Elas ainda não sabem ler, algumas sequer falam ou andam, mas todas sentem e ficam encantadas. Em meio à terra fresca, ao coloridos das flores e à agilidade das abelhas, as crianças do Centro Infantil Bom Jardim, de Ivoti, tem os sentidos apurados. Além do tato, olfato, paladar, visão e audição, a curiosidade se sobressai e vira quase que um sexto sentido para os pequenos.
Com um ano e seis meses, Mirella Saldanha Marx não pronuncia uma palavra, mas os olhos e os gestos falam por si. A careta é para o galho de alfazema que instiga o olfato. A concentração é única e reservada ao caminho que a abelha faz para levar o pólen até a colmeia. Os olhos ficam vidrados no colorido das flores e o paladar pede mais e mais daquele chá tão diferente.
A aposta da professora Soeli Presser é certeira: quer semear nas crianças adultos mais conscientes. Desde os quatro meses, elas são estimuladas a entrar em contato com a natureza mexendo na terra, envolvidas por abelhas sem ferrão, entre outras atividades. A intenção é incentivar o contato com o ambiente, trabalhando os cinco sentidos.
- O ser humano olha o ambiente de fora para dentro, como se não fizesse parte dele, mas ele faz parte, e a criança tem de vivenciar isso. As crianças percebem do jeito delas e isso fica armazenado no inconsciente, que está no auge do desenvolvimento - destaca Soeli, que coordena o projeto Abelha Jataí: Um Caminho para a Educação Ambiental.
Psicopedagoga e mestre em educação, Doris Gerber avisa aos pais que as crianças ainda estão em um período de desenvolvimento, e todas as vivências proporcionadas a elas farão diferença quando elas se tornarem adultas.
- Teremos uma criança mais sensível, mais atenta ao que está acontecendo ao redor. Ela precisa aprender a ver as situações numa perspectiva diferente. Esse contato com a natureza, essa interação com um outro reino animal, como o caso das abelhas, faz com que ela compreenda que ela faz parte de um contexto - avalia a especialista.
Benefícios no aprendizado
Como pediatra, Sérgio Crestana faz um alerta para os cuidados redobrados de se ter uma criança exposta ao ambiente natural. Especialmente às picadas de animais. Mas ele entrega: não há nada que estimule mais uma criança do que o contato com a natureza.
- Isso é fantástico. Muitos artistas e pessoas criativas relatam que buscam inspiração em cheiros e em contatos com a natureza no período da infância. Muitas crianças podem melhorar inclusive o aprendizado - explica o médico.
Conforme Crestana, até os três anos de idade a criança vive a fase chamada de período crítico da espécie humana, quando se dá o desenvolvimento cerebral em sua forma mais intensa. Quanto mais experiências forem apresentadas a elas neste período, mais o cérebro se expandirá.
- Expande o cérebro, cria novas redes neurais, aumenta as conexões entre os neurônios. Colocar a mãozinha na água, desenvolver sons, sabores, odores, são experiências primitivas que vão enriquecer essa criança - observa o pediatra.
Preste atenção
- Em contato com a terra, os animais, as cores e os sons da natureza, as crianças apuram os cinco sentidos e descobrem novas percepções, reconhecendo a natureza.
- Poder tirar o sapato e andar descalça pela grama é diferente do que apenas olhar a grama. Por vivermos em uma sociedade muito visual, é preciso colocar a criança em contato com o mundo para desenvolver a sensibilidade.
- A criança se apropria da sensação de estar em contato com a natureza e a leva como experiência. Será mais sensível a questões que a desafiarão durante a vida. Isso não se ensina depois de adulto, se aprende enquanto criança.
* Fonte: Doris Gerber, psicopedagoga e mestre em educação
Notícia
Contato com a natureza aumenta a sensibilidade das crianças
É preciso ensinar os pequenos a viver em harmonia com o meio ambiente
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