O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Após dobrar de patamar e bater sucessivos recordes em 2020, a cotação do arroz deve começar a perder fôlego nas próximas semanas. Indústria e produtores veem pouco espaço para o cereal manter o ritmo de valorização. Na sexta-feira passada, o preço da saca de 50 quilos atingiu R$ 102,93, o maior valor nominal já registrado na história do indicador Esalq/Senar-RS. A alta acumulada é de 114% no ano.
Diferentes fatores explicam a escalada no preço. O dólar valorizado motivou o aumento das exportações do produto brasileiro e o recuo das importações. Além disso, a pandemia levou à mudança nos hábitos de consumo dos brasileiros, que passaram a cozinhar mais em casa e incrementaram a presença do arroz no cardápio. Esses movimentos são abastecidos principalmente pela safra do Rio Grande do Sul, colhida na menor área plantada em duas décadas.
O diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Arroz do Estado (Sindiarroz), Tiago Barata, afirma que já era esperada valorização do grão neste ano, mas o que surpreendeu foi a intensidade. No entanto, a partir de agora, o mercado deve entrar em um novo momento.
– Acredito que estamos próximos do teto, pois alguns fatores começaram a se desalinhar. Os preços mais altos no mercado doméstico e o enfraquecimento do dólar nas últimas semanas passaram a viabilizar novamente a importação de arroz – salienta.
A elevação do preço da saca se refletiu em um novo patamar de preços nas gôndolas dos supermercados e vem chamando a atenção do consumidor. No monitoramento de preços da cesta básica em Porto Alegre feito pelo Dieese, o arroz subiu quase 18% em agosto frente a julho.
O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz), Alexandre Velho, considera o movimento uma atualização, já que o produto estaria com o preço defasado há anos.
– Mesmo nesse novo patamar, o arroz continua sendo acessível. O consumidor que acha caro pagar R$ 4 num quilo de arroz, muitas vezes paga R$ 7 em refrigerante e não considera isso caro – complementa.