Já se sabe que uma dívida de drogas motivou a onda de assassinatos que já deixou 14 mortos e 20 feridos em 20 dias, em Porto Alegre. Mas de quanto é o valor? Fomos atrás da informação. Os policiais que investigam homicídios e tráfico trabalham com dois montantes. A primeira informação que surgiu é de que seria de R$ 600 mil. A segunda, R$ 2 milhões.
Vamos dar nomes aos bois, embora no cotidiano procuremos evitar propaganda para o crime organizado. O débito é cobrado por Os Manos, principal facção criminal do Rio Grande do Sul, originária do Vale do Sinos, mas com domínio sobre todos os vales ribeirinhos (Caí, Taquari, Rio Pardo, Paranhana) e atuação também nas proximidades do porto de Rio Grande. Eles cobrariam uma partilha de drogas vendida aos V7, mas que teria sido apreendida em operação policial.
Os V7 nasceram na Cruzeiro, maior vila de Porto Alegre, mas se expandiram para outras áreas, como a Vila Planetário e Vila dos Papeleiros. Fazem parte da coligação Anti-Bala, que são quadrilhas que se opõem aos Bala na Cara, facção mais forte da Capital. Complicado? Pois vai ficar ainda mais complexo o quebra-cabeça.
Durante mais de uma década, os Manos, atacadistas no fornecimento de drogas no Rio Grande do Sul (porque conseguem comprar no Exterior), foram aliados dos Anti-Bala. Forneciam a eles drogas e armas, para tentarem conter a expansão dos Bala na Cara rumo ao Interior.
Só que a aliança sofreu um abalo com a perda da carga de drogas. Os Manos inclusive estariam estimulando o avanço dos Bala na Cara sobre as bocas de fumo dos V7, como vingança. O resultado é a volta de um ciclo vicioso que já começa a tingir as ruas com sangue de inocentes. No sábado (2), uma criança foi baleada numa festa de aniversário em que um preso do regime semiaberto foi executado, na Vila Cruzeiro.
Nem os policiais têm certeza de qual foi o fator a desencadear o novo ciclo, mas a onda de assassinatos seletivos começou em meados de março. Fomos atrás e identificamos uma grande apreensão de maconha, duas toneladas, justamente em 13 de março. A droga vinha do Paraguai, ia para Alvorada e foi apreendida por policiais civis liderados pelo delegado Juliano Ferreira, titular da 1ª Delegacia Regional Metropolitana.
Qual o valor estimado dessa carga? R$ 2 milhões. A quem pertencia? A Os Manos. Coincidência? Difícil haver coincidências no submundo, mas pode ser. O que não fecha na equação é o papel dos V7 nesse caso. Mas talvez o consórcio que adquiriu a droga em Alvorada redistribuísse a maconha para morros de Porto Alegre. Como se sabe, dinheiro perdido é dinheiro cobrado, no mundo do crime. A manutenção do débito resulta em pena de morte. A ver agora se as investigações confirmam o pivô da matança.