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Eles fazem parte da nobreza crioula, valem milhões e são cuidados como verdadeiros patrimônios. Integrantes de um grupo seleto, cavalos que alcançam valores recordes de venda têm trajetória semelhante. A carreira bem sucedida começa pela genética, passa pela beleza e funcionalidade dos animais e é coroada pelo desempenho dos descendentes em provas como o Freio de Ouro – principal competição de aperfeiçoamento e seleção da raça. Parece pouco, mas são raros os que conseguem alcançar tamanha façanha.
A trajetória do garanhão JLS Hermoso, da Cabanha Maior, de Painel (SC), começou tímida e alcançou o topo quando o animal já tinha encerrado a carreira de atleta. Campeão potranco da Expointer em 2002, o animal foi comprado pela cabanha catarinense naquele ano. Em 2003, voltou a Esteio, onde conquistou o título de cavalo menor. Em 2007, participou da final do Freio de Ouro, ficando em 18º lugar. Até então, o cavalo valia apenas um pouco acima da média da raça.
Foi quando seus filhos começaram a se destacar na morfologia e nas pistas do Freio de Ouro que o mercado percebeu algo inusitado na genética do garanhão.
– Em cinco anos, quatro filhos do JLS sagraram-se campeões – lembra Lauro Varela Martins, gerente-administrativo da Cabanha Maior.
Após o filho Cadejo da Maior ter conquistado o Freio de Ouro em 2013, o pai Hermoso atingiu, no ano seguinte, valorização recorde na raça. Na época, a venda de uma cota com seis coberturas a R$ 650 mil (R$ 108,33 mil cada) fez o animal alcançar avaliação de R$ 16,25 milhões. O cálculo é feito com base no número de coberturas possíveis por ano – 150 no caso dos cavalos com registro de mérito da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC).
No ano seguinte, outro filho de JLS, o Destaque da Maior, desbancou o irmão Cadejo, e ficou com o título do Freio de 2014. Completam a lista de gerações premiadas o Buenaço da Maior e o Farrapo da Maior – ambos grandes campeões da Expointer.
– Essa diversidade do JLS Hermoso, que produziu campeões com éguas de linhagens diferentes, comprova que ele é um reprodutor universal – destaca o gerente-administrativo.
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Na cabanha na serra catarinense, o garanhão de 16 anos vive ao lado de dois filhos vencedores, o Buenaço e o Farrapo. O Cadejo e o Destaque foram vendidos. Com potreiro e cocheira exclusivas, o animal é criado em ambiente mais próximo possível ao natural. Com coberturas vendidas por R$ 15 mil cada, o animal gera faturamento próximo de R$ 1 milhão ao ano – incluindo venda de sêmen e de descendentes.
Os cavalos que atingem valorização na casa dos milhões são exceção, são ícones, explica Onécio Prado Junior, vice-presidente de Comunicação e Marketing da ABCCC.
– São os chamados raçadores, bem menos de 1% do total – afirma Junior.
A valorização do cavalos aumenta também com o registro de mérito concedido pela ABCCC – com base na performance do cavalo e de seus descendentes. Entre os mais de 435 mil exemplares registrados no Brasil, apenas 710 têm o registro – 0,16% do total. Presidente da ABCCC, Eduardo Suñe destaca a importância de características como rusticidade, resistência, poder de recuperação, modos de andar, aptidão vaqueira e temperamento:
– E essa seleção deve muito às provas do Freio de Ouro, que avaliam os principais pilares da raça crioula, incluindo a morfologia.
Na próxima quinta-feira, 96 conjuntos de animais e ginetes entrarão em pista no parque Assis Brasil, em Esteio, em busca do tão cobiçado título.
– Os animais que ganham o Freio multiplicam sua valorização automaticamente. É a prova mais difícil e completa da raça – confirma Fábio Crespo, leiloeiro rural.
Aos três anos de idade, em 2011, AS Malke Sedutor-TE foi o grande campeão da Expointer, em Esteio. No ano seguinte, conquistou o grande campeonato da exposição morfológica da Federação Internacional de Criadores de Cavalos Crioulos (FICCC), onde concorrem os melhores animais do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Com filhos premiados nos últimos anos, como o campeão potranco da Expointer, o cavalo terá três representantes de sua primeira geração estreando na parte funcional como finalistas do Freio de Ouro 2017.
– A genética que o animal passa a seus descendentes é o primeiro passo. Se seus filhos começam a ser campeões, de uma modalidade ou de outra, a valorização é certa – explica Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates.
Cada cobertura do AS Malke Sedutor-TE, que está muito próximo de conquistar registro de mérito da ABCCC, é vendida por R$ 12 mil. Em média, outros cavalos que a cabanha detém parte têm cruzamentos vendidos por R$ 6 mil, a metade do valor do Sedutor, conta o veterinário Fernando Velo Filho, administrador da Cabanha Malke.
– AS Malke Sedutor é um cavalo novo ainda. E já é o nosso reprodutor de ponta, o carro-chefe dos nossos leilões – afirma o pecuarista José Schwanck, proprietário e fundador da cabanha há 29 anos.
Mesmo com a retração do mercado crioulo nos últimos dois anos, por conta da situação econômica vivida pelo país, a procura por cruzamentos com o garanhão ainda é expressiva. Das 70 coberturas que a cabanha tem direito de vender por ano, cerca de 25 são oferecidas ao mercado e o restante, feitas em fêmeas da própria propriedade.
– Apesar da crise, neste ano, a procura por coberturas deve aumentar com a estreia dos filhos do Sedutor nas provas do Freio de Ouro – completa o administrador.
Seguro de vida e congelamento de sêmen para proteger genética
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A morte do garanhão Equador de Santa Edwiges, exatamente um mês após sua venda por quase R$ 7 milhões, trouxe à tona a necessidade de garantir o patrimônio representado por animais valorizados. O cavalo, criado pela cabanha Santa Edwiges, de São Lourenço do Sul, e vendido a um grupo de 21 investidores em maio, não tinha seguro. O material genético, que poderá gerar até 150 filhos em tempo indeterminado, está congelado em uma central de reprodução, em Pelotas, no sul do Estado.
Um dos motivos de o animal não ter seguro é a restrição que as seguradoras impõem para a cobertura de animais no país. Hoje, duas empresas multinacionais atuam no mercado brasileiro de seguro de equinos: a Fairfax Brasil, de origem canadense, e a suíça Swiss RE. O limite técnico estabelecido pelas companhias é de R$ 600 mil.
– A questão é o tamanho da carteira. Como não é um seguro de massa, como o de carros, as seguradoras não podem assumir um valor que coloque em risco a saúde financeira do negócio – explica a corretora Karen Matiele, sócia-proprietária da Denner Seguro de Animais e membro da Comissão de Seguro Rural do Sindicato dos Corretores de Seguros de São Paulo (Sinpor-RS).
Para aumentar o limite, é necessário mudar a cultura em torno do seguro de animais, diz Karen:
– Hoje, o percentual de equinos segurados é muito pequeno. Aos poucos, o pecuarista está se conscientizando da importância de mitigar riscos.
Com 21 cotas vendidas por R$ 6,97 milhões em maio, o Equador de Santa Edwiges morreu em decorrência de infecção aguda do cólon, conforme laudo da necropsia. Para tentar compensar o prejuízo dos investidores, a cabanha Santa Edwiges, que ainda detinha parte do cavalo, cedeu toda reserva de sêmen congelado que dispunha aos compradores. Veterinário e proprietário da central de reprodução equina onde o material está armazenado, Felipe Hartwig explica que o congelamento de sêmen é a forma mais eficiente de preservar o patrimônio do cavalo:
– A genética é o bem mais valioso do animal. Mesmo que tenha seguro, é preciso preservar o material genético.
Em condições adequadas, seguindo normas técnicas, o sêmen congelado pode ser utilizado por tempo indeterminado, esclarece Hartwig. A quantidade guardada de material genético do Equador de Santa Edwiges chega a mais de 3 mil palhetas, cada uma com 0,5 ml – o equivalente a 600 doses no total.
Considerado um dos cavalos mais valiosos da raça crioula, por ter produzido campeões do Freio de Ouro e da Expointer na primeira geração, o mais jovem garanhão a receber o registro de mérito da ABCCC já tem seu sêmen disputado pelo mercado.
– Tem criador disposto a pagar R$ 5 mil por dose. A valorização do material genético tende a alcançar preços astronômicos – prevê o leiloeiro Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates.
Para garantir o patrimônio
Seguro de vida
- Seguradoras têm limite técnico de cobertura no país, no máximo R$ 600 mil.
- O custo médio por ano do seguro de vida é de 5% do valor do cavalo.
- A apólice do animal de R$ 500 mil custa R$ 25 mil ao ano, por exemplo. A franquia costuma custar até 10% da avaliação do animal.
Sêmen congelado
- O material genético (sêmen) de equinos pode ficar congelado por tempo indeterminado.
- A inseminação artificial normalmente é feita com duas a oito doses de sêmen, dependendo da qualidade do material.
- Depois de morte, as doses podem ser usadas para gerar até no máximo 150 filhos (no caso de animais com registro de mérito), independentemente do prazo.
De pai para filho
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Filho de um dos cavalos mais importantes da raça crioula no Chile, o AS Malke Sedutor-TE, da Cabanha Malke, de Uruguaiana, alcançou valorização de R$ 10 milhões com apenas seis anos de idade. O valor, em 2013, foi calculado com base na venda de 20% do animal por R$ 2 milhões. No mesmo ano, um de seus filhos foi vendido por R$ 425 mil. Sem nunca ter participado do Freio de Ouro, por conta de uma lesão no membro posterior esquerdo, o garanhão compensou a ausência na competição com prêmios morfológicos próprios e de seus descendentes.
Aos três anos de idade, em 2011, AS Malke Sedutor-TE foi o grande campeão da Expointer, em Esteio. No ano seguinte, conquistou o grande campeonato da exposição morfológica da Federação Internacional de Criadores de Cavalos Crioulos (FICCC), onde concorrem os melhores animais do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Com filhos premiados nos últimos anos, como o campeão potranco da Expointer, o cavalo terá três representantes de sua primeira geração estreando na parte funcional como finalistas do Freio de Ouro 2017.
– A genética que o animal passa a seus descendentes é o primeiro passo. Se seus filhos começam a ser campeões, de uma modalidade ou de outra, a valorização é certa – explica Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates.
Cada cobertura do AS Malke Sedutor-TE, que está muito próximo de conquistar registro de mérito da ABCCC, é vendida por R$ 12 mil. Em média, outros cavalos que a cabanha detém parte têm cruzamentos vendidos por R$ 6 mil, a metade do valor do Sedutor, conta o veterinário Fernando Velo Filho, administrador da Cabanha Malke.
– AS Malke Sedutor é um cavalo novo ainda. E já é o nosso reprodutor de ponta, o carro-chefe dos nossos leilões – afirma o pecuarista José Schwanck, proprietário e fundador da cabanha há 29 anos.
Mesmo com a retração do mercado crioulo nos últimos dois anos, por conta da situação econômica vivida pelo país, a procura por cruzamentos com o garanhão ainda é expressiva. Das 70 coberturas que a cabanha tem direito de vender por ano, cerca de 25 são oferecidas ao mercado e o restante, feitas em fêmeas da própria propriedade.
– Apesar da crise, neste ano, a procura por coberturas deve aumentar com a estreia dos filhos do Sedutor nas provas do Freio de Ouro – completa o administrador.