Nos anos 40 e 50 do século passado, dizia-se que o teatro estava morrendo por causa do cinema. Nos anos 60 e 70, dizia-se que o cinema estava morrendo por causa da televisão. Mais tarde, dizia-se que a televisão estava morrendo por causa dos videotapes e logo depois que os videotapes estavam morrendo por causa dos DVDs e que os DVDs estavam morrendo por causa da internet. Hoje, pergunta-se: a Internet vai morrer por causa do quê? Mas essa é a ordem natural das coisas, cada tempo com seu tempo, cada espaço com seus valores, suas crenças, suas manias. Agora, pergunto eu, qual dessas linguagens é a que mais tem resistido ao tempo? Qual a mais revolucionária? Qual a que mais se renova na medida em que as coisas avançam, na medida em que o mundo se transforma? Acertou quem respondeu - o teatro. Não estou falando em quantidade, gente, estou falando em qualidade, superação de linguagem, arte. Que a arte está em crise todos nós sabemos, mas não devemos esquecer a lição de Picasso quando, já perto dos 70, lhe perguntaram: "Qual a sua melhor fase?". E ele respondeu: "A próxima!".
No início do século 20, o teatro superou o realismo a partir dos conceitos sobre o inconsciente. Foi, portanto, Freud o responsável pela visão subjetiva com que se passou a ver o mundo. E surge, então, uma série de movimentos revolucionários - expressionismo, simbolismo, surrealismo, dadaísmo, Teatro da Crueldade - cada um deles alavancado por um gigante das artes, Artaud, Piscator, Craig, Hauptmann, Jarry e a lista não termina nunca, todos eles mergulhados na subjetividade da vida, no sonho, na intuição, no fantástico, no irreal.
Com o fim da I Guerra, Brecht, então com 21 anos, começou a se interessar pelo teatro e pela política, juntou os dois e inventou o teatro épico. Passada a II Guerra foi a vez de Beckett inaugurar o que Martin Esslin chamou de teatro do absurdo, embora muita gente discorde da definição. Mas, absurdo ou não, Beckett reinaugurou um novo conceito de narrativa dramática, buscando no improvável a síntese do fazer humano.
E depois vieram muitos outros, Tadeusz Kantor, Heiner Muller, Grotovski, Eugenio Barba, Peter Brook, Bob Wilson, Ariane Mnouchkine, todos mergulhados na função primordial de salvar o teatro. Afinal, como escreveu certa vez Artaud: "Nós não somos livres. E o céu ainda pode cair sobre nossas cabeças. O teatro foi criado, antes de tudo, para nos revelar essas verdades".