Com uma vitória avassaladora no Colégio Eleitoral e no voto popular, Donald Trump sagrou-se o 47º presidente dos Estados Unidos e volta à Casa Branca para mais quatro anos de mandato com ainda mais poder. Sua força será o resultado da incontestável chancela do eleitorado norte-americano, que lhe conferiu um êxito sobre a democrata Kamala Harris por uma margem amplamente superior à da maioria dos prognósticos, a despeito da gestão anterior problemática, de uma condenação e dos processos judiciais a que responde.
Republicano causa apreensão no mundo por suas promessas de campanha que indicam maior isolacionismo e protecionismo
O resultado tem repercussões globais. Com a exceção de seus aliados ideológicos, o republicano causa apreensão no mundo por suas promessas de campanha que indicam maior isolacionismo e protecionismo. O acirramento da guerra comercial com a China, com a elevação de tarifas de importação, tende a ser inflacionária e causar reflexos econômicos inclusive no Brasil.
Deve-se reconhecer, porém, que Trump foi eleito de uma forma cristalina e com uma plataforma clara. Tem toda a legitimidade para implantar o seu programa de governo, ajudado pela maioria republicana conquistada na Câmara e no Senado. Ainda assim, seria desejável que moderasse a retórica e repensasse medidas que possam levar a mais intranquilidade interna e externa. Espera-se que ameaças de uso do aparato estatal para perseguir adversários sejam lembradas apenas como bravatas. Em seu discurso na madrugada de ontem, com a vitória assegurada, já fez um pronunciamento com um tom mais conciliador.
Trump, aliás, venceu da mesma maneira limpa com que perdeu há quatro anos para o democrata Joe Biden. Deveria pedir desculpas pela instabilidade que criou na mais poderosa democracia do mundo, quando questionou falsamente o processo eleitoral de 2020. A leviandade levou às cenas inimagináveis da invasão do Capitólio e inspirou os atos antidemocráticos de igual gravidade no Brasil. Aguarda-se que o republicano governe sem atentar contra a higidez institucional da democracia norte-americana.
Donald Trump retorna à Casa Branca em um momento de incertezas mundiais acentuadas. Uma das grandes preocupações é relacionada às mudanças climáticas. Será uma lástima se, como tem sinalizado, promover um retrocesso na agenda da transição energética. De outro lado, vive-se uma era de divisões e guerras no Leste Europeu e no Oriente Médio. Ao longo da campanha, o republicano prometeu acabar com os conflitos. A Europa, no entanto, teme que a política externa do futuro presidente norte-americano fortaleça as ambições expansionistas russas. O líder da maior nação do planeta tem responsabilidades que vão além das fronteiras dos EUA.
No que envolve o Brasil, é provável que, pelas diferenças ideológicas, Trump mantenha uma relação fria com Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente brasileiro, ontem, foi protocolar ao cumprimentar Trump, mas cumpriu o gesto civilizado esperado de quem ocupa o cargo. Caberá à diplomacia dos dois países atuar de forma serena e profissional, com pragmatismo, para evitar maiores atritos e manter uma conexão colaborativa. Brasil e EUA celebraram neste ano 200 anos de relações diplomáticas. São elos que devem permanecer imunes ao que os mandatários da vez pensam um do outro.