A entrevista da atriz Larissa Manoela para o programa Fantástico trouxe à tona um problema familiar que sofre toda criança prodígio: o sufocamento dos pais.
Para ela ter que revelar o drama publicamente, é que ela transbordou de censura e solidão. Só imagino o que penou em segredo, o que já foi obrigada a assinar por coerção afetiva.
Foi um último e dolorido recurso, culminando no desabafo desencantado de uma filha diante da inexplicável cobiça dos pais.
De acordo com o seu relato, eles sequestraram a sua carreira, gerenciando absolutamente cada milímetro de suas aparições e estrelato, não prestando contas, não revelando contratos, como se a filha ainda fosse menor de idade.
Aos 22 anos, Larissa Manoela, uma das mais famosas artistas globais brasileiras, carecia de autonomia e de independência, não controlava a entrada e saída de seu capital, nem sabia das verbas recebidas a partir do merchandising de seis grandes marcas. Constava como acionista da sua empresa com simbólicos 2%.
Mesmo sendo milionária a partir de seu próprio trabalho, precisava pedir dinheiro para comprar um coco, um milho, um refrigerante num quiosque de praia.
Não tem como não comparar o confinamento psicológico e financeiro de Larissa com o que viveu a cantora americana Britney Spears, que entrou na Justiça contra sua família e ganhou mobilização popular a partir da campanha "Free Britney" ("Liberte a Britney"). A popstar pediu o fim da tutela que colocava seu pai, Jamie Spears, como responsável pelo seu patrimônio. Chegou a relatar que foi drogada, forçada a atuar contra sua vontade e impedida de ter filhos. Em novembro de 2021, depois de treze anos, a Justiça da Califórnia ordenou o fim da representação.
No caso de Larissa, é mais do que justo e humano que ela possa assumir os seus negócios, que são seus por direito e talento.
Poderia finalmente desfrutar dos louros de sua precocidade nos palcos e nas passarelas, de uma trajetória feita no maior sacrifício, sem trégua, sem infância, sem adolescência, que resultou em cinco novelas, cinco musicais, onze filmes, três álbuns, conquistando mais de 80 milhões de seguidores nas redes sociais.
Por mais que ela não deseje perder os seus pais, renunciando inclusive um patrimônio de R$ 18 milhões, eles demonstraram, por mensagens e áudios, uma total indiferença com a sua decisão e sua bem-vinda maturidade. Vieram com chantagens emocionais de que não se veriam mais, de que era uma traição pelas costas.
Quem assistiu a ela partilhou de incondicional solidariedade.
Não houve raiva, não houve agressão, não houve escândalo. Presenciamos um raro momento de discernimento dentro da mais profunda crise pessoal.
Por que é tão difícil entender que aquela menina de 4 anos que começou a brilhar como modelo, e a Maria Joaquina de Carrossel, de 12 anos, não existem mais?
Nas palavras sensíveis a favor de sua natural independência, destacavam-se o equilíbrio, a educação, o bom senso, o afeto pungente com os últimos acontecimentos e uma imensa vergonha de não contar com saída pacífica e estar abrindo uma situação íntima.
Por que é tão difícil entender que aquela menina de 4 anos que começou a brilhar como modelo, e a Maria Joaquina de Carrossel, de 12 anos, não existem mais?
Ela não depende mais de tutores, de empresários, somente de pai e de mãe. Do colo. De apoio. De abraço. Do incentivo para ser adulta e dona do seu espaço.
Se ela pretende viver com noivo ou sozinha, não é mais da conta deles.
Deveriam ter orgulho dela, da pessoa gentil, carismática e carinhosa que ela se tornou. Deveriam lembrar que ela deu tudo para eles, que bancou tudo naquela casa. Deveriam reagir com o mínimo de gratidão.
Por isso, eu digo, escrevo e apoio: Free Larissa Manoela!