Vez que outra o peso de lidar com assuntos criminais durante quatro décadas fica demasiado para o jornalista. É o caso desta terça-feira (16), data que ficará marcada pela divulgação de um dos mais escabrosos crimes já registrados na crônica policial gaúcha. O caso da mulher suspeita de matar uma grávida para roubar o bebê é abominável e inominável, não existem adjetivos suficientes para descrever a repulsa que causa.
Até pelos requintes de crueldade: a vítima, aos nove meses de gravidez, foi amarrada, morta e teve o corpo escondido embaixo da cama da assassina. A suposta autora do crime hediondo possivelmente queria adotar a criança como se fosse sua, mas o bebê não sobreviveu ao assassinato da mãe.
É um feminicídio, que praticado durante a gestação ou nos três meses seguintes ao parto tem a pena aumentada de um terço até a metade, no Brasil. É o mínimo que se espera em um caso estarrecedor como esse.
Em 2018, a revista de psicologia Universal Journal of Psychology publicou um estudo chamado Homicídio de Mulheres Grávidas e no Pós-Parto: Uma Revisão Bibliográfica (Homicide in Pregnant and Postpartum Women: A Review of the Literature). São mortes causadas especialmente por violência masculina. Parceiros íntimos (ou ex-parceiros) são autores da maioria dos assassinatos. Entre os fatores de risco, estão o fato de não estar casada formalmente, ser recém-separada do parceiro, já ter sofrido violência doméstica previamente à gravidez ou o parceiro fazer uso de álcool e outras drogas.
O caso descoberto agora é exceção nesse panorama descrito pelo estudo. Mas o que levou a mulher presa nesta terça-feira a matar a grávida (caso se confirme tudo que a investigação aponta)? Um desejo de ser mãe, acima de qualquer senso moral? Uma psicopatia? Só médicos, ela — ou, talvez, nem ela — poderão explicar.