O vice-prefeito de Bento Gonçalves, Mario Gabardo (PMDB), renunciou ao cargo na manhã de ontem. Em entrevista coletiva, na Câmara de Vereadores, Gabardo leu uma carta aberta dirigida à comunidade para explicar os motivos que o fizeram decidir deixar a administração municipal.
No documento, Gabardo diz que a proposta de melhorias para a sociedade bento-gonçalvense foi deixada em segundo plano pela atual administração municipal. Segundo ele, faltou, por exemplo, empenho para a construção do Centro Administrativo e houve descaso na busca de recursos para o Programa de Asfaltamento do Interior (PAI).
Por telefone, Gabardo disse ao Pioneiro que o mal-estar entre ele e o prefeito Guilherme Pasin (PP) iniciou-se no final do primeiro ano de governo devido à falta de compromissos de campanha e de gestão, como a realização de licitações para substituir empresas terceirizadas _ ele citou como exemplo a da coleta seletiva do lixo. Gabardo lembra que, no segundo ano da administração, houve a demissão do seu filho, César Gabardo, secretário de Governo nomeado pelo prefeito Pasin e que, este ano, é pré-candidato à prefeitura pelo PMDB. Gabardo afirmou que o conflito intensificou-se após ter de se transferir da sede da prefeitura para uma sala no prédio do Arquivo Histórico. Para o agora ex-vice, a pré-candidatura a prefeito de seu filho César geraria um conflito moral, e também por isso optou por renunciar ao cargo.
À tarde, Pasin também concedeu entrevista coletiva e fez uma prestação de contas das ações do governo nas áreas criticadas por Gabardo. Ele classificou a renúncia do vice como ação do "jogo político e democrático em projetos diferentes de governo". Pasin contestou a acusação de falta de diálogo com Gabardo.
_ Prefiro interpretar como se o vice não tivesse a compreensão das nossas ações de governo, além de a decisão (da renúncia do vice) estar temperada com o ano de eleição _ afirmou o prefeito.
Mesmo com a saída do PMDB do governo e a renúncia do vice, Pasin afirmou que não se arrepende da composição da coligação.
_ As pessoas mudam e os projetos individuais também _ disse o prefeito.
ENTREVISTA
'Moralmente, eu tinha que sair'
Pioneiro: Por que tomou a decisão de renunciar o cargo de vice-prefeito?
Mario Gabardo: Me sentia em um ambiente difícil de trabalhar. Tem a pré-candidatura do meu filho César e o PMDB vai fazer oposição. Moralmente, eu tinha que sair.
Quais foram os problemas de relacionamento entre o senhor e o prefeito Guilherme Pasin?
No final do primeiro ano, já vinha acontecendo alguns conflitos de compromissos de campanha e de gestão. Eu insistia na necessidade de fazer licitações para empresas terceirizadas, como da coleta seletiva do lixo. O secretário de Administração [Ivan Toniazzi] dizia que não era prioridade do prefeito Pasin. No segundo ano, meu filho, que era secretário de Governo e batia forte para que tivesse uma melhor gestão na área da saúde, acabou demitido. Daí em diante, começaram a me afastar de qualquer participação no governo. Me tiraram a sala, espaços em secretarias, nomeações, fiquei seis meses sem assessor. Em abril, recebi o pedido para me transferir para uma sala no prédio do Arquivo Histórico. Num ambiente desses, não tinha condições de atender aos pedidos da população.
O senhor se arrepende de ter participado da coligação com o PP?
Assumimos [compromissos] na campanha e o programa de governo em conjunto. Estou arrependido de ter estado junto e de não ter levado adiante as propostas que defendia, como a criação da Guarda Municipal. Estou arrependido de não ter tido sucesso naquilo que defendíamos.