Foi com uma pitada de ironia que lideranças políticas responderam, na manhã desta sexta-feira, às declarações do general Carlos Bolivar Goellner, comandante militar do sul, representante maior do Exército na recepção dos restos mortais do ex-presidente João Goulart, o Jango.
Em três declarações, Goellner afirmou que o recebimento dos restos mortais de Jango com honras de Estado, deferência que será prestada pelo Exército, não representa a correção de um erro histórico.
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Goellner ainda disse que estão sendo prestadas apenas as honras regulamentares, e disse que a instituição não tem "nenhuma ilação, nem contra nem a favor" de Jango.
- Faz bem o comandante em dizer isso. Ele acerta em citar o regulamento. A presidente manda e ele obedece - disse o senador Pedro Simon (PMDB), que esteve com Jango nos momentos que antecederam o golpe e, depois, no enterro dele, em 1976.
- Eu acho muito bom quando os militares falam só sobre regimento. Fez muito bem o comandante cujo nome eu não sei. Militar é para falar sobre regulamento, regimento, essas coisas. Política é para o povo falar e para os líderes políticos. É isso. Do ponto de vista do regimento, é um ato formal. Do ponto de vista do Brasil, é um grande acontecimento, cívico e emotivo - comentou o ex-deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB), outro que acompanhou o sepultamento de Jango em 76.
- Foi um enterro quase clandestino. O carro teve de vir por Uruguaiana, não podia ter velocidade de cortejo. Coisas que as ditaduras fazem. A população violou a ordem de velocidade acelerada de enterro. A população tomou o caixão do carro, colocou nos ombros, e caminhamos lentamente até o cemitério Jardim da Paz, onde Jango foi colocado pelas mãos do seu povo - recordou Ibsen.
Outro a comentar as declarações de Goellner foi o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que chegou ao aeroporto de São Borja perto das 11h, assim como Simon e Ibsen.
- João Goulart foi o único presidente da República que morreu no exílio e não teve direito a honras. O que se faz aqui é a correção de um grave erro histórico - afirmou Randolfe, que emendou fazendo a citação de um verso de Chico Buarque:
- A historia é um trem alegre que atropela todo aquele que a negue.
Recentemente, por iniciativa de Randolfe e Simon, foi anulada a sessão do Congresso do dia 2 de abril de 1964, quando foi declarada a vacância do cargo de presidente da República, consolidando o golpe militar.