Um dos principais pontos de coleta de doações para as vítimas das enchentes, o estacionamento do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) foi palco nesta segunda (13) de um atrito entre a direção da instituição e os voluntários que trabalham no local. A partir desta terça (14), a chegada de donativos será gerida pela própria entidade, com outra equipe.
Segundo o presidente do Simers, Marcos Rovinski, a prefeitura de Porto Alegre, que era responsável pelas doações no local, decidiu a partir desta semana devolver o comando do ponto de coleta para o sindicato, por necessitar de um local maior. Contudo, de acordo com o dirigente, os voluntários se negaram a entregar o posto para a entidade.
— Nós achamos muito estranho porque quando a gente foi assumir o ponto de coleta fomos informados que os voluntários continuariam a fazer a gestão do local e não sairiam dali. Meio que tomaram posse do nosso local. São pessoas que nós não conhecemos. Isso nos causa muita preocupação porque o nome e a imagem que está sendo passada são do Simers, que é uma imagem respeitada, com credibilidade. E eu não sei o que vai acontecer com aquelas doações que estão sendo colocadas ali — disse Rovinski.
Já a coordenadora dos voluntários, Dienes Pedroso, alega que não foi notificada pela prefeitura de que precisariam sair e afirma que, na sua visão, não houve interesse do sindicato em dialogar.
— Não houve conversa. O Simers não tentou falar conosco. Eu que tentei contatar eles, mas eles não estavam interessados em diálogo. Hoje de manhã nos foi passado que a gente teria até as 18 horas para sair dali e que o Simers iria retomar (a gestão do espaço). Mas a gente nunca recebeu essa notícia da prefeitura — relatou.
A voluntária alega ainda que, apesar de a gestão do ponto de coleta ser, até esta segunda (13), da prefeitura, na prática, o recebimento e entrega de doações era feito pelos próprios voluntários.
— A pessoa responsável da prefeitura era importante nas tarefas que ela exerce e foi pedido que ela se retirasse daqui. Aí os voluntários passaram a gerir o espaço. Até porque não tinha como uma pessoa gerir um espaço deste tamanho. Aqui, somos abastecidos por civis e por conexões com pessoas acreditaram que a gente estava mandando as doações para os locais corretos e fazendo uma boa distribuição, com um sistema que funciona e sem uma burocratização — completa.
Já Rovinski sustenta que o Simers havia cedido o local à prefeitura, mas é o dono do espaço e que a orientação de que o ponto de coletas passasse a ser gerido pela entidade partiu do próprio município.
— O que está acontecendo ali é uma invasão de uma propriedade privada. Tem pessoas ali que não são nossas que estão invadindo a propriedade do sindicato médico. Estamos tentando uma intermediação para que eles saiam — afirmou.
Dienes alega que não houve invasão, uma vez que ninguém solicitou que os voluntários saíssem do local.
— É muito injusto sermos chamados de invasores. Chamar a gente de invasor se nunca foi pedido para a gente se retirar? E por que nos retirar funciona? Não era para eu estar me preocupando com isso e sim carregando caminhão e entregando doações para as pessoas. A gente quer continuar a fazer isso, mas agora precisaremos de um novo local — completou.
Ao final do dia, os voluntários concordaram em deixar a sede do Simers, e, a partir desta terça, o estacionamento do local voltará a ser gerido pela entidade. Segundo Rovinski, a coleta de doações seguirá ocorrendo no local, mas, agora, sob a gestão do sindicato.
—Pretendemos manter o ponto, especialmente no que se refere a medicamentos, como outros suprimentos que estão sendo necessários. Como aliás vínhamos fazendo antes de sermos solicitados a ceder o local para a prefeitura — completa o presidente da entidade médica.
Presente no local para tentar mediar um acordo, o secretário de Mobilidade Urbana da prefeitura de Porto Alegre, Adão Castro Júnior, disse não estar a par dos detalhes do atrito.
— Eu não sei o que aconteceu, mas foi mal-entendido entre as partes — declarou.
Leia nota do Simers
"Desde o início do mês, quando o Rio Grande do Sul começou a ser afetado pelas enchentes, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) está mobilizado no auxílio às vítimas. Logo nos primeiros dias de enfrentamento à crise, o Sindicato, alinhado à Prefeitura Municipal de Porto Alegre, cedeu o espaço do estacionamento da sede para recebimento e triagem de doações.
Neste domingo (12), a Prefeitura Municipal de Porto Alegre informou ao Simers que o ponto de coleta não será mais utilizado, uma vez que a Prefeitura precisava de um local maior — que suportasse a entrada de caminhões com donativos — e coberto, em função das chuvas. Os donativos já estão sendo recolhidos e encaminhados a um lugar maior. Os voluntários que estavam trabalhando no espaço estão cadastrados no site da Prefeitura e também já foram realocados.
A sede do Simers segue à disposição para o recebimento de doações, que serão administradas por voluntários do próprio Sindicato, das 8h às 18h. O Simers segue à disposição, auxiliando na organização das escalas de voluntários médicos nos abrigos – em 24h, 700 médicos se cadastraram na plataforma – e no acolhimento e atendimento às vítimas das enchentes."