Promover processos de iniciação à vida cristã é considerado um dos principais desafios da Igreja Católica pelo futuro presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Jaime Spengler. Aos 62 anos, o arcebispo de Porto Alegre foi eleito para liderar o órgão que congrega o episcopado brasileiro na segunda-feira (24) e concedeu entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, na manhã desta terça (25).
A eleição foi realizada durante a 60ª Assembleia Nacional da CNBB, em Aparecida, no interior de São Paulo, que se encerra na próxima sexta-feira (28), data em que Dom Jaime tomará posse oficialmente. O arcebispo seguirá da liderança da entidade até 2027. Ao ser informado do resultado, ele destacou que vai continuar o processo de "escuta" dos anseios da comunidade católica preconizado pelo papa Francisco.
Durante a entrevista à Rádio Gaúcha, o padre foi questionado sobre a perda de fiéis para igrejas evangélicas nos últimos anos e afirmou que esta é uma realidade preocupante, mas que pode ser contornada por meio de processos de iniciação à vida cristã, já que “não basta ser batizado para ser um discípulo de Jesus Cristo”:
— Todos nós temos uma prática religiosa, mas talvez nem todos tenhamos uma experiência de fé. E como é que realizamos isso? Através de processos de iniciação à vida cristã. Então, talvez o grande desafio que temos pela frente, e que a Conferência já tem nesses anos aprofundado, debatido e construído indicações, seja justamente esse de promover esses processos, fomentando sobretudo pequenas comunidades.
Dom Jaime também comentou sobre os posicionamentos da CNBB, destacando que a entidade tem como missão promover a comunhão entre os bispos do Brasil e que não interfere na rotina das dioceses, mas oferece indicações e sugestões para que “a obra da evangelização possa avançar”.
Em relação à política, o arcebispo ressaltou que as posições são sempre pautadas pelo evangelho, pela tradição da igreja e pela doutrina social. Assim, disse que a entidade não se manifesta a favor de um partido ou de outro e que sempre cultivará um espírito crítico, “independente de quem esteja ocupando cargos políticos”.
— É verdade que estamos em um momento delicado da nossa história do Brasil e eu acredito que todos aqueles que se reconhecem como discípulos e discípulas de Jesus Cristo têm um papel muito importante. Precisamos promover um caminho de reconciliação e de pacificação para que possamos deixar o nosso Brasil um pouco melhor para as futuras gerações — afirmou.
O arcebispo acrescentou ainda que a igreja não compactua com nada que fere a vida, os direitos humanos e a própria democracia:
— O que nos move e o que nos anima é certamente a vida em plenitude para todos. Justiça, paz, fraternidade, que são os grandes valores do evangelho e da nossa tradição cristã e católica.
Trajetória do arcebispo
Nascido em 6 de setembro de 1960, em Gaspar, Santa Catarina, Dom Jaime foi admitido na Ordem dos Frades Menores, também conhecida como Ordem de São Francisco (Os Franciscanos) em 20 de janeiro de 1982. Cursou Filosofia no Instituto Filosófico São Boaventura, de Campo Largo (PR), e Teologia no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ), concluindo a formação no Instituto Teológico de Jerusalém, em Israel.
Ele foi ordenado sacerdote em novembro de 1990, passando a atuar em missões religiosas em várias cidades brasileiras. Fez Doutorado em Filosofia na Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma, e atuou na Ordem dos Frades Menores em distintas missões e cidades até 2010, quando foi nomeado pelo papa Bento XVI como bispo auxiliar da arquidiocese de Porto Alegre. É arcebispo metropolitano da Capital desde setembro de 2013, quando foi nomeado pelo papa Francisco.
Em 2015, ele foi eleito para presidir a Comissão Episcopal Pastoral da CNBB, tendo se destacado pela aprovação das diretrizes para a formação de presbíteros (sacerdotes) pela igreja no Brasil.
Em maio de 2019, foi eleito primeiro vice-presidente da Conferência. Também é o bispo referencial da CNBB para o Colégio Pio Brasileiro, em Roma, centro de estudos e formação de presbíteros brasileiros. Exerce ainda as funções de vice-presidente da Comissão Especial para o Acordo Brasil-Santa Fé da CNBB, que envolve o governo brasileiro e a Cidade do Vaticano.