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Alegre¿??, pediu Marina, em busca do melhor cenário para a foto. Ao l
Por Brunna Radaelli
Promotora de eventos, fotógrafa, palestrante, mãe, aventureira. A matriarca da família Klink exerce muitos papéis, mas de uma coisa não abre mão: ir aonde for por uma foto perfeita – nem que precise subir mais de 30 metros no mastro de um barco balançante, em plena Antártica, ignorando os apelos do marido, o navegador Amyr Klink, conhecido internacionalmente por suas expedições marítimas.
Conversamos com Marina em um fim de tarde, quando ela estava de passagem pela Capital para dar uma palestra. E atestamos sua empolgação. Animada e falante, ela não quer ficar parada, muito menos fazer as fotos dentro do hotel.
– Vamos andar por Porto Alegre – pediu ao fotógrafo, mas, na verdade, não era um pedido.
Logo, ela tinha tudo planejado: queria que as fotografias tivessem uma luz perfeita, já que estava quase anoitecendo. Enquanto andou pelas ruas do Centro, tirou fotos, postou no Instagram, comentou a arquitetura da cidade e relembrou viagens. Ela fala rápido, ri muito, faz piadas. Difícil imaginar tanta energia contida dentro de um barco, navegando sem pausa, por três meses.
Com 52 anos e três filhas, a paulistana Marina já viajou mais de oito vezes para a Antártica, um de seus roteiros favoritos. Além do continente gelado, tenta sempre que possível levar as filhas a locais onde a natureza não teve interferência humana. Foram 12 vezes ao Pantanal. Visitaram, também, parques nacionais na Zâmbia, o deserto da Namíbia e a Patagônia chilena e argentina.
Nas viagens pelo mar, Marina percebeu que seu interesse pela natureza era maior do que apenas o resquício do sonho infantil de ser bióloga. Nas fotos das aventuras que viviam, registrava um mundo que se sentia na obrigação de compartilhar com outras pessoas. Foi aí a centelha para somar suas grandes paixões – a família, a fotografia e o mar – em uma série de empreendimentos bem-sucedidos.
A fagulha inicial
Depois de conhecer Amyr, Marina, uma velejadora com mais de uma centena de competições no currículo, decidiu que precisava entender o porquê da obsessão do companheiro pelo continente gelado.
– A primeira vez em que estive na Antártica, em 1994, fui para lá sozinha. Embarquei em um navio russo de trabalho, onde ninguém falava português – conta.
Foi nessa viagem que algo mudou. Após desembarcar para explorar a região, Marina e um pequeno grupo retornavam ao navio em um bote. No meio do caminho, a brasileira intrometida fez tudo parar: de dentro do oceano gelado, uma baleia jubarte se aproximava.
– Todos estavam nervosos, porque ela poderia facilmente virar o bote. Mas a baleia nadava
em círculos ao nosso redor, saía da água e me olhava. Até que não resisti, estendi a mão e toquei nela. Sentir a sua pele, a temperatura, o cheiro... Sei que fui escolhida por ela naquele momento – conta ela, emocionada.
A grande mudança
A força daquele instante ficou com Marina, mas a rotina não permitia que ela entendesse melhor o “chamado”. Uma das produtoras de eventos mais requisitadas do Brasil, ela coordenava em São Paulo o Ateliê de Eventos, empresa que havia fundado em 1982 e que, naquele momento, dedicava-se a festas
de luxo particulares e corporativas. No auge do sucesso, era responsável por cerca de sete casamentos por mês.
– Quem já fez um casamento sabe. É uma festa que demanda mais de um ano de dedicação. E você lidar com sete mães de noiva ao mesmo tempo, uma querendo a festa mais incrível do que a da outra... Não é nada fácil – lembra entre risadas.
Some a isso a tarefa de liderar uma família com três meninas em idade escolar e um marido viajante, que fica em média seis meses do ano no mar. O que pode parecer estafante para Marina era energia: desdobrava-se, ia aos eventos da escola e, sempre que possível, fotografava as filhas, para eternizar os momentos que Amyr perdia durante suas expedições.
Apesar de lidar tranquilamente com a rotina familiar que fugia do convencional, Marina começou a perceber que a ausência do marido poderia ser mal interpretada pelas filhas ainda pequenas:
– Nunca quis que a Antártica fosse algo ruim, responsável por tirar o pai do convívio diário das meninas. Pensando em como resolver isso, decidi que na próxima viagem do Amyr iríamos todos juntos.
O ano era 2006, e, depois de um planejamento rigoroso, a filha mais nova dos Klink celebrava seus seis anos cruzando o Cabo Horn, um dos pontos mais temidos de naufrágio na história da navegação.
Empreendedorismo
Na Antártica, Marina se empenhava em tornar a rotina das meninas repleta de aprendizado. Ao mesmo tempo, estudava para poder melhor ensiná-las.
– Ninguém podia se referir a nada sem ser pelo nome exato. Não tinha nada de “pinguinzinho”. Diariamente, elas precisavam registrar o que estavam vivendo. Podia ser um desenho, uma frase, um texto. Era muito importante para mim que aquela experiência se tornasse inesquecível para todos.
Entre as tarefas das crianças e a rotina do barco, Marina se dedicava à fotografia. Um dia, após ficar horas suspensa no mastro do Paratii 2 para fotografar, ouviu Amyr gritar: “Marina, desce daí, essas fotos não servem para nada”. Indignada, agarrou-se mais firme às cordas e por lá ficou outra meia hora, registrando a vida gelada a mais de 30 metros de altura.
– Aquilo me deixou em estado de choque. Foi uma grande ofensa, porque me dedicava muito àquelas imagens. Mas foi a partir dessa crítica que percebi que precisava transformar minha fotografia em algo
maior.
Pragmática, ao fim da viagem, ela já tinha tudo decidido. Encerrou as atividades do Ateliê de Eventos e começou a se dedicar exclusivamente a transformar a experiência das garotas Klink em uma série de palestras que, posteriormente, viraram um livro. Férias na Antártica, recheado dos relatos
das meninas e de fotos clicadas por Marina, já está na nona edição e tem sido utilizado em escolas das redes particular e pública de São Paulo.
A satisfação de ter transformado as filhas em pequenos motores de conscientização ambiental só se compara ao prazer de comentar a publicação de seus próprios livros de fotografia: Antártica – A Última Fronteira, já esgotado, e Antártica – Olhar Nômade. Este último era o motivo pelo qual, no dia seguinte à nossa entrevista, Marina embarcaria para Balneário Camboriú.
– Vou prestigiar uma exposição dedicada a meu segundo livro. Nada mal para fotografias que não serviam para nada, né? – alfineta.
– Entre a viagem de 2006 e hoje, são 11 anos em que não parei nenhum dia de perseguir o que queria para mim e minha família. Queria que minhas filhas fossem porta-vozes da preservação da natureza, que minhas fotografias ganhassem o mundo, que minhas palestras inspirassem outras pessoas... É preciso encontrar, dentro de nós, o que nos move, e não parar nunca – comenta.
– Quando criança, sonhava em trabalhar com biologia, mas a vida me levou para a comunicação. Hoje me dedico muito mais a essa paixão do que se tivesse entrado na área biológica.
Quando você se dedica àquilo que realmente ama, a recompensa demora, mas sempre chega. Para Marina, já chegou. E ela agradece à baleia que a colocou no rumo certo.
Confira, em vídeo, o depoimento de Marina sobre mudança de carreira após provocação do marido
A mulher que não para
Além de ser fotógrafa, palestrante, empreendedora, mãe e viajante, Marina Klink encontrou tempo para
mais uma paixão: cafés. E, claro, essa não seria diferente de todas suas outras obsessões: o que era um hobby virou um canal de comunicação com o mundo e, depois, mais um negócio bem-sucedido.
– Sempre tive o hábito de, quando viajo, mandar uma foto minha tomando um café para minha família.
Era uma forma de dizer que estava bem, já tinha me instalado e estava aproveitando a cidade. Esse processo começou a ficar tão legal que criei uma conta no Instagram, onde vou a lugares incríveis, peço um café, a conta, e compartilho a experiência daquele lugar. Com mais de 35 mil seguidores, ela dá dicas de cafeterias no Brasil e no mundo pelo perfil @1_cafe_e_a_conta. Além disso, Marina visita fazendas, entrevista produtores, experimenta torras especiais e publica depoimentos divertidos de amigos viciados em café. No dia dessa conversa, Marina já havia ido ao Café do Mercado (e postado). Ela considerou
o local “uma delícia de ambiente e de opções de cafés de qualidade”.
– É muito do ser humano esse viés de empreender, só precisamos superar o medo. Cada um de nós tem um motorzinho dentro de si, o meu é criar coisas novas. Não consigo evitar, quando vejo já estou empreendendo outra vez! – diverte-se.
“Vamos andar por Porto Alegre”, pediu Marina, em busca do melhor cenário para a foto. Ao lado, a
fotógrafa em ação em uma de suas expedições | Foto: Lauro Alves, Agência RBS
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