Semana passada o Informe Econômico nos informou que ano que vem Porto Alegre terá mais um teatro. Localizado no terceiro andar do Praia de Belas Shopping, com 600 lugares, vista para o Guaíba e outras tantas regalias, benesses e tentações. Aleluia, dirão atores, diretores, produtores e - espero - o público também. Aleluia, digo eu. Com ressalvas, mas digo. Mais um teatro na cidade que eu escolhi para viver e trabalhar e que, naquela época - início dos anos 1970 -, tinha quatro ou cinco salas - o São Pedro, devorado pelos cupins e caindo aos pedaços; o Arena, recém-inaugurado ali no viaduto da Borges; o Clube de Cultura, na Ramiro Barcellos; o Leopoldina e o Salão de Atos da UFRGS, estes dois últimos inacessíveis aos grupos locais pelo tamanho e preço do aluguel. Hoje, Porto Alegre tem mais de 30 teatros funcionando regularmente. E agora vem a notícia de que ano que vem teremos mais um.
Mas é preciso não esquecer os entretanto, porém, contudo, todavia e outras conjunções adversativas. Um bom teatro não é uma fachada bonita, uma plateia confortável, uma sala de espera bem decorada, um serviço de bar convidativo, um ar condicionado adequado e uma acústica perfeita. Um bom teatro é aquele que tem uma caixa cênica equipada para atender às necessidades técnicas dos espetáculos ali apresentados (*). O que é uma caixa cênica? O palco, naturalmente, mas também a parte invisível, escondida por rotunda, pernas e ciclorama. Esta parte, também chamada de coxias ou bastidores, é onde acontece toda a operação de apoio à realização do espetáculo: a contrarregragem, a ação dos maquinistas e o tráfego dos atores entre cena e camarins. Isto, no sentido horizontal. No sentido vertical, temos o urdimento e o porão. E ainda as bambolinas, os rompimentos, os refletores, o tangão, as varas, a manobra, a varanda, os contrapesos, o alçapão, as quarteladas e mais dezenas de equipamentos técnicos que dão sustentação à criatividade da cenografia, da iluminação e da sonoplastia. Porque sem isso, gente, por mais pós-moderno que seja, o espetáculo não se sustenta. Por isso é que um bom teatro não se limita a ser só fachada e conforto para o público. É preciso também que haja condições para o espetáculo e conforto para os atores. Por isso, senhores empresários engenheiros e arquitetos, cuidado com o que vem por aí. E tenho dito.
(*) Quem tiver curiosidade a respeito dos termos técnicos citados procure o meu Dicionário de Teatro (L&PM Editores), já na sétima edição e agora em versão pocket.