Robert Langdon surgiu nos livros do escritor norte-americano Dan Brown como um personagem de grande potencial cinematográfico. Professor de simbologia na universidade de Harvard, ele combina talentos de Sherlock Holmes, James Bond e Indiana Jones ao seu profundo conhecimento de campos como história da arte e iconografia religiosa. Somados à habilidade de decifrar enigmas e anagramas, são recursos providenciais usados para desvendar conspirações criminosas.
Em cartaz nos cinemas, Inferno adapta o quarto livro protagonizado por Langdon. E é o mais problemático filme da série até aqui – o terceiro volume, O símbolo perdido, chegou a ter sua pré-produção anunciada, mas, embora não tenha sido oficialmente cancelado, voltou para a gaveta de projetos. Nem o carisma do astro Tom Hanks e a reconhecida competência do diretor Ron Howard conseguem dar liga à trama rocambolesca que tenta compensar a falta de estofo do roteiro com ação, tensão e reviravoltas por demais artificiais.
A culpa disso, lógico, está na matriz. Em O código Da Vinci (2006) e Anjos e demônios (2009), havia o apelo de sociedades secretas seculares (Priorado de Sião, Illuminati), símbolos religiosos de grande força (Jesus Cristo, Maria Madalena, Santo Graal, Vaticano) e embate entre ciência e fé. Lidavam com episódios reais e mitológicos familiares do público para balizar seu suspense.
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Inferno, por sua vez, tem seu enredo sustentado sobre uma frenética gincana de Langdon entre Florença, Veneza e Istambul para impedir que um vírus ganhe a atmosfera e ponha fim à raça humana. O plano maquiavélico foi urdido por um geneticista bilionário (papel de Ben Foster) que se lança como um messias do apocalipse apresentando um TED sobre o esgotamento dos recursos naturais do planeta pelo excesso de população – é preciso zerar tudo para começar de novo, acredita o vilão.
Langdon seguirá sua missão juntando pistas fragmentadas, após acordar ferido em um hospital de Florença e perceber que quem tentou matá-lo quer completar o serviço. É ajudado na fuga pela médica que o atendeu, Sienna Brooks (Felicity Jones), e logo depara com a chave do mistério. Zobrist usa como veículo para mandar seu recado o poema Inferno, que compõe com Purgatório e Paraíso a Divina comédia escrita por Dante Alighieri no século 14. E o faz com recados impressos no Mapa do inferno, a pintura de Botticelli.
Langdon e Sienna vão então coletando indícios por museus e galerias em meio à perseguição de uma assassina profissional, agentes da Organização Mundial de Saúde e alguns tipos nebulosos que se enroscam pelo caminho, numa sucessão de viradas progressivamente implausíveis. Mesmo com a suspensão da descrença exigida para embarcar nesse labiríntico e erudito universo criado por Dan Brown, personagens frágeis como a Sienna do filme e recursos visuais de gosto duvidoso – os flashback didáticos que tentam ordenar a confusão narrativa – reforçam a desorientação do conjunto todo. Nem o carisma de Tom Hanks salva.