Se Joesley Batista tem novas gravações e só vai entregá-las se forem mantidos os benefícios negociados no acordo de delação premiada, é porque omitiu informações. Logo, deu causa à rescisão do acordo e merece o banho frio, a cama de cimento e a cela sem banheiro e sem janelas em que está confinado, um contraste e tanto com a vida de novo-rico que levava enquanto corrompia políticos.
O que há de tão importante nessas gravações (uma delas de conversa com o ex-ministro José Eduardo Cardozo) para que Joesley e seu braço direito, Ricardo Saud, tenham decidido guardá-las fora do país? Essa é a pergunta de setembro. Em maio, quando a delação veio à tona, a dúvida era outra: como o dono da JBS conseguira um acordo tão rápido e em condições tão favoráveis, quando outros delatores passaram meses e até mais de um ano negociando com o Ministério Público Federal?
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Em depoimento à Polícia Federal, Joesley disse que tinha um contrato fictício com o escritório de Marco Aurélio Carvalho, atual sócio de Cardozo. Na semana passada, Ricardo Saud havia dito que tentou gravar Cardozo para tentar incriminar ministros do STF, mas que ele não disse nada de comprometedor. Agora, a versão é de que Cardozo deu uma espécie de mapa de quais políticos tinham influência sobre ministros do Supremo. Em nota, o ex-ministro da Justiça reafirmou que, oito meses depois de deixar o governo, foi sondado para prestar serviços à JBS, mas não fechou qualquer contrato.
Está cada vez mais claro que o caminho das pedras foi ensinado pelo procurador Marcello Miller, um agente duplo até o dia em que trocou oficialmente a carreira de procurador da República pela de advogado. A versão de que só havia se envolvido na negociação do acordo de leniência da JBS – suspenso parcialmente nesta segunda-feira – ruiu com a divulgação de e-mails que confirmam sua atuação como consultor antes de consumada a exoneração. Müller não era um procurador qualquer. Por três anos, atuou no gabinete de Rodrigo Janot. Era do grupo que detinha informações privilegiadas e, ao que tudo indica, as utilizou em favor dos irmãos Batista.
Aliás
Protegido pela maioria na Câmara, Michel Temer não perde o sono com o relatório da Polícia Federal que o cita como membro de uma organização criminosa integrada por caciques do PMDB. Sabe que, como dizem os adolescentes, “não dá nada”.