Luc Besson ergueu sua carreira de diretor e, sobretudo, produtor emulando na França a linha industrial moldada em Hollywood. Seus filmes contam com orçamentos generosos para os padrões locais e, em geral, miram o grande público apostando em gêneros que destacam a ação frenética e o artificialismo visual. Para financiá-los e buscar retorno nas bilheterias de todo o mundo, escala no elenco nomes famosos e tem o inglês como idioma padrão. Alçado à posição de realizador multinacional, vem alternando altos e baixos no currículo desde a década de 1980. Depois de um bom momento junto à crítica e público com Lucy (2014), protagonizado por Scarlett Johansson, Besson volta à ficção científica com mais barulho e menos inspiração, assinando a aventura espacial Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, que estreia neste quinta-feira nos cinemas.
Trata-se da adaptação de uma popular história em quadrinhos que tem como personagem Valerian, herói do futuro que se desloca no tempo e no espaço em suas missões ao lado da parceira de armas Laureline. Apresentado em 1967 pelos franceses Pierre Christin (texto) e Jean-Claude Mézières (ilustração), Valerian ganhou o rosto do ator americano Dane DeHaan, e Laureline é vivida pela inglesa Cara Delevingne. Na trama, a dupla integra uma força militar que, no século 28, zela pela paz no universo, harmonia representada por uma gigantesca estação orbital habitada por raças de diferentes planetas.
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Quando um desses planetas é subitamente aniquilado, Valerian se vê na condição mítica de escolhido para restabelecer a ordem – simbolizada por um cobiçado bichinho com poderes mágicos e aparência de tatu. Na missão, ele e Laureline viajam pelos confins da galáxia encontrando tipos do mais exóticos, como a alienígena capaz de assumir diferentes formas (papel da cantora pop Rihanna) e deparando com um ardiloso traidor na equipe .
Besson joga suas fichas no impacto visual das cenas de ação, que colocam Valerian diante de perseguições em diferentes dimensões. Em meio a um ambiente de videogame de realidade virtual, brota a tensão romântica entre Valerian e Laureline. Mas esse, digamos, alívio na correria, é conduzido por diálogos pedestres e marcado pelas caras e bocas do casal.
Muito, mas muito epidermicamente, Besson, autor do roteiro, tenta uma aproximação com temas políticos contemporâneos, como o poderio militar bancando a vocação colonialista das grandes potências. Há ainda um tanto do conceito de integração multirracial consagrado pela saga Jornada nas Estrelas, e do universo idílico sustentável sob ameaça visto em Avatar. São, porém, referências pálidas. Sobra no decorrer dessa aventura muita poeira nos olhos que logo será espanada pelo espectador.