O sargento santa-mariense Dilmar Antônio Pinheiro Lopes, aposentado do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, e quatro colegas de farda foram condecorados esta semana pela atuação na maior tragédia gaúcha, o incêndio da boate Kiss. A danceteria de Santa Maria pegou fogo em janeiro de 2013, o que levou à morte de 242 pessoas.
A condecoração, Ordem do Grau de Bravura, foi dada pelo Instituto Boina Azul, entidade que costuma homenagear militares federais ou estaduais que atuaram em tragédias ou Missões de Paz da ONU. A honraria tem, para Dilmar, tom de desagravo.
Ele e seus colegas sofreram muitas críticas na época do incêndio. Alguns foram indiciados pela Polícia Civil por, supostamente, ter contribuído para mortes na Kiss ao permitir a entrada de voluntários para fazerem resgate na boate.
O indiciamento não progrediu, o caso foi arquivado, mas os bombeiros foram alvo de críticas e hostilidade de familiares de vítimas, durante anos. Muitos tiveram de fazer tratamento psicológico.
Dilmar também teve sequelas físicas. Ele subiu no telhado da boate e, com colegas, abriu um rombo no teto para dar vazão à fumaça tóxica. Acabou com um enfisema pulmonar. Passou anos tossindo. Um médico lhe disse que tinha pulmões de uma pessoa que fumou por 30 anos, mas ele nunca foi fumante.
Com o tempo, Dilmar e outros reviram familiares de sobreviventes. Alguns agradecem a atuação dos bombeiros. Desses militares aí. Não confundir com outros integrantes do Corpo de Bombeiros que, de uma forma ou outra, permitiram o funcionamento da boate Kiss nas condições em que estava: sem saída de emergência, com janelas lacradas para evitar barulho, com barras metálicas na saída principal para evitar que alguém saísse sem pagar (uma sucessão de armadilhas involuntárias que contribuíram para as mortes).
Do grupo de bombeiros que deveria fiscalizar a danceteria antes do incêndio, pelo menos quatro foram condenados judicialmente por crimes diversos. Inclusive por inserir informações falsas que ajudaram a legalizar alvarás e liberar a casa noturna em desacordo com normas de prevenção. Sobre esses, é bom nem perguntar aos familiares de vítimas da Kiss a opinião a respeito.