As diretoras Ana Paula Zanandréa e Daniele Zill venceram o edital de incentivo à pesquisa em artes cênicas do Teatro de Arena e esperam há pelo menos quatro meses a verba da premiação, conforme revelou reportagem de julho de ZH. Mas elas não devem receber o dinheiro que o Estado as deve no curto prazo. Os R$ 90 mil prometidos, que seriam divididos em R$ 45 mil para cada uma, estão contigenciados na Secretaria da Fazenda (Sefaz) e não serão liberados até que o governador José Ivo Sartori consiga quitar pelo menos o atraso das parcelas da dívida com a União e os repasses para a saúde, confirma a Sefaz. Enquanto isso, o espetáculo Concentração, de Zanandréa, já entrou e saiu de cartaz sem receber nada do que tem direito.
Responsável pelo edital, a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) já empenhou e liquidou a verba - termos técnicos para dizer que o secretário Victor Hugo, da Cultura, autorizou que o pagamento seja feito por quem tem a chave do cofre: o secretário da Fazenda, Giovani Feltes. O problema é que não há dinheiro.
Em meio à crise, secretário da Cultura diz que alto custo da pasta amarra investimentos na área
A Sefaz confirma que a despesa já está autorizada e consignada no orçamento, mas não há qualquer previsão para que seja efetuada. Alegando "situação de emergência", a pasta avalia que há outras prioridades a serem quitadas antes dessa. Victor Hugo, da Cultura, diz que não há muito o que fazer:
- Assim como a Fazenda não responde pelos meus andamentos, eu não tenho competência para responder pelos deles. Mas eu moro no planeta Terra e sei que a situação no Estado é de bloqueio. Até a semana passada, não se sabia se íamos pagar salários, então a pendenga é muito maior, em outro nível. Não tenho elementos para te dizer quando isso vai ser pago.
Lançada em 2014, esta edição do prêmio prevê dois pagamentos de R$ 45 mil, um para primeiro semestre de 2015 e outro para o segundo. O primeiro espetáculo é Concentração, peça de teatro que critica a espetacularização da violência pela mídia e analisa nosso papel de espectadores da brutalidade diária. No espetáculo, pessoas são confinadas em uma fábrica, onde realizam trabalho forçado transmitido pela TV. Dirigida por Ana Paula Zanandréa, a atração ficou em cartaz no Teatro de Arena de 17 de julho até 31 de julho, período uma semana menor do que o previsto inicialmente. Segundo a diretora, além de ter sido encenada com figurino e cenários mais básicos do que o previsto, a peça causou a ela uma dívida de pelo menos R$ 8 mil, dinheiro que pediu emprestado para bancar os custos imprescindíveis.
- Garantiram que ia ser pago, que devia sair essa semana. Mas eles estão falando que "vai ser pago essa semana" há bastante tempo. Eu me sinto desrespeitada. Podiam ter dito desde o começo que o dinheiro não ia sair, podiam ter falado para eu esperar, não fazer o projeto. Mas nos fizeram iniciar, cumprir todo o projeto e não receber nada. Antes de mais nada, é uma falta de respeito, além de ser um descumprimento e um completo descaso com quem faz cultura no Estado _ desabafa a diretora.
Agora, para o vencedor do segundo semestre - Flamenco para Crianças, espetáculo de dança flamenca dirigido pela bailarina Daniele Zill - a questão pode se repetir. O secretário da Cultura explica que os procedimentos burocráticos já estão em curso e que em breve o dinheiro referente à primeira parcela do prêmio, de R$ 27 mil, deve ser empenhado e liquidado. Ele diz que o trâmite referente a Concentração também é referente apenas à primeira parcela. Aí, Flamenco para Crianças chega ao mesmo ponto em que a peça de teatro empacou: grana. Daniele, entretanto, parece tranquila e garante que não há mais chance de a apresentação não ser mais posta em prática, suspeita que pairava entre os produtores até julho:
- Estamos passando pelos trâmites burocráticos, mas, até onde eu sei, está tudo certo. Não tem mais chance de não sair. A menos que haja algo extraordinário.
Teatro
Atrasado quatro meses, prêmio de edital do governo do RS para teatro não tem previsão de pagamento
Secretaria da Cultura já liberou o pagamento, mas Fazenda alega não ter recursos e só poder entregar o dinheiro depois de colocar em dia parcelas com a União e repasses
Gustavo Foster
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