
Quando o som de violinos e violoncelos se espalhou pelos corredores do Hospital da Criança Santo Antônio, na tarde desta quarta-feira, a música fez pequenos pacientes descerem dos leitos e deixarem seus quartos, alguns caminhando com dificuldade, outros em cadeiras de rodas. Thiago Weiler, 10 anos, internado há 28 dias para tratamento de uma leucemia, veio lentamente do fundo da ala, auxiliado pela mãe, que carregava a haste com o soro. O menino só parou ao pé dos músicos. Com a imunidade baixa, não costuma deixar o quarto.
- Não posso sair muito. Mas às vezes tem coisas diferentes no hospital, como dança ou pintura. É muito legal. Hoje, gostei do violão gigante - disse, referindo-se ao violoncelo.
Cachorros levam alegria a crianças internadas em hospital infantil
A cena repetiu-se em quatro andares do hospital da Capital. Um quarteto e um quinteto de cordas formados por jovens da Escola de Música da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) percorreram a instituição para levar alegria a crianças internadas, como parte do projeto Escola da Ospa na Comunidade. Para profissionais da saúde, esse tipo de iniciativa tem um valor inestimável. A enfermeira Ana Cláudia Elias afirma que é marcante a melhora do ânimo das crianças, nos dias que se seguem. O médico Ricardo Sukiennik observa que há inclusive ganhos para o tratamento:
- Há muitos anos se sabe que é grande o impacto de atividades recreativas e lúdicas, que deem atenção à criança e a façam sorrir. Não há como quantificar isso, mas há várias experiências científicas mostrando que, quanto mais amigável e lúdico é o ambiente, melhor é a recuperação.
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Ludicidade não faltou no evento desta quarta-feira. No sétimo andar, Davi Moreira Maciel, cinco anos, vítima de uma infecção nos olhos, exultou ao reconhecer melodias da trilha sonora de Frozen e Pokémon. Acompanhou-as com aplausos. Um andar abaixo, Matheus Clementino Mazurana, 13 anos, que passa temporadas no hospital para um tratamento quimioterápico, sentou-se a menos de um metros dos instrumentistas, enlevado.
- Gostei das músicas e dos instrumentos. Nunca tinha visto de perto violoncelo e violino. Animou a minha rotina - contou o garoto.
O violinista Dhouglas Umabel, 17 anos, emocionou-se com a paciente Érika Fagundes Anger, de seis anos, que combate um tumor no cérebro. Primeiro, achou a menina com um ar triste. Na medida em que tocava, foi notando que ela se alegrava. Por fim, estava a dançar e a pedir músicas.
- Ela se soltou. Mudou de astral - vibrou Dhouglas.
Depois de percorrerem os corredores, os músicos desceram ao saguão, onde juntaram-se a outros colegas da Escola de Música da Ospa para um concerto. Érika foi junto. Dançou até cansar, sob o olhar comovido da orquestra.