A Rádio Gaúcha apresenta neste mês de abril uma série jornalística sobre a cultura de palco de Porto Alegre. Vamos contar histórias da fundação do Theatro São Pedro, a sua consolidação, quase ruína e ressurgimento que vai levar a um salto ousado. Dona Eva, artistas e amigos do São Pedro contam o que sentem e pensam sobre a arte de palco na Capital e, claro, as obras do Multipalco do Theatro São Pedro, um projeto audacioso com a cara da cidade do mais belo pôr do sol.
No primeiro episódio vamos lembrar como essa fixação por cultura de qualidade existe em Porto Alegre e como isso transformou a cidade a partir de um palco.
A partir da iniciativa de uma sociedade acionária de doze pessoas, que pretendiam construir um teatro. Na verdade mais que isso, a ideia era dar à província um edifício representativo que a elevasse simbolicamente ao nível das principais capitais e que correspondesse às atuais tendências da época em nível internacional. O centro da Capital e o seu próprio desenvolvimento deveria ser marcado com esse edifício-símbolo.
Era o Theatro São Pedro de Alcântara, cujos rendimentos seriam destinados para auxílio da Santa Casa de Misericórdia.
O Presidente da Província, Manoel Antonio Galvão, doou um amplo terreno na praça da matriz e solicitou ao Rio de Janeiro um plano segundo modelos europeus.
- Eram 100 palmos de frente por 200 palmos de comprimento, de fronte ao marco da praça e de costas ao Guaíba. Assim o nosso Theatro ficaria mais suntuoso ao pôr do sol.
As obras foram iniciadas em 1834, mas estiveram interrompidas por dez anos, ainda na fase dos alicerces, em função da Revolução Farroupilha ocorrida entre 1835 e 1845.
Depois da guerra, para continuidade das obras foi constituída uma nova sociedade, ainda de caráter privado. Os trabalhos foram retomados em 1850 com o projetista Felipe de Normann. E as verbas para a construção do Theatro vinham de uma autorização do governo que concedeu lucros de um programa de loterias.
- O projeto e a construção do edifício foram acompanhadas de polêmicas e críticas ao arquiteto Filipe de Normann. O teatro teria sido concebido sem a observação das regras arquitetônicas, de fora para dentro e não de dentro para fora. Ao olhar para o Theatro se percebe dois andares, no entanto lá dentro são quatro.
Assim, em junho de 1858 com a apresentação do drama “Recordações da Mocidade” estava inaugurado o Theatro São Pedro. Com decoração em veludo e ouro e capacidade para 700 espectadores, o São Pedro inseria a pequena Porto Alegre e seus 20 mil habitantes no mundo efervescente das artes.
- Para a cidade, o teatro se impunha pelo "luxo de suas instalações e, especialmente, pelo capricho de sua decoração interna.
Em abril de 1973, o Theatro São Pedro foi interditado por "absoluta falta de condições técnicas". O imponente prédio quase sucumbiu a falta absoluta de manutenção.
As obras de restauração iniciaram em 1975, sob a orientação de Eva Sopher, que na época dirigia o Instituto Proarte, com a idéia de "integração do passado com o presente".
A reinauguração aconteceu em nove anos mais tarde, com o espetáculo de teatro de bonecos O julgamento do cupim, do Grupo Cem Modos, o musical Piaf, com Bibi Ferreira e uma apresentação Orquestra Sinfônica Brasileira regida por Isaac Karabtchevsky.
Em sua nova fase, o teatro tem sido administrado pela Fundação Theatro São Pedro, criada em 1982 e desde então dirigida por Dona Eva Sopher, ligada de forma autônoma à Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul.
- O Teatro São Pedro pertence ao rol dos teatros brasileiros de particular interesse arquitetônico, patrimônio histórico-artístico marcado por edifícios tais como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o de São Paulo e o Teatro Amazonas, em Manaus, entre vários outros.
Ao mesmo tempo, o Teatro São Pedro faz parte de um patrimônio cultural mais amplo, latino-americano e até mesmo europeu-americano, inserindo a capital gaúcha na série de cidades do continente e da Europa que possuem até hoje nas suas casas de espetáculos edifícios emblemáticos, determinantes de imagens urbanas e de identidades.
155 anos depois, o sonho dos doze sócios que plantaram a ideia de construir o São Pedro pode ser considerado alcançado. Porto Alegre tem uma das casas de espetáculos mais belas do mundo.
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