O fato de Eduardo Cunha ter contratado um advogado especialista em colaboração premiada alimentou as especulações sobre a possibilidade de o ex-presidente da Câmara fechar um acordo para delatar seus antigos cúmplices. O Ministério Público Federal, no entanto, mantém a cautela: o procurador Douglas Fischer disse em entrevista à Rádio Gaúcha que não se pode banalizar o instituto da delação premiada.
Fischer segue a orientação do procurador-geral Rodrigo Janot: os acordos só se justificam quando o delator tem informações relevantes e inéditas. Como o quebra-cabeça da Lava-Jato vem sendo montado há mais de dois anos e identificou as falcatruas de Cunha sem sua colaboração, será difícil para ele receber o benefício da redução de pena ou ter bens liberados em troca de informações. Mais provável é um acordo para aliviar a pena da mulher, Cláudia Cruz, e da filha Danielle. Os investigadores estão empenhados em confirmar se o casamento de Danielle, no Copacabana Palace, foi pago com dinheiro de propina, como suspeitam, já que não foram identificados saques que cobrissem os R$ 266 mil pagos ao mais tradicional hotel do Rio de Janeiro. A nota saiu em nome da empresa da família e a conta foi paga com depósitos feitos em espécie.
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A iniciativa de propor a "colaboração" é tomada pelo candidato a delator. A negociação parte de um esboço do que está disposto a entregar. São os anexos. A cada fato específico, que serve como roteiro para os investigadores, corresponde um anexo.
Mesmo que Cunha se proponha a fazer delação, os investigadores deverão cozinhá-lo por longo tempo. Preso e sem acesso a sua rede de contatos, Cunha fica vulnerável e, portanto, menos resistente.
Antes de fechar um eventual acordo com o ex-deputado, será preciso esmiuçar as informações de outras delações já homologadas e das que estão em fase de negociação, como as de Marcelo Odebrecht e dos executivos da empreiteira, para ter certeza de que o ex-presidente da Câmara estará, de fato, abrindo segredos capazes de ajudar a desvendar o esquema de corrupção na Petrobras e em outras empresas públicas.