As tardes nos Bosques de Palermo são lindas. Foto: Travel Buenos Aires/Divulgação Famoso pastel de papas, delicioso. Foto: Reprodução/Instagram

Caue Fonseca
Há anos uma grande opção de roteiro turístico dos brasileiros, Buenos Aires tem atrações conhecidíssimas e imperdíveis. Quem nunca ouviu falar, por exemplo, sobre a suntuosidade do Teatro Colón, da beleza da livraria El Ateneo ou do célebre cemitério da Recoleta? Porém, a ideia desta reportagem é indicar passeios e dicas que fujam daquilo que todos os guias listam sobre a megalópole argentina. Para isso, Donna consultou moradores e habitués da cidade e chegou às sugestões à seguir. Boa viagem!
FAÇA UM PIQUENIQUE
Eis uma forma de aproveitar três dos melhores aspectos de Buenos Aires ao mesmo tempo: os parques, as fiambrerias e as winehouses. A cidade tem parques lindos, tranquilos, seguros e perfeitos para um piquenique, como o Parque Centenário e o Parque Tres de Febrero, mais conhecido por lá como Bosques de Palermo. Além de sombra, pontes, bancos e lago, o parque conta com o Jardim Botânico – além de um jardim de rosas (Rosedal) – e com o Planetário Galileo Galilei.

Passe em uma fiambreria (há diversas bem tradicionais, com filiais espalhadas pela cidade, como a Franco Parma, a Benavidez e a Valenti), compre frios e queijos incríveis fatiados na hora, um pão gostoso ou peça para montarem um sanduíche direto no balcão – um hábito bem portenho. Seguramente no caminho até o parque escolhido vai haver uma winehouse para garantir uma boa “botella” de vinho a preços bem mais camaradas do que no Brasil. Algumas das mais famosas são a Winery, a Vinoteca Frappé e a Tonel Privado. Não esqueça o saca-rolhas e a canga!

CONHEÇA AS (OUTRAS) LIVRARIAS
Como você já deve saber, Buenos Aires conta com uma das livrarias mais belas do mundo, a El Ateneo e seus mais de 120 mil títulos, na Avenida Santa Fé, na Recoleta. Porém, ela é apenas uma das mais de 450 da cidade. Então, vale muito conhecer outras com diferentes perfis. Em San Telmo, um dos bairros de vida cultural mais rica da cidade, há todo um circuito delas, como a Librería Ávila (Adolfo Alsina, 500) – a primeira da cidade e ainda uma das mais requisitadas pelo seu acervo de antiguidades – e a Cabure Livros (México, 620), que além de vender títulos, promove entrevistas e debates com escritores e outros intelectuais.

Em Palermo, visite a Eterna Cadencia (Honduras, 5.574) – com múltiplos ambientes, sofás, cafés e os charmosos lustres de livros. Não dá vontade de ir embora nunca. Uma dica extra: muitas livrarias de bairro de Buenos Aires também vendem discos de vinil. Vale garimpar.
CURTA UM JANTAR PERONISTA
Dois ícones da política argentina são o presidente Juan Domingos Perón e a primeira-dama Eva Perón, mas há uma forma mais divertidas de aprender sobre o peronismo do que, por exemplo, visitar o túmulo de Evita na Recoleta. Dá para combinar História, gastronomia e, vá lá, alguma pirraça jantando no Perón Perón Resto Bar (Ángel Justiniano Carranza, 2225), em Palermo. A pegada do lugar fica no limite entre a veneração e a sátira, mais ou menos a forma como lidamos, aqui no Rio Grande do Sul, com o nosso bairrismo. Há um altar com velas e outras homenagens para Evita, a cada hora, os alto-falantes tocam a marcha do partido e os frequentadores se levantam para entoá-lo.

O cardápio é cheio de piadas – a cerveja escura extra forte, por exemplo, é chamada de “Doble K”, em homenagem ao casal de presidentes Néstor e Cristina Kirchner –, pra lá de saboroso e com preços bem honestos. Destaque para o “pastel da papas”, iguaria tradicional que é uma espécie de escondidinho de batata gigante. Atenção: só aceita dinheiro.
TROQUE O TANGO PELO JAZZ
Desembarque no Aeroporto de Ezeiza e dicas dos espetáculos de tango saltarão no seu colo – os mais tradicionais são o Señor Tango (Vieytes, 1.655, embora o preço seja salgado e a qualidade questionável), o Tango Porteño (Cerrito, 570) e o Esquina Carlos Gardel (Carlos Gardel, 3200).

Mas nem só de tango vive Buenos Aires. Portanto, uma boa opção é, ao menos em uma das noites da viagem, aproveitar para conhecer melhor a cena do jazz na cidade, que ganhou força na última década. Em Palermo, por exemplo, a poucos metros um do outro há o Notorious (Callao, 966) e o Clássica & Moderna (Callao, 892, que durante o dia também é livraria e café) e mais adiante o Thelonious Club (Nicaragua, 5.549). Em San Telmo, visite o Bebop Club (Moreno, 364) – fundado em 2014, é um charmoso bar subterrâneo, com iluminação intimista e aconchegante. A cara do bairro.
CIRCULE SOBRE DUAS RODAS
Em uma cidade imensa é comum a sensação de não ter visto tudo. Curtir algumas horas em um parque, por exemplo, é deixar de visitar outros tantos. Daí a utilidade de um passeio com uma bicicleta alugada: uma forma de curtir o ar puro e as múltiplas áreas verdes de Buenos Aires e, de quebra, conhecer os principais pontos da cidade.

Dica: todas as sextas-feiras, a partir das 10h, há um passeio guiado em português, realizado pela Aguiar Buenos Aires, agência especializada em turismo para brasileiros na Argentina. O preço varia conforme o número de participantes, e inclui guia turístico, aluguel de bicicleta com capacete e água para o mate. O trajeto de 10 quilômetros, cumprido em aproximadamente 3h30min, sai do Jardim Botânico, em Palermo, e percorre os Bosques, Rosedal, Plaza Francia, Cemitério da Recoleta, Flor Metálica e Faculdade de Direito. Mais informações em info@aguiarbuenosaires.com
PECHINCHE EM VILLA CRESPO
Já houve épocas de câmbio mais favorável em Buenos Aires. Em áureos tempos de real valorizado, era comum ver bairros chiques para compras, como Palermo Soho, tomados de brasileiros. De uns anos para cá, a crise econômica pegou forte também em Buenos Aires e a cidade encareceu. Mas ainda há lugares em que se consegue boas pechinchas, especialmente em roupas. É o caso dos outlets de Villa Crespo. Dentro do bairro, as ruas obedecem a uma certa divisão informal: a Córdoba e, especialmente, a Aguirre reúnem lojas de marcas internacionais, que trazem basicamente peças de coleções antigas a preços promocionais. Já na Scalabrini Ortiz estão lojas menores locais às dezenas, enquanto na Murillo ficam as especializadas em couro. Também vale visitar as pequenas lojas de decoração e lembrancinhas de design. Leve pesos ou dólares: muitas oferecem descontos significativos para compras em dinheiro. Para chegar lá é só pegar o metrô e descer na estação Malabia, da linha B.
CONHEÇA A ARTE URBANA
Outra faceta de Buenos Aires que talvez você desconheça é a dos grafites e outras intervenções urbanas. Impulsionados pela Ley de Muralismo, de 2009, que facilitou a autorização de donos de imóveis para intervenções artísticas, bairros como Palermo, Colegiales, Villa Crespo, Congreso, Barracas, Monserrat e La Boca foram tomados de pinturas enormes pelos muros. Desde então, a cidade passou a atrair artistas consagrados mundialmente.
A dupla suíça Sabina Lang e Daniel Baumann, por exemplo, cuja marca registrada são os arco-íris psicodélicos, coloriu a parte inferior da ponte da Faculdade de Direito.

Também há um passeio guiado (em espanhol e inglês) só para conhecer os grafites de artistas como Martin Ron (foto), Blu, Fintan Magee e Alice Pasquini, mobilizado pela equipe do site Buenos Aires Street Art: às terças, quintas e sábados, às 15h45min. A caminhada de aproximadamente duas horas e meia começa em Colegiales e termina em Palermo Hollywood. Custa 400 pesos (R$ 65). Mais informações pelo email info@buenosairesstreetart.com
MUSEUS ALÉM DO MALBA
Se pensarmos em arte e Buenos Aires, o que vem de imediato à mente é o Museu de Arte Latino-Americana, o famoso Malba. Todavia, há dezenas de outros museus maravilhosos na cidade. A começar por um a metros dali, o Museu Nacional de Bellas Artes (Del Libertador, 1.473) que tem obras de artistas como Degas, Goya, Picasso, Polock, Rodin, Rothko, Van Gogh entre outros do mesmo calibre. E o melhor: a entrada é gratuita e só fecha às segundas-feiras.

Visitar museus também é uma forma de conhecer melhor personalidades argentinas, como o Museu Evita (Calle Lafinur, 2988), em Palermo Chico, e o Museu Casa Carlos Gardel (Jean Jaures, 735), em Abasto. Exposições renomadas de arte contemporânea costumam passar pela Fundación Proa (Don Pedro de Mendoza, 1929), que você pode visitar quando conhecer o vizinho Caminito, em La Boca.
VISITE UM CENTRO CULTURAL
É um conceito de lugar que não é habitual por aqui, mas que na capital portenha é para lá de comum. Cada bairro de Buenos Aires tem seus centros culturais: pequenos complexos com farta agenda de eventos menores para públicos específicos, como shows, peças, exposições e saraus, além de espaços de convivência.

Na área central, por exemplo, uma fachada estreita na Avenida Corrientes, 1.660, esconde o Paseo la Plaza, que tem cinco salas de teatro, além de cafés, restaurantes e um museu dedicado aos Beatles. A Recoleta tem o seu Centro Cultural Recoleta (Junin, 1.930). Em Almagro, o Club Cultural Matienzo (Pringles, 1.249) acolhe artistas da cena independente. Em Abasto, fica um dos mais legais deles: o Ciudad Cultural Konex (Sarmiento, 3.131) é uma antiga fábrica de azeite transformada em um espaço aberto com palcos múltiplos para festivais de música, mostras de cinema e outros eventos.
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