Uma perfuração no braço e uma lesão superficial nas costas causadas por uma chave de fenda, chutes em diversas partes do corpo e ameaças de ataque com uma faca de cozinha: esse é o saldo do passeio feito pela cantora transexual Valéria Houston com o namorado no último domingo, na Cidade Baixa, em Porto Alegre. A artista gaúcha - que já se apresentou em Paris, participou de programas televisivos e tem uma longa carreira em bares da Capital - relata que as agressões tiveram motivação homofóbica e não foram registrados pela polícia, que, segundo ela, se recusou a produzir boletim de ocorrência.
<BLOCKQUOTE cite=https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1535626019993191&id=100006374233427> Posted by Valeria Houston Barcellos on Segunda, 31 de agosto de 2015
FUI AGREDIDA POR UM HOMOFÓBICO NA REPÚBLICA ONTEM! Estávamos passeando luise eu,.por volta das 16:15 da tarde,sol...
De acordo com Valéria, ela e o marido caminhavam pela Rua da República por volta das 16h15min, quando foram insultados por um homem de cerca de 40 anos, negro, vestido de camiseta branca e jeans, que gritou palavras como "aberrações", "vocês têm que morrer", "traveco preto do inferno", "onde já se viu isso na rua?". Ainda segundo o relato da cantora, o casal teria parado e perguntado se os xingamentos eram para eles.
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- Ele respondeu "sim, para ti e para esse putão que está contigo" e veio se aproximando. Ele estava tirando uma chave de fenda da mochila, e eu fui para cima. Ele tentou cravar a chave de fenda nas minhas costas, mas acabou raspando, não conseguiu entrar. Meu namorado viu tudo, foi para cima dele e levou no braço. A chave de fenda quase atravessou. Eu fiquei apavorada, comecei a gritar, mas ninguém parou - conta Valéria, por telefone.
O agressor, então, teria tirado uma faca de cozinha da mochila e ameaçado o casal. Assustados, os dois teriam se afastado, enquanto o agressor prosseguia em direção ao Parque da Redenção, repetindo ofensas homofóbicas.
Valéria Houston tem longa carreira como cantora na noite porto-alegrense
Foto: Gelson Roldo / Divulgação
No Facebook, Valéria relata que teve de ir até o Centro para encontrar policiais. Segundo ela, os agentes foram encontrados no posto da Brigada Militar da Rua José Montaury, mas a ajuda não veio.
- O policial falou que não podia fazer nada por mim. Falei "é só ir atrás do cara e prendê-lo", mas ele falou que não podia me ajudar. Não consegui fazer o boletim de ocorrência por isso - conta.
Valéria diz que já entrou em contato com a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS), que deve oferecer assistência jurídica. Ela conta que achou que a resposta se devia ao aquartelamento de policiais após o parcelamento de salários. A capitã Martha Richter de Oliveira, responsável pelo policiamento da região central de Porto Alegre, diz que a corporação está trabalhando normalmente. Martha diz ainda que não pode abrir investigação com base em um post de rede social, mas se coloca à disposição de Valéria para tomar as medidas cabíveis:
- Militar estadual não tem direito a greve, estamos trabalhando normalmente. Se ela vier me procurar, identificar o policial, vou ouvi-la e investigar a situação. Mas, até agora, não tomei conhecimento formal sobre isso, então não tenho como investigar.
Depois do episódio, Valéria diz que se sente "impotente":
- Sinto-me refém da falta de apoio. Não tem nada que defenda a gente. Sem que a gente fizesse nada... Dava para notar muito ódio na voz dele. É gratuito.