Os 208 leitos que serão gerados com criação do Hospital Santa Ana – um acréscimo de 4,4% nas vagas do Sistema Único de Saúde (SUS) em Porto Alegre – têm por objetivo servir de retaguarda a hospitais com atendimento de alta complexidade, desafogando emergências. A instituição, fruto de parceria entre a prefeitura e a Associação Educadora São Carlos (Aesc), ocupará uma área construída no Hospital Espírita e deve iniciar atendimentos, de forma gradativa, em novembro.
Mais do que suprir um déficit, ressalta a Secretaria Municipal da Saúde, a ideia é mudar a gestão dos leitos. Coordenador da Atenção Hospitalar e Urgência da pasta, João Marcelo Lopes Fonseca afirma que o número insuficiente de vagas para o SUS na Capital "não tem como ser medido", apesar de a cidade atender aos parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS) – a orientação é que exista de 3 a 5 leitos a cada mil habitantes. A Capital tem 4,7.
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– Se a gente for ver a OMS, não tem déficit. Mas têm. A gente vê as emergências cheias. É só porque tem pacientes demais? Não. Também é porque as internações nos hospitais são excessivamente prolongadas – salienta Fonseca, acrescentando que o Santa Ana servirá como uma engrenagem "que vai aumentar o giro de todos os leitos da cidade".
– Por exemplo: aquela pessoa que já passou por algum procedimento cirúrgico e ainda precisa ficar internada será encaminhada ao Santa Ana. Isso sem prejuízo ao paciente, que terá excelentes condições de atendimento e acomodação. Assim, abre espaço para outros pacientes serem atendidos (nos hospitais de alta complexidade) – explica o coordenador.
Conforme o titular da Saúde, Erno Harzheim, a administração do hospital e as reformas ficarão a cargo da Aesc. O custo de R$ 4 milhões mensais para a manutenção será dividido meio a meio entre a entidade e a prefeitura:
– Grande parte dos R$ 2 milhões de responsabilidade da prefeitura vem de recursos do Fundo Nacional de Saúde, do governo federal, e uma parte menor do tesouro municipal. Também vamos produzir economia em áreas como exames de imagem, já que o Santa Ana contará com centro de diagnóstico por imagem para atender a toda a cidade.
O acordo entre o poder público e a Aesc, que também é responsável pelo Hospital Mãe de Deus, será oficializado na segunda-feira.
Entidades comemoram chegada da instituição
Fernando Weber Matos, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), destaca a importância da abertura de leitos de saúde mental:
– Temos uma dificuldade fora do normal para baixar doentes psiquiátricos em surto agudo, já que nos últimos anos não se teve o cuidado de ter leitos para atendimentos psiquiátricos.
O presidente da Academia Sul-riograndense de Medicina, Gilberto Schwartsmann, também se mostra entusiasmado, mas pondera a avaliação de Harzheim, que definiu o hospital como uma iniciativa para "resolver o problema de fluxo de pacientes do SUS na Capital".
– Com certeza, o novo hospital irá amenizar a situação, mas tenho dúvidas de que irá resolver de uma vez porque a dimensão do problema é um pouco maior. Vivemos no dia a dia a falência da saúde, temos visto a dificuldade crescente em conseguir internações e consultas em tempo hábil – diz Schwartsmann.
Estrutura prevista
– Unidade de Terapia Intensiva com capacidade para atendimento simultâneo de 20 pacientes
– 16 leitos clínicos
– 30 leitos de saúde mental
– 75 leitos de longa permanência
– 59 leitos de retaguarda
– 8 leitos de isolamento
– Centro de Recuperação Auditiva e Intelectual
– Equipe do programa Melhor em Casa (que faz o acompanhamento de pacientes em domicílio após a alta)