Os movimentos e recuos do presidente interino Michel Temer, motivo de críticas recorrentes desde os seus primeiros dias no Planalto, se repetiram agora no fechamento das contas para anunciar nesta quinta-feira a previsão de déficit fiscal de R$ 139 bilhões para o próximo ano, abaixo dos R$ 150 bilhões esperados pelo mercado. Na segunda-feira, falando a empresários do agronegócio, Temer garantiu que em breve anunciaria medidas impopulares para recolocar o Brasil nos trilhos. Dizia não ter preocupações eleitorais ou com popularidade. Cresceram as apostas de que o timing político para colocar em prática o plano seria aprovação do impeachment no Senado, prevista para agosto.
As sinalizações vindas de Brasília até quinta-feira pela manhã tinham o mesmo sentido.
A obsessão de apresentar no próximo ano um déficit inferior aos R$ 170,5 bilhões de 2016 teria um preço, que até pouco tempo era negado: aumento de impostos, entre os quais a Cide, que incide sobre combustíveis. A facilidade seria maior por tratarem-se de tributos que poderiam ser elevados com um canetaço, sem a necessidade de passarem pelo Congresso.
Mas em poucas horas a característica titubeante do governo reapareceu. No início da tarde, a ordem do presidente interino à equipe econômica seria a de fechar a meta sem sufocar ainda mais o contribuinte. O motivo da vacilação? Porque seria negativo para sua imagem pessoal. Isso apenas três dias depois de garantir que a sua popularidade não tinha importância ante o bem maior.
No início da noite, ao anunciar a meta de R$ 139 bilhões, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não falou claramente em aumento de impostos. Nos cálculos feitos pelo governo, o incremento da arrecadação para atingir a meta viria de outras fontes:
– Faremos esforço arrecadatório importante de R$ 55 bilhões, principalmente com venda de ativos, outorgas e concessões – disse Meirelles.
Entre as projeções, há uma difícil de engolir. O rombo dos Estados, em 2017, seria apenas R$ 1,1 bilhão. Factível ou não, o déficit previsto para o país em 2017 tenta ao menos passar para o mercado compromisso com o rigor fiscal.
*Interino da coluna +Economia. A titular, Marta Sfredo, está em viagem.