Maria Clara Vieira, de Florianópolis, produz e vende pulseirinhas para ganhar uns trocados, anota tudo o que recebe e até aplicou o dinheiro no banco. Com apenas 10 anos, aprendeu com o avô a lidar com as cédulas e já sabe a importância de economizar dinheiro para comprar o que quer. Ensinar educação financeira às crianças é um desafio, mas essencial, principalmente, diante do consumismo aliado à crise econômica atual, conforme apontam especialistas.
– Hoje quando ela vai comprar alguma coisa, ela analisa o preço. Ela sabe como conquistar dinheiro e o que ele significa na vida das pessoas – diz o avô da menina Paulo César Vieira.
Na casa das pequenas Helena, 7 anos, e Anita, 9, esse contato ganhou força no ano passado, quando elas começaram a receber mesada. A mãe, Sabrina Junckes, explica ter adotado o método para que as meninas aprendam a guardar dinheiro para comprar algo maior no fim do ano e que a prática tem dado certo.
Para o educador financeiro Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e autor do livro Mesada não é só dinheiro, as crianças observam desde cedo a importância do dinheiro no dia a dia dos pais e começam a estabelecer alguns desejos de compra. É neste momento, por volta dos três anos, que deve iniciar a educação financeira. Já a partir dos sete, pode começar a dar mesada.
Estimular os pequenos a guardar dinheiro em cofrinhos e demonstrar quanto é preciso economizar para comprar algo são alguns passos dessa educação. Domingos acrescenta que é importante dar o exemplo. Pais que compram demais podem incentivar os filhos a seguir o mesmo caminho.
A psicopedagoga Joyce Cardoso diz que simples ações diárias podem ajudar na tarefa de educar os filhos financeiramente. Deixar a criança pagar uma compra feita em padaria e esperar o troco ou dar um valor simbólico para que ela compre algo são alguns exemplos.
Estimular que elas brinquem com jogos como Banco Imobiliário ou Jogo da Vida também pode auxiliar. A especialista ainda destaca que o ganho da mesada nunca deve ser atrelado ao bom comportamento ou ao resultado do desempenho escolar, pois não deve ser mérito por ter feito algo.
– Educar financeiramente uma criança é ensiná-la a se organizar para a vida, a ter objetivos e saber como vai conseguir realizá-los – afirma Joyce.
Escolas ensinam como poupar
Apesar de algumas tentativas de criar uma lei que obriga escolas catarinenses a ensinar educação financeira, não houve avanços e não há lei estadual referente a isso. Porém algumas instituições, por conta própria, começam a apostar na educação financeira entre os pequenos. É o caso do Centro Educacional Cantinho Verde, em Itapema, que oferece lições nesta área para crianças entre três e cinco anos desde o ano passado. A diretora Ivandra Pivotto diz que as aulas práticas são essenciais para tornar os alunos mais conscientes das oportunidades e dos riscos ao lidar com o dinheiro.
– Vivemos num mundo consumista, estimulado pelas campanhas publicitárias, e nota-se que as crianças são as mais influenciadas por estes meios. Por isso é importante que ela vivencie desde cedo situações reais sobre a vida financeira – diz.
Para o educador financeiro Reinaldo Domingos, o problema é que atualmente os pequenos são elevados ao status de consumidores sem estar preparados. A solução para driblar os possíveis efeitos nocivos desses estímulos é envolver as crianças nas decisões familiares sobre os gastos e mostrar que é necessário fazer escolhas quando o assunto é dinheiro.