Estamos passando pelas suaves estradas da costa oeste da Suécia, cruzando lagos, pequenas fazendas, casas de veraneio variadas com grandes pilhas de lenha, escarpas de granito, densas florestas de pinheiros, vastos prados, campos verdes e sinais de aviso sobre alces.
Então amanhece. Algo está faltando. Esqueça os alces, onde estão os carros? É segunda-feira, quase midsommar, um grande feriado sueco, e estamos a menos de 65 quilômetros de Gotemburgo - a segunda maior cidade do país, com 600 mil habitantes.
As estradas aqui na província de Bohuslan não são vazias de uma maneira pós-apocalíptica - dois ou três carros acabaram de passar na direção oposta - mas não vimos rivais na nossa pista há eras. No km 18,8, vimos um ônibus. Ele rapidamente desaparece.
Dirigir na Suécia exige tão pouco esforço como na zona rural da França no 14 de Julho, dia da queda da Bastilha; tão fácil quanto as infindáveis, misteriosamente vazias rodovias do sudoeste dos Estados Unidos.
Minha namorada sueca, Emma, e eu estamos aqui há 10 dias, dirigindo um Volvo alugado de Gotemburgo em direção à fronteira norueguesa, passando pelo arquipélago de Bohuslan antes de descer ao redor da costa de Malmö e Falsterbo para o midsommar, onde os suecos sensatos cortam curto seus cabelos loiros, zanzam em torno de um mastro e são xingados enquanto cantam piadas levemente ofensivas sobre finlandeses com flatulência.
Lar de Ingrid Bergman
A 30 quilômetros dali fica Fjällbacka, uma bela localidade de cabanas de pescadores e casas de campo localizada sob um imponente penhasco de granito e no topo de uma larga baía tranquila cheia de recifes.
A atriz Ingrid Bergman, que atuou em Casablanca, viveu aqui - sua estátua adorna a esplanada - mas o lugar está fadado a ser mais conhecido como o pano de fundo de best-sellers de suspense escritos pela moradora local Camilla Lackberg, prestes a serem filmados aqui.
O cenário tem vales semelhantes a mini-Yosemites, salpicado de fazendas. Há acampamentos costeiros em abundância na área de Lysekil, com plataformas para nado abrigadas em baías.
Ar limpo encanta alemães
Na noite anterior estávamos em um hotel de Gotemburgo, em frente ao maior parque de diversões da Escandinávia. Agora, estamos a 20 minutos da cidade, passamos por estradas rurais, ilhas como Tjorn e Orust e prados ondulantes e enseadas rochosas. Viajamos rumo à Lahalla para um barbecue (espécie de churrasco), música, vinho e repelente de insetos (todo cuidado é pouco com os carrapatos que espalham a doença de Lyme).
Fiquei sabendo que os alemães adoram Bohuslan pelo ar limpo, espaço aberto e animais selvagens. Ainda não vi nenhum adesivo de carro com a letra D (Deutschland significa Alemanha), mas para os moradores locais os alemães são fáceis de identificar com seus adesivos de alces em forma de desenho animado.
Fazendo um pequeno desvio ao norte, descansamos em cafeterias na baía para uma fika - conjunto de café, bolo e conversa - e, depois, entramos a bordo de uma balsa para o porto de pesca de Lysekil.
Atração maluca
Dirigindo ao Sul, passando pelas cidades de Falkenberg e Halmstad, em Halland, as casas mudaram de caixas de madeira fina para intrincadas residências com vigas de pedra. Bemvindo a Skane, no sul da Suécia. No dia seguinte, vamos para Angelholm, onde nos entregamos a um lançamento de Kubb (versão sueca do boliche) antes de um jantar embriagado, seguido de uma noite no Gallerihyttstigen Bed & Breakfast e diversão no chuveiro ao ar livre.
Ali perto, em Kullaberg, a reserva natural é uma das atrações mais malucas da Suécia: Nimis, um conjunto de torres afiadas com 75 toneladas de madeira flutuante, acessível apenas a pé pela floresta. Logo chegamos à ilha de Ven, no canal Oresund, entre a cidade de Landskrona e a Dinamarca. Carros são banidos para visitantes.
Estacionamos e arrancamos uma bicicleta da "plantação" de bicicletas de Ven, um campo com mil veículos amarelos, desde bicicletas de crianças até triciclos. Ven é uma joia.
Restrições à bebida alcoólica
Ah, Suécia e o álcool.
Como é aquela piada? "Sven, você fica com as contas, eu vou para o bar." Ok, é caro, o equivalente a R$ 14,30 o litro nos pubs mais baratos, e restrito - qualquer bebida para levar acima de 3,5% de álcool deve ser comprada em uma loja de monopólio estatal, a Systembolaget, que é bem exigente para vender bebida alcoólica.
Você deve ter 20 anos e ser previdente - eles costumam fechar cedo. Uma viagem pela loja é divertida. Você deveria ver as filas de amedrontados perto da hora de fechar. Talvez os saudáveis, sensatos suecos compensem a falta de bebida com doces - estão em todos os lugares.
Se comprar álcool parece complicado, a língua parece impenetrável. Como esperado, praticamente todos falam inglês perfeitamente, adquirido a partir de intermináveis programas britânicos legendados em sueco - dublagem é uma coisa séria: os suecos são anglófilos supremos.
Ainda é possível se divertir na estrada ao pronunciar os sinais - tente dizer Tvaaker e Krapperup sem bater.
A viagem que fica para depois
Ainda mais ao Sul fica Malmö, a terceira maior cidade da Suécia, injustamente ridicularizada como a prima pobre de Estocolmo e Gotemburgo. Fiquei sabendo que Malmö não é vista como sueca por causa de suas ruas não tão imaculadas. Aqui eu abandonei meus modos britânicos (e minhas malas) e virei nativo, tomando sol depois de um mergulho no mar.
Daqui podemos dirigir a Copenhague pela ponte de Oresund, com seu pedágio equivalente a R$ 86. Mas partimos para aproveitar o midsommar em Falsterbo, uma colônia de luxuosas casas de verão no extremo sul da Suécia, para mais canções bobas e piadas e cantigas de crianças desobedientes sobre arremesso de esterco de vaca. Os suecos, ao que parece, não são tão sensatos, afinal de contas.
A odisseia panorâmica de 500 quilômetros, feita sem esforço, me faz querer experimentar a " grande viagem sueca", 2,1 mil quilômetros de Malmö até o estéril e indomado Norte e além do Círculo Polar Ártico. Emma não está interessada: "Não há nada aqui. Nada! Por horas!". Exatamente - e ainda menos carros.