A intrincada investigação para esclarecer o homicídio da enfermeira Priscila Ferreira Leonardi, 40 anos, recebeu mais elementos após o corpo ter sido encontrado em Alegrete, na Fronteira Oeste, boiando no Rio Ibirapuitã, preso em galhos e vegetação próximos à margem.
O laudo pericial não apontou lesões na região vaginal, mas o estado avançado de decomposição impediu a coleta de material genético, o que poderia dar um exame mais apurado a respeito de eventual estupro.
— O que o perito constatou no laudo, no exame de necropsia, foram sinais de espancamento e a causa da morte foi estrangulamento. Sinais de violência sexual, a princípio, o perito não constatou — afirma a delegada Fernanda Graebin Mendonça, da 1ª Delegacia de Polícia de Alegrete.
Nos depoimentos colhidos até o momento, não foi relatado aos investigadores nenhum relacionamento atual ou a existência de um ex-namorado de Priscila no município. Ela era solteira e não tinha filhos. Apesar disso, a Polícia Civil trabalha com diferentes linhas de investigação e não descarta a hipótese de feminicídio.
Priscila morava em Dublin, na Irlanda, desde 2019 e estava de férias do trabalho. Ela atuava no país europeu prestando cuidados clínicos a idosos em um asilo.
A vinda dela ao Brasil tinha o objetivo de tratar de assuntos particulares, incluindo a tramitação judicial de um inventário da herança deixada pelo pai dela, Ildo Leonardi, falecido em maio de 2020. Advogado de Priscila, Rafael Hundertmark de Oliveira afirma que não havia desavença quanto ao espólio. As herdeiras eram Priscila e uma irmã por parte de pai que foi descoberta tardiamente, em 2019.
Havia litígio entre outros familiares de Alegrete e Priscila em função de discussões judiciais sobre bens que eram de posse da enfermeira, os quais não tinham relação com a herança. Dias antes de desaparecer, ela teria descoberto o possível sumiço de dinheiro e de posses do falecido pai, o que teria ocorrido anos atrás.
Não se sabe até o momento se Priscila confrontou familiares por conta disso. Essa é outra linha de investigação e considera a hipótese de o homicídio ter sido motivado por bens, valores ou dívidas.
No dia em que desapareceu, em 19 de junho, Priscila deixou de comparecer a uma reunião com o seu advogado no período da tarde. Isso causou estranheza porque ela era "extremamente pontual", nas palavras do profissional, e estava em Alegrete justamente para tratar desses assuntos. Acredita-se que, já naquela tarde, ela estivesse com problemas consideráveis a consumir sua atenção.
À noite, ela teria sido vista pela última vez ao sair da casa que era do pai, no bairro Vila Nova, onde residem familiares — incluindo um primo que chegou a morar com o falecido Ildo. Na versão apresentada pelo primo, Priscila chamou um carro preto, por aplicativo, no qual embarcou rumo à casa de uma prima, também em Alegrete, onde estava hospedada.
Não há imagens desse embarque. É uma região de moradias simples e, até agora, nenhuma câmera de segurança que possa auxiliar a investigação foi descoberta.
Na manhã de 20 de junho, uma terça-feira, a prima acordou e viu que Priscila não havia dormido na residência. Ela não teria chegado ao destino após embarcar no carro preto, e as reiteradas tentativas de contato pelo telefone celular não eram respondidas. Ainda naquela manhã, a prima que oferecia pouso e o primo que havia estado com ela na noite anterior foram juntos à Polícia Civil registrar o desaparecimento.
O corpo somente foi encontrado em 6 de julho, após ser avistado por um pescador no Rio Ibirapuitã. O local não fica distante da casa do falecido pai, mas o ponto do rio onde o cadáver estava é de difícil acesso. A equipe da Polícia Civil, após acionada, teve de fazer um trajeto de 10 minutos de bote motorizado para alcançar a localização.
Não foi encontrado junto ao corpo o telefone celular ou qualquer outro pertence. Ela tinha uma fita branca enrolada no pescoço, em várias voltas. O material tinha o aspecto de um esparadrapo grosso, diz a delegada Fernanda.
Enterro
Priscila foi enterrada na última sexta-feira (7) no Cemitério Municipal de Alegrete, no jazigo da família Leonardi. Acima da gaveta em que o corpo foi depositado estão os restos mortais do pai, Ildo.
Na manhã desta segunda-feira (10), funcionários do local assentaram uma segunda mão de concreto na parede do jazigo e registraram, na massa fresca, o nome da vítima. O local estava ornado por vasos de flores e uma coroa enviada pela irmã paterna. Junto aos documentos arquivados no cemitério, a declaração de óbito aponta traumatismo craniano encefálico e asfixia mecânica por estrangulamento como causas da morte.