Com o Oscar de melhor diretor recebido por O Silêncio dos Inocentes (1991), Jonathan Demme consagrou-se como um dos grandes nomes do cinema americano contemporâneo. O cineasta morreu nesta quarta-feira em Nova York, aos 73 anos, em decorrência de um câncer no esôfago e complicações cardíacas. Em suas mais recentes aparições públicas, como na homenagem que recebeu em 2015 no Festival de Veneza, Demme já se mostrava com a saúde fragilizada.
Ao longo de sua carreira, iniciada com a comédia de ação Celas em Chamas (1974), Demme construiu um filmografia robusta, na qual conseguiu imprimir a pegada autoral e mais independente, característica da geração que revigorou a produção americana, nos anos 1970, em produções com apelo comercial. Antes de apresentar os filmes que o tornariam internacionalmente conhecido, o diretor nascido em Baldwin, Estado de Nova York, acompanhou de perto a efervescência musical do cenário pós-punk. Em 1984, mesmo ano em que apresentou Armas e Amores (1984), chegou ao cinemas Stop Making Sense (1984), inventivo registro de um show da banda Talking Heads – Demme foi um dos diretores que deram prestígio aos primeiros tempos da MTV, tem a assinatura dele, por exemplo, videoclipes como o The Perfect Kiss, da banda britânica New Order.
Seu primeiro grande sucesso foi Totalmente Selvagem (1986), indicado a três Globos de Ouro, road movie sobre executivo certinho (Jeff Daniels) que se lança em uma aventura na estrada após conhecer um mulher de espírito livre (Melanie Griffith). Apos dirigir Michelle Pfeiffer em De Caso com a Máfia (1988), Demme apresentou O Silêncio dos Inocentes, um dos três únicos concorrentes na história do Oscar a conquistar o chamado Big Five: as estatuetas de melhor filme, direção, ator (Anthony Hopkins), atriz (Jodie Foster) e roteiro – ou outros dois são Aconteceu Naquela Noite (1934) e Um Estranho no Ninho (1975). Este suspense psicológico consagrou um personagem antológico: o psicopata canibal Hannibal Lecter, criado pelo escritor Thomas Harris, ganhou nesse filme sua melhor representação. A trama destaca o duelo psicológico travado entre o criminoso e uma jovem agente do FBI que recorre a sua expertise para ajudá-a capturar um assassino em série.
Outro grande momento viria na sequência: o drama Filadélfia (1993), no qual Tom Hanks vive um advogado que recorre à justiça após ser demitido por ser soropositivo. O filme ampliou a visibilidade sobre a aids numa época em que a doença ainda tinha elevada taxa de mortalidade e era cercada por preconceito e desinformação. Hanks ganhou o Oscar de melhor ator, e Bruce Springsteen, o de canção original, com Streets of Philadelphia.
Nos anos 2000, Demme assinou, entre outros trabalhos, Sob o Domínio do Mal (2004), boa refilmagem do clássico thriller de 1962, Heart of Gold (2006), um belo registro de Neil Young ao vivo no palco, e O Casamento de Rachel (2008), delicado drama familiar que valeu a Anne Hathaway a indicação ao Oscar de melhor atriz. Seu último longa foi Ricki and the Flash: De Volta Para Casa (2015), com Mery Streep vivendo um veterana roqueira que tenta se readaptar à turbulenta rotina familiar depois de anos de vida desregrada. Fez ainda um especial musical com Justin Timberlake e dirigiu um episódio da série policial Shots Fired, que tem no elenco Helen Hunt e Richard Dreyfuss, coincidentemente previsto para ser exibido nesta quarta-feira.
Influência assumida de colegas como Paul Thomas Anderson, Alexander Payne e Wes Anderson, Demme também era ativista político e humanitário, realizando musicais e documentários, entre outros temas, sobre o apartheid na África do Sul, a ditadura no Haiti e em apoio a vítimas do furacão Katrina, em New Orleans.
Principais filmes de Jonathan Demme:
O Casamento de Rachel (2008) *
Sob o Domínio do Mal (2004) *
Filadélfia (1993) *
O Silêncio dos Inocentes (1991) *
De Caso com a Máfia (1988)
Totalmente Selvagem (1986)
Stop Making Sense (1984) *
* Disponível em DVD