Ao invés de elogios, curtidas. Concordou com alguém? Reposte. Achou o bebê da amiga uma fofura? É só comentar um "own" na foto e muitos coraçõezinhos. Aquela viagem inesquecível, uma noitada com os amigos, o cineminha no final de tarde, tudo é transmitido em tempo real nos stories do Instagram. Em 24 horas, as postagens expiram e pouca gente se lembra do que visualizou. Assim é a vida de muitas pessoas que se expõem nas redes sociais: dinâmica, efêmera, descartável. Porém, como tudo nesse mundo, há limites do que se deve ou não compartilhar na internet. Para os famosos, então, esta relação com as redes sociais é bem mais complexa. E polêmica.
Casos recentes envolvendo celebridades e redes sociais mostraram os perigos da superexposição virtual. A separação dos atores José Loreto e Débora Nascimento, em meados de fevereiro, virou um show público com milhões de espectadores. Outros nomes, como o de Marina Ruy Barbosa, foram envolvidos na história, tratados como réus de um julgamento virtual onde todos se achavam juízes de uma situação que, teoricamente, diria respeito apenas a um casal.
Dois lados
A internet serviu para aproximar o público de seus ídolos, antes alçados a um patamar inalcançável. Ao mostrarem seus momentos de intimidade nas redes, "sem filtro", pessoas públicas percebem que a rede social é uma faca — afiadíssima — de dois gumes;
— Para ter sucesso nas redes sociais (e ganhar o famigerado título de "digital influencer") tem que se expor de verdade, tem que parecer de verdade, ao menos. Contudo, vai sofrer de verdade também, é um caminho sem volta — argumenta Fernanda Cristine Vasconcellos, professora e pesquisadora de Jornalismo Digital da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos, da PUCRS.
Relacionamentos começam e terminam com exposição nas redes. Fotos apaixonadas, declarações públicas ou mudança de status no Facebook. Às vezes, começar a curtir alguém já é sinônimo de que existe "algo mais". Deixar de seguir, mau sinal. Amizades e amores são rompidos com um simples clique. Marina Ruy Barbosa, apontada como suposto pivô da separação de Loreto, recebeu "unfollow" (deixar de seguir) de várias famosas como Bruna Marquezine, Giovanna Ewbank e Thaila Ayala. Ligadíssimo em cada capítulo dessa novela virtual, o público logo apontou os dois lados da polêmica: quem apoiava Marina e a defendia das acusações, e quem simplesmente deixou de segui-la no Instagram sem maiores explicações.
— O mínimo de evidências é suficiente pra colocar alguém na cadeira dos acusados e condená-lo ao ostracismo ou à glória, à condição de mocinho ou bandido. O entretenimento é isso, o espetáculo total 24 horas por dia — explica a professora Fernanda.
Segue de volta. Ou não
"Não considero 'follow' (seguir) amizade, assim como não considero 'like' (curtir) afeto, assim como não considero 'unfollow' (deixar de seguir) 'eu te odeio', ou falta de sororidade ou julgamento ou 'boicote' como vocês interpretaram".
A publicação de Bruna Marquezine no Twitter, na última quarta-feira, resume bem o pandemônio das redes sociais. Sem conhecer o contexto ou saber detalhes da vida das pessoas — públicas ou não — há quem julgue e condene sem piedade. No "tribunal de inquisição virtual", reputações são destruídas ou, pelo menos, arranhadas. Ninguém está livre de ser jogado na fogueira por crimes que sequer cometeu.
No caso dos famosos, a situação é ainda mais gritante. Os seguidores se dividem entre fãs e "haters", lados opostos que se digladiam, trocam ofensas com o furor de quem defende as próprias vidas. Na ilusão de estarem "próximos" de seus ídolos, se colocam no direito de falar (ou escrever, no caso) o que bem entenderem, protegidos pelo anonimato das redes sociais. É praticamente uma Terceira Guerra Mundial, ainda que se desenvolva apenas no plano virtual, o que não quer dizer que não haja mortos e feridos.
Seguidores ou perseguidores?
O que deveria ser apenas uma vontade de dividir com as pessoas momentos importantes acaba virando um julgamento virtual, com dedos apontados, prontos a darem a sentença que bem entenderem. Quem posta o que quer, lê o que não quer, atualizando o velho ditado. Cris Silva, comunicadora da rádio 92 (92.1 FM), tem 57 mil seguidores no Instagram, coleciona milhares de curtidas a cada foto do pequeno Matheus, de um ano, mas já sentiu na pele o ônus de compartilhar detalhes de sua vida pessoal. Ela conta que o mais complicado na jornada como mamãe de primeira viagem é lidar com os "pitacos" de desconhecidos:
— O mais difícil da maternidade é a opinião alheia. É ver pessoas que não têm a menor ligação com teu filho falarem o que elas não sabem. Aí é uma coisa louca, porque tu queres explicar. Quando alguém me pede conselho eu digo: "escuta o teu instinto e o teu médico".
Ao mesmo tempo em que aproxima e ajuda na troca de experiências, o anonimato da internet pode trazer à tona o pior do ser humano.
— As redes sociais têm seguidores, mas também têm perseguidores. Tem muita gente que está ali pra perseguir, pra ver se tu vais falar alguma coisa que vai indiretamente machucar alguém. Tem sempre alguém de plantão – desabafa Cris.
O crescimento de Teteu – como é carinhosamente chamado pela família – vem sendo documentado nas redes sociais, inclusive com o objetivo de perpetuar um "álbum virtual", cheio de fotos fofas e recadinhos da mamãe que, futuramente, o próprio Matheus poderá ler. Apesar de tanto empenho para atualizar as redes com os registros do pequeno, Cris não abre mão dos momentos analógicos ao lado do filho:
— Existe uma vida real muito boa lá fora. A rede social é uma ilusão que pode te causar uma sensação estranha, de querer ter o que eu não tenho.
Limites
Como tudo na vida, a exposição nas redes sociais precisa de limites. Evitar a exposição desnecessária da nossa intimidade pode parecer fácil para nós, reles mortais, mas para os famosos, muitas vezes, não é uma escolha consciente. Passa pelo gerenciamento da carreira, pela necessidade profissional de ser visto.
— É um jogo de poder, que em alguns momentos está com quem posta e, em outros, está com quem comenta. Não existe influenciador sem público. Então, é possível estabelecer um limite. Mas o preço pode ser o de não ser tão conhecido — explica a professora Fernanda.
A necessidade de expor cada minuto de sua vida nas redes sociais pode ser uma forma de carência emocional, como explica a psicóloga e colunista do Diário Gaúcho, Lucia Pesca:
— Para algumas pessoas, dá tanto prazer se mostrar na vida midiática que elas não precisam buscar o prazer em outro lugar, deslocam tudo para o mundo virtual. Não sabem mais dar e receber afeto, só esse afeto fake sob forma de um "feliz aniversário" no Facebook ou palminhas e coraçõezinhos no Instagram. Quanto mais seguidores eu tenho mais eu me sinto querida.