê estabilidade sem conflitos, o Brasil se destaca.
Conflito nas grandes cidades
Não acredito que as manifestações prejudiquem a imagem brasileira. Não vi nenhuma indicação de que os protestos tenham dado repercussão negativa. É claro que o vandalismo, embora pontual, é ruim. Mas o mundo vive protestos como esses que, quando pacíficos, são características da democracia.
Grandes mudanças no novo governo
Grandes mudanças necessárias não virão em ano eleitoral. Em qualquer lugar é assim. As transformações são feitas em início de governo. Nos últimos anos, a gente tem falado muito em imposto, em simplificar o ambiente de negócios, e gostaríamos que isso fosse mais rápido. Mas, se voltarmos uma década, o Brasil está em situação muito melhor. Essa transformação que o país passou de classes sociais, a redução da pobreza, é espetacular. Infelizmente, a transformação veio antes de mudanças necessárias, como a da infraestrutura.
O peso da classe média
Não se pode dizer que o Brasil andou para trás, ao contrário. Estamos caminhando para ser uma economia dinâmica com o motor na classe média. Aliás, este foi o segredo dos EUA. Depois da II Guerra Mundial, foi a classe média que levou os EUA a um patamar de economia robusta e com muitas oportunidades.
Infraestrutura e a Copa
É claro que impactam o crescimento, até mesmo em segmentos nos quais o Brasil tem se saído muito bem, como o agrícola. Mas conseguimos tanta produtividade que, apesar da ineficiência em transporte, por exemplo, temos ganhos. Se você tiver de escolher um problema, esse é o melhor porque, na hora que investir em infraestrutura, o restante será resolvido. O Brasil ficou parado décadas e agora, sente falta da experiência em acelerar projetos.
Crescimento pífio no ano
É uma combinação de fatores: o contexto mundial impacta e não conseguimos chegar ao nível de investimentos de que precisamos. Deve ser 18% do PIB, mesmo de 2012. E a inflação também não ajuda. Na média do ano, deve ficar dentro da meta, mas se você separar a alta dos preços controlados (1%) da dos livres (7,5%), vai ver que há distorção.
Os estímulos nos EUA
Em 2014, os EUA vão começar a elevar a taxa de juro para retirar liquidez, o que impactará as moedas e levará mais investimentos para lá. Já vimos neste ano um pouco disso. Mas não acredito que o real terá uma desvalorização muito grande. Vai ter, mas não tão explosiva, algo entre R$ 2,35 e R$ 2,40, cotação acima da cotação de hoje, o que não ajuda na inflação. É mais uma pressão, que terá de ser compensada com juro alto. Hoje, o mercado espera que o ano feche em 10%. Não trabalhamos com uma taxa muito maior do que esta em 2014, talvez 10%, 10,5%.
Ano eleitoral nervoso
Há muitos projetos em espera nas empresas porque o foco é de curto prazo e não há atividade econômica robusta. IPOs (abertura de capital) e emissões, por exemplo, também não deverão aumentar em 2014 porque será um ano de debate. A dúvida, então, fica para 2015. Dependerá do resultado da eleição, mas deverá ser um ano importante, de ajustes econômicos e de preparação ao futuro, para 2016.
Vamos pular 2014
Não vamos pular o ano, mas 2014 será muito parecido com 2013. E 2015 dependerá da política econômica. Na hipótese de reeleição, como o governo já aprendeu ao longo dos últimos anos, vai tentar resolver questões prioritárias de forma distinta sobre inflação, investimento estrangeiro. O Brasil tem fundamentos sólidos, mas teremos ainda dois anos muito parecidos. 2014 será rico do ponto de vista do debate, pois o Brasil precisa discutir o próximo modelo para o crescimento. Fechamos um ciclo e precisamos abrir outro.
Imposto não é o vilão
Precisamos criar condições efetivas para que o Brasil cresça com a política já adotada e focada nos três pilares (metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário), com destaque para os gastos públicos. A gente fala em imposto, mas o problema do país é o gasto público muito alto, que precisa ser sustentado pelos impostos, uma consequência do processo. Precisamos ser mais criteriosos e eficientes nesses gastos.