Romeu Eckhardt, 75 anos, desmente uma das mais antigas fake news do mundo automobilístico: não basta um clips e uma chave de fenda para consertar o motor de um Fusca. Mas o mecânico, especializado no veterano modelo da Volkswagen, contribui com essas histórias, e no melhor estilo Macgyver ensina a colocar em movimento o carro, de forma inusitada:
— Se arrebentar o cabo, é simplesmente, tu vai no carburador lá trás e bota uma pedrinha, qualquer pedacinho de madeira, que o fusca fica acelerado, o carburado fica acelerado e dá para ir até em casa.
A carreira do profissional começou em setembro de 1961, data marcada em uma placa da empresa Motomecânica Comercial, primeiro emprego na área: "homenagem pela fidelidade" e utilização de "peças originais Volkswagen".
Na época com 15 anos, o morador de Lajeado, no Vale do Taquari, foi contratado como ajudante. Certificado em Porto Alegre, se destacou na lida e abriu o próprio ponto de conserto de caixas e engrenagens, a Oficina do Romeu. Seis décadas depois, o local mantém a exclusividade - com uma intrusa, só que da família.
— Essa Varejante, como a gente brinca, já ganhou prêmio — afirma, sobre a Variant 1977, vencedora do troféu destaque em uma exposição de 2018.
Entre as relíquias, ele mantém um fusca verde ano 1969, reformado, mas que mantém bancos e painel de fábrica. O veículo estava abandonado pelo dono, em um galpão. Foi comprado e revitalizado. Hoje, "não sai por menos de R$ 30 mil", negocia, como bom descendente de alemão.
Com memória afiada, ele aponta para a coleção, e enumera o período de fabricação de cada automóvel: 73, 75, 77, 78, 80 e 84. Ao todo, o mecânico possui 10 veículos, alguns ainda precisando de boas demãos, admite, guardados nos fundos de casa. Há inclusive um Fusca prata, edição limitada a cem unidades pela fabricante, na "sala de espera", como define o depósito.
Empreendedor, cita uma de suas criações, quase do zero.
— Teve um que eu construí todo, com peças usadas. Na época custava centavos, no ferro velho, até capô, para-choques, o teto... eu chamava de "1001 peças véias" — se diverte.
O pragmatismo depositado na engenharia do Fusca fica comprovado quando ele relembra uma antiga competição, da qual diz ser o principal campeão: desmontar o motor em menos de dez minutos. A agilidade, no entanto, não é a prioridade dos clientes.
— Tenho freguês de tudo que é lado. Eles dizem "faz bem feito, não importa se custar um pouco mais, e se não ficar pronto hoje, pode entregar depois" — garante.
Para regular o carburador, na manhã desta quinta-feira (21), havia um modelo 1995, popularmente conhecido como "Fusca Itamar", ao lado dos demais.
A mecânica tem um único funcionário: o filho, Felipe Eckhardt, 39 anos.
— Eu cresci brincando de desmontar carburador. É mais que uma paixão, é um amor por isso tudo. E muita alegria ver ele assim — diz, apontando para o pai.