Um dos mais conhecidos realizadores do vibrante cinema sul-coreano que projetou-se internacionalmente no começo dos anos 2000 Park, Chan-wook apresentou em maio passado na disputa pela Palma de Ouro no Festival de Cannes A Criada, filme que entrou em cartaz em Porto Alegre nesta quinta-feira, no Espaço Itaú e Guion Center.
Chan-wook costuma combinar em suas narrativas reviravoltas, violência e um deslumbrante rigor estético. Em A Criada, o diretor economiza no sangue e adiciona alta voltagem erótica – a classificação é para maiores de 18 anos. É o primeiro filme que realizou em seu país após rodar nos Estados Unidos o suspense Segredos de Sangue (2013), estrelado por Nicole Kidman. E, de certa forma, Oriente e Ocidente voltam a se mesclar em A Criada, que tem seu roteiro inspirado no romance Fingersmith, no qual a autora britânica Sarah Waters apresenta um suspense gótico ambientado na Grã-Bretanha do período vitoriano.
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A Criada tem a trama transposta para a Coreia dos anos 1930, época em que o país vivia sob ocupação japonesa. A história corre em três atos, com um peculiar cenário principal se destacando: o imponente palacete que conjuga o estilo arquitetônico das grandes propriedades campestres britânicas também traz espaços característicos das residências nipônicas tradicionais – usos e costumes dos personagens também combinam as duas culturas, provocando um inventivo embaralhamento sensorial na cenografia e nos figurinos.
No primeiro movimento do filme, acompanhamos uma ardilosa armação que coloca a jovem Sook-hee (Kim Tae-ri) para trabalhar como criada na mansão onde a rica herdeira japonesa Hideko (Kim Min-hee) vive com seu tio Kouzuki (Cho Jin-woong). Sook-hee vem de uma família de vigaristas e quem a escalou como cúmplice foi o galante pilantra Fujiwara (Ha Jung-woo), que se passa por conde para desposar Hideko. O plano é, após o casamento, internar a emocionalmente frágil herdeira em um manicômio e se apossar de sua fortuna.
Após dar a primeira sacudida no espectador, Chan-wook, no segundo ato, lembra o passado de Hideko e seu grosseiro e pervertido tio, sujeito fascinado por pornografia que promove saraus literários para os ricos e poderoso locais, aos quais vende publicações falsificadas como se fossem raridades. O falido Kouzuki também planeja se casar com a sobrinha para manter sua posição social – é um coreano que finge ser japonês, assim como Fujiwara. No terço final da narrativa, após uma sucessão de reviravoltas, tem destaque um violento acerto de contas, registro no qual Chan-wook é mestre, vide sua aclamada Trilogia da Vingança formada por Mr. Vingança (2002), Oldboy (2003) e Lady Vingança (2005).
A Criada tem seu motor dramático no relacionamento entre Sook-hee e Hideko, tão intenso quanto enigmático, uma vez que a paixão e a relação de poder e submissão que se estabelece entre as duas mulheres transcorre de forma dissimulada. Chan-wook, porém, aguça os sentidos dos espectador ao longo de duas horas e meia com o progressivo suspense na construção de seu mosaico sobre quem está enganando quem. Apenas quando a última peça for colocada se terá a real dimensão do grandioso filme que é A Criada.
A Criada
De ParkChan-Wook.
Drama, Coreia do Sul, 2016,144min, 18 anos.
Cotação: Muito bom.
Onde ver: Espaço Itaú e Guion Center.