Com a assinatura de 63 dos 81 senadores, foi protocolado pelo senador Paulo Paim (PT) o requerimento para criação de uma CPI destinada a investigar eventuais desvios de recursos da Previdência Social. O fato de tantos senadores da base do governo Michel Temer terem assinado o requerimento deixa no ar uma pergunta legítima: o que estará por trás de tanto desprendimento? Em geral, os governos fogem de CPIs porque sabem como começam, mas não têm ideia de como terminam.
A assinatura do senador Romero Jucá (PMDB-RR) deveria deixar intrigado o próprio Paim, que protocolou o requerimento acompanhado de líderes sindicais que transformaram o ato em uma manifestação contra as reformas previdenciária e trabalhista. O apoio do governo a uma CPI cujo objetivo implícito é implodir a reforma da Previdência soa como um paradoxo, a menos que o objetivo seja dominar a comissão e dar a ela o rumo mais conveniente para o Palácio do Planalto.
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Nos últimos anos, as CPIs foram aos poucos perdendo a credibilidade, graças às manobras da maioria governista. Por que seria diferente a da Previdência, no momento em que tramita na Câmara uma proposta que a oposição combate?
Os senadores da base governista têm motivos confessáveis e inconfessáveis para apoiar a CPI. O motivo nobre é o interesse em iluminar as zonas de sombra que envolvem o tema. Interessa a todos os brasileiros conhecer a realidade dos números, saber se quem está certo é o governo, que aponta um déficit bilionário, ou se são seus opositores que, como Paim, sustentam que existe superávit. Paim também diz que outro objetivo da CPI é "combater a fraude, a sonegação e a corrupção" na Previdência.
O motivo inconfessável é que, como a reforma da Previdência afeta a maioria dos brasileiros, não apoiar a CPI pode resultar em perda de votos. E a eleição de 2018 já desponta no horizonte. Dois terços dos senadores terão de renovar o mandato em 2018 ou vestir o pijama.
Consciente da resistência dos aliados à reforma e da perda de espaço na agenda política para outros temas, Temer entrou em cena no início da noite passada para recolocar o assunto em pauta e tentar convencer deputados e senadores de que o crescimento da economia depende das mudanças na Previdência.
Aliás
Ao dizer que a reforma da Previdência não vale para os servidores estaduais e municipais, Temer frustra governadores e prefeitos, que esperavam colher o bônus sem arcar como ônus.