É frenética a troca de informações entre policiais civis de Santa Catarina e de São Paulo nas últimas 24 horas. A suspeita é de que o bando que tocou o terror no roubo a uma agência do Banco do Brasil em Criciúma na noite de segunda (30) para terça-feira (1º) seja o mesmo que atuou em outros nove mega-assaltos, praticados inclusive no Exterior.
Dois caminhões são considerados pista para embasar essa suspeita. Um deles, incendiado em Criciúma e usado para bloquear um túnel na BR-101 (impedindo perseguições policiais), foi roubado na região de Araraquara (SP) há dois anos.
Pois em Araraquara, em 24 de novembro, aconteceu um assalto idêntico ao realizado esta semana em Santa Catarina. Mais de 30 criminosos usaram metralhadora antiaérea, fizeram reféns (inclusive amarrados em carros), interditaram vias de acesso com veículos roubados, atacaram base da BM e fugiram. Há possibilidade de que o caminhão incendiado no sul catarinense tenha sido usado no mega-assalto paulista.
Mas tem mais. O modus operandi nesses dois casos é o mesmo usado em assaltos nas cidades paulistas de Ourinhos (maio deste ano), Botucatu (dezembro de 2019 e julho de 2020) e Campinas (outubro de 2019, com ataque a carros-fortes no aeroporto de Viracopos). A tática usada pelos bandidos também é igual à do ataque a três blindados no aeroporto de Blumenau em março de 2019, no qual morreu uma mulher (por bala perdida) e dois vigilantes ficaram feridos.
O caso foi esclarecido pela Polícia Civil de Santa Catarina, que prendeu oito investigados – quase todos paulistas. Um deles, preso em Pernambuco, teria organizado os ataques de Blumenau e Campinas. Eles continuam presos, à espera de julgamento. Uma das pistas decisivas foi o uso de um caminhão de lixo para transportar o dinheiro a São Paulo. Esse veículo pesado teria sido usado no roubo em Viracopos, que teve três mortos. É o segundo caminhão a fortalecer a suspeita de autoria paulista nos crimes.
A lista não termina aí. O cruzamento de nomes de suspeitos revela que alguns teriam participado ainda do maior assalto da história do Paraguai (o equivalente a R$ 60 milhões roubados da sede da transportadora de valores Prosegur em 2017, em Ciudad del Este, com morte de um policial). Em São Paulo está preso um bandido, apelidado Gianecchini, por participação nos ataques de Botucatu, Ourinhos, Iacanga (SP, em 2016) e Santana de Matos (Rio Grande do Norte, em 2017). Ainda não se sabe se teve participação nos roubos do sul do país, mas a ligação com Ourinhos leva a essa suspeita.
Em todos esses casos, os roubos renderam de R$ 10 milhões a 80 milhões para os bandidos. Comum a eles, um efeito colateral nefasto: inocentes mortos e feridos pelo uso indiscriminado de armas de grande poder de fogo por parte dos bandidos.
— Tudo indica uma ligação entre muitos desses grandes roubos — resume o chefe da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil catarinense, delegado Luís Felipe Fuentes.
GZH falou também com policiais de São Paulo e do Rio Grande do Sul, que acreditam nessa ligação. Curiosamente, os policiais não atribuem ao mesmo bando o ataque realizado na madrugada desta quarta-feira (2) na cidade de Cametá, no Pará.
Os indícios apontam para uma articulação nacional. Podem ser integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do país, ou apenas assaltantes contratados pela organização para realizar os roubos, em troca de um percentual.
E qual seria o interesse dessa facção? Todos os entrevistados pelo colunista afastam a hipótese de vingança ou onda de atentados. Eles estariam em busca de dinheiro, mesmo.
— A pandemia diminuiu a venda de drogas e a facção tem perdido muito dinheiro. A política de restrições a visitas durante a quarentena apertou, O isolamento dos presos ficou maior. Provável que venham buscando uma fonte de renda mais rápida — cogita o jornalista e sociólogo Bruno Paes Manso, autor do livro A guerra: a ascenção do PCC e o mundo do crime no Brasil.